Há severas contraindicações ao uso do petróleo como fonte primária de energia. A atividade petrolífera tem produzido crescentes ameaças à nossa atmosfera, ao mar, aos rios e aos lençóis freáticos. Tem havido episódios cada vez mais frequentes de agressões à vida humana e ao meio ambiente causados pelo despreparo e a ganância de empresas petrolíferas – aí incluída a Petrobras - além dos riscos crescentes na exploração, produção, transporte e refino de petróleo e seus derivados.
Cerca de 70% da geração de energia a partir do petróleo destina-se a movimentar máquinas de baixíssimo rendimento, as chamadas "máquinas burras" – os motores de combustão interna que movem automóveis, ônibus e caminhões – além, é claro, dos reatores dos aviões. Nessas máquinas, o rendimento mecânico não ultrapassa 30%. Rendimento mecânico é a relação entre a energia liberada na queima e a energia realmente utilizada pela máquina para produzir trabalho. Chega a ser cômico que na era da tecnologia ainda tenhamos máquinas com um perfil de rendimento tão pouco inteligente e que haja tão poucas opções práticas ao petróleo e seus derivados. Adicionalmente, é comum observar automóveis fabricados para o transporte de 4 ou 5 pessoas ocupados por somente um ou dois passageiros nas horas de maior movimento nas grandes cidades.
Todo esse imbroglio permite notar uma associação clara entre empresas de petróleo e fabricantes de veículos movidos a derivados de petróleo. Não se pesquisam outras fontes de energia para o setor por pressão desses poderosíssimos grupos empresariais com atuação global. Isto é assim há mais de um século.
No caso do pré-sal há ainda uma séria de questões não respondidas:
1. Existe de fato tecnologia para a produção de petróleo nas condições ali presentes?
2. São os números de volume de reservas do pré-sal realmente confiáveis?
3. Qual o fator de recuperação esperado para os reservatórios mais profundos?
4. Qual o custo de produção do petróleo do pré-sal?
A falta de resposta a cada uma dessas questões implica em aumento do risco do negócio. Sim, porque antes de ser uma questão patriótica, a exploração do pré-sal é um negócio e, portanto, tem de ser viável econômica e tecnicamente.
Por falar em custo de produção, é fora de questão que esse custo, no caso do pré-sal, será bastante superior ao do petróleo produzido em terra, em quantidades abundantes no Oriente Médio. Os países daquela região produzem petróleo a US$ 8 ou US$ 9 o barril. Este mesmo barril é negociado atualmente por algo próximo a US$ 100. Há grande margem, portanto, para os árabes manipularem o preço do mercado e, ainda assim, continuarem ganhando muito dinheiro. Uma simples redução no preço de mercado do petróleo inviabilizaria o pré-sal. Tomado em conta mais este fator, o risco da exploração do pré-sal aumenta ainda mais.
Há ainda outras questões que merecem avaliação. Vivemos numa sociedade que consome energia demais. Já citamos o exemplo dos atuais automóveis, caminhões e aviões. Porém, há muitos outros.
Nossa sociedade industrial gasta muita energia na produção de quinquilharias e a propaganda tem o papel de transformar essas quinquilharias em objetos de desejo de multidões.
Nossa sociedade industrial gasta muita energia na produção de bens que têm apenas uma função a mais ou uma tecla a mais que o modelo anterior, o que força o consumo também induzido pela propaganda..
Gasta-se muita energia na produção de bens que vão ter pouco uso ou que terão sua durabilidade limitada para induzir populações ao consumo de outro no menor prazo possível, os chamados “produtos descartáveis” tão conhecidos de todos nós.
Haveria ainda muitos exemplos do mau uso da energia em nossos tempos. Há que se reformar a maneira como utilizamos a energia disponível.
Há, finalmente, no Brasil, uma confusão entre petróleo e patriotismo. Um patriotismo superado, característico de hinos nacionais de países periféricos, inútil quando aplicado ao caso. Defender a Petrobras pura e simplesmente no negócio hoje em dia não faria o menor sentido para os tais patriotas se estes parassem para pensar. A Petrobras é uma empresa transnacional como tantas outras. A maioria de seus acionistas são pessoas e empresas de direito privado que sabem muito bem defender seus interesses. O Estado brasileiro não demonstra qualquer interesse em alterar esse quadro.
Assim, não há espaço para patriotismo neste quadro. Esse patriotismo deveria ser redirecionado para outras áreas onde o Brasil é bem mais carente.