PAIXÃO NA INTERNET

    Carlos Eduardo tinha os olhos perdidos no infinito. Ouvia o barulho do mar, e dos carros , buzinando alí na Av. Sernambetiba, aquela maravilhosa rodovia à beira mar que ficava na Barra da Tijuca, na cidade do Rio de janeiro. Um início de noite lindo. Tudo parecia mágico, transformando o viver fascinante.
    Passou a mão na cabeça, como que tentando esticar os cabelos longos que nasciam na sequência da sua brilhante careca. Olhos esverdeados, pareciam cansados. Colocou as duas mãos no parapeito da janela, suspirou, e lembrou de Maria Clara, sua paixão virtual que morava muma cidade bem longe dalí.
    Neste momento, Angela passou os braços em volta da sua cintura, sussurrando no seu ouvido aquela frase que foi dita há muitos séculos atrás, pela primeira vez, por uma india no ouvido do Pero Vaz Caminha :
    - Dois tostões pelo pensamento meu amor...
    - Pensando en nada minha querida...apenas no quanto você é gostosa. Um tesão de mulher. Mas nos temos que ir agora, porque eu ainda preciso trabalhar em casa. Vou tomar banho enquanto você se arruma. Depois você desce, entra no carro e me espera.
    No banheiro, Carlos discou o numero do celular de Maria Clara. O telefone tocou, tocou, e acabou na fria Caixa Postal. Deixou um recado, dizendo que estaria em casa dentro de duas horas, e que a amava muito. Feito isto, colocou o seu celular de volta a Caixa Postal.
    Algum tempo depois, Carlos estava na recepção do Hotel Praia Perdida, pagando a conta com o cartão de crédito de Angela, aparentando um certo fastio.
Enquanto isto tudo acontecia no Rio de Janeiro, nos arredores daquela cidade bem longe dalí, Maria Clara tinha os olhos fixos no horizonte, onde surgia o rosto místico de Carlos Eduardo. Era uma paixão louca, que nem ela entendia direito. Era forte. Seu coração palpitava. Incontrolável.
    Ela sentiu os braços de Vando envolverem a sua cintura, e sussurrando no seu ouvido, o mesmo disparou aquela frase que foi dita pela india do Pero Vaz Caminha:
    - Dois tostões pelo pensamento meu amor...
    - Pensando em nada meu querido...ou melhor, estou preocupada, porque o meu marido pode chegar a qualquer momento do trabalho, e eu não posso estar fora de casa nesta hora. Temos que ir embora. Vou tomar um banho amor.
    No banheiro, Maria Clara pegou o celular, e discou o numero do Carlos Eduardo. “Na maldita Caixa Postal”, exclamou ela. Deixou um recado, dizendo que estava acabando uma reunião, e estaria em casa dentro de duas horas mais ou menos.
Feito isto, desceu para a portaria do Hotel Paradise, pagou a conta, deixou o Vando em casa, e foi para o seu lar.
    Entrou em casa feito louca, jogou os sapatos longe, ligou o computador, e ficou esperando o monstro eletrônico entrar no ar.
    Conectou, foi direto para o MSN, depois para o #AmorEterno, no IRC, depois para o Orkut. Nada.
    “Que merda, não encontro esse cara”, exclamou.
    Ligou para o telefone da casa dele, para o celular e ninguem atendeu.
    Carlos Eduardo era ROMEU48, que na realidade tinha 56 anos e Maria clara era JULIETA41, que tinha 51 anos.
    Existia uma paixão muito forte entre eles. Dessas coisas que só acontecem no mundo virtual. Coisas loucas. Uma saudade real vivia esmagando o coração dos dois apaixonados. Se amavam de verdade. Estavam naquela fase que teclar não resolvia mais nada. Só a voz, pelo telefone conseguia aplacar a sede de amor dos amantes. Viviam um amor intenso e maravilhoso, e estavam sempre equilibrados na aresta vertiginosa da paixão louca.
    Carlos Eduardo entrou em casa, ligou o computador, conectou, e ao mesmo tempo telefonou para Maria Clara. Ela atendeu.
    - Amor, exclama ROMEU48.
    - Amor, grita JULIETA41..
    - Te amo, sussurra ROMEU48.
    - Te amo, diz JULIETA41 apaixonadamente.
    Conversaram sobre as atribulações que tiveram durante o dia, com as malditas “reuniões”, nas quais a saudade mútua tinha sido uma constante. Era sempre assim. Os dois estavam fazendo a sua descompressão. Aos poucos, a ansiedade ia terminando, dando lugar ao desejo incontido de se amarem. Era um tesão real. Muito forte. Diferente de todo o resto. Os dois estavam no MSN e no Orkut. . Falavam pelo telefone e teclavam no IRC.
    Foi quando ROMEU48 falou:
    - Amor ! Estou sentindo que a gente precisa se encontrar no mundo real. Isto aqui ficou muito pequeno para a nossa paixão. Tenho a sensação que vamos explodir, e não vai sobrar nada.
    - Isso mesmo amorrrrrrrr ... podemos nos encontrar naquele lugarejo que fica aqui pertinho. Dizem que lá tem um tal Hotel Paradise que é muito bom. Por fora é bem bonitinho. E discreto. Uma amiga minha já esteve lá e falou que é ótimo.
    Semana que vem estaremos lá, disse ROMEU48.
    “Jura”, exclamou JULIETA41 ?
    “Juro”, sussurrou ROMEU48.
    Depois disto, desligaram o MSN, o Orkut, desconectaram o computador da Net, e começaram a se amar pelo telefone. Sensações incríveis, inacreditáveis, percorriam os corpos dos amantes. Enlouqueciam. O prazer sem limites se transformava numa febre perigosa. Ela queimava primeiro a carne, depois a alma, e por fim, a inteligência.
    Eles estavam "atados" no emocionante mundo virtual.
    Maria Clara lembrou-se de uma crônica que tinha lido na Net, onde o autor falava sobre o mundo virtual, e que terminava assim:
    “[...]O longe que não existia, se transforma numa distância infernal. O atoleiro parece aumentar. Sem fim. Depois de muito andar, perdidos na solidão do desconhecido, encontramos o caminho da realidade perdida. Cansados e exaustos, olhamos em volta, e nada resta. Arranhados e chamuscados, fechamos os olhos, e lembramos do trajeto que fizemos. Uma ida alegre e prazeirosa, livre e descontraida. Cheia de emoções e esperanças. Coração a mil. Alma saltitante. Céu sem nuvens. Azul. Noites prateadas. O mundo encantador do surrealismo dos sentidos. Depois, sem mais nem menos, o declínio. A neblina densa e pesada. A perda de direção. O encontro com a vida nua e crua. A realidade. O fim.”
    No entanto, Romeu e Julieta tinham um amor inesquecível e unforgetable dentro de seus corações, que os tornariam felizes por toda a eternidade.
    THE END 

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