A fragilidade do discurso de Mantega

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Guido Mantega. Foto: Divulgação
A maior arma de um ministro da Fazenda é a palavra, maior até que a caneta. Cabe ao ministro traçar o cenário factível, organizar as expectativas, mostrar o futuro, principalmente em fases de transição, aquelas que exigem maior clareza no discurso.

A economia está em um desses períodos. Redução de taxas de juros, mudança (mesmo que insuficiente) na política de câmbio, pacotes de concessões, desoneração de investimentos, tudo isso delineia uma mudança de patamar da política econômica, com resultados positivos inevitáveis. A questão é o fator tempo, a defasagem entre as medidas e os resultados, o período de maturação no qual o discurso passa a ser cada vez mais relevante.

Há um conjunto de fatores conjunturais atrapalham a recuperação. A mudança do patamar do dólar acarretou prejuízos a grandes empresas, que serão compensados com os efeitos sobre a produção interna. Mas leva tempo. Do mesmo modo, há uma queda nos preços de commodities que adia investimentos.

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O ministro Guido Mantega positivamente não tem o domínio do discurso. Pior: não tem a percepção correta sobre como atuar nas expectativas empresariais.

Primeiro engano – a profusão de projeções otimistas sobre o PIB, desmentidas pelos fatos. No início de 2012, a própria área econômica trabalhava com a possibilidade de um PIB próximo dos 2%. Mantega insistia nos 4%. Era uma tolice clara. Se a economia batesse em 3%, já perderia a aposta.

A alegação de Mantega era a de que se não lançasse previsões otimistas, os empresários iriam investir menos e o PIB seria pior ainda. como se os empresários se deixassem emprenhar pelo ouvido com discursos vazios.

Segundo engano – mostrar sinais de pânico em momentos de tempestade. A cada notícia ruim da economia, o messiânico Mantega corre ao distinto público para anunciar a mesma projeção de PIB para o futuro e um conjunto de medidas adicionais de apoio à atividade produtiva. Em lugar das medidas serem entendidas como sinal de aposta no desenvolvimento, são vistas como colchas de retalho para tapar o buraco das expectativas não-atendidas.

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Terceiro engano – não conseguir desenvolver um discurso contextualizado. Desde o ano passado, há uma linha coerente de aposta na produção. Houve um corte histórico na política monetária, com o Banco Central pela primeira vez conduzindo, em vez de ser conduzido, as expectativas de mercado, uma aposta em concessões e parcerias. Mas o principal porta-voz econômico do governo não consegue transmitir esse quadro. Assim, cada medida anunciada passa a sensação da colcha de retalhos e de falta de rumos.

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O ex-presidente Fernando Collor tinha uma relação quase supersticiosa com sua ministra Zélia Cardoso de Mello. Parece que a presidente Dilma Rousseff tem esse mesmo sentimento com Guido Mantega.

Se for para mantê-lo, melhor algum remanejamento ministerial que devolva ao Planejamento o papel de formulador adicional de política econômica. Libere Gleise Hoffmann para sua campanha para o governo do Paraná; traga Mirian Belchior e o PAC de volta à Casa Civil; e entregue o Planejamento a um nome que possa ajudar na formulação e no discurso econômico.

Luis Nassif é jornalista econômico e editor do site www.advivo.com.br/luisnassifEste endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

** Publicado originalmente no site Carta Capital.

(Carta Capital)
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