Vejam como funciona a lei eleitoreira da oferta e da procura: o PT, cada vez mais, aprofunda seu caráter de garantidor do capitalismo burocrático na semicolônia Brasil e avalista da perpetuação do que há de mais podre no velho e reacionário Estado brasileiro. Com tanta "competência", cada vez mais aparecem interessados em desfrutar das maravilhas que o arrocho do povo trabalhador pode proporcionar para a grande burguesia. Reflexo disso é o aumento de exatos 353% nas doações ao partido no ano passado na comparação com 2009, tendo em 2011 (note-se: ano não eleitoral) alcançado a cifra de nada menos do que R$ 50,7 milhões.
A disparada do, digamos, "investimento" por parte do capital (financeiro, industrial, monopolista) nesse partido eleitoreiro — especialmente oportunista e tão vende-pátria como outros quaisquer — é ainda mais flagrante em comparação com quatro anos antes, em 2007, quando a arrecadação do PT com doações ao partido foi de "apenas" R$ 4,2 milhões.
Os maiores investidores do PT são grandes grupos de construção civil, bancos, monopólios do setor de energia e frigoríficos. A lógica da negociata eleitoreira é muito clara: só não vê quem padece da doença da infantilidade ou quem tem interesses particulares na perpetuação da "democracia" sufragista, com seus pleitos viciados disputados por testas de ferro dos maiores inimigos dos trabalhadores.
Isso sem contar os "pequenos" doadores. As denúncias de corrupção e fraudes da ordem de R$ 100 milhões no banco do Nordeste, que pipocaram nos últimos meses, constituem um caso que dá conta perfeitamente da lógica por trás do processo eleitoreiro em geral e das relações entre as classes dominantes parasitárias e as diversas frações do partido único que se alternam na administração "pública" em seus três níveis — federal, municipal e estadual — no âmbito das vantagens particulares que o velho Estado pode proporcionar.
DOAÇÕES RATEADAS ENTRE FRAÇÕES DO PARTIDO ÚNICO
No dia 11 de junho, a direção do BNB confirmou o afastamento do chefe de gabinete da presidência do banco, Robério Gress do Vale. Um promotor de justiça que cuida do caso explicou à imprensa como as fraudes aconteciam por meio de empréstimos tomados junto ao BNB: "O bem dado em garantia era bem menor do que o do empréstimo. O objetivo é que o banco tome esse bem para garantir o empréstimo".
Três empresas ligadas a cunhados de Robério do Vale teriam pegado R$ 11,9 milhões em empréstimos junto ao BNB em maracutaias que fraudaram o banco em quase R$ 30 milhões, no total. Segundo o mesmo promotor de justiça, "todos os sócios são filiados ao Partido dos Trabalhares. Todos faziam doações de campanhas para o PT e isso foi constatado nas investigações".
O Banco Cruzeiro do Sul, ora sob o resgate do Banco Central mesmo com indícios de gestão fraudulenta, doou R$ 2,1 milhões ao PT nacional em 2010, ano da "eleição" de Dilma.
As doações eleitoreiras constituem um belo indicador acerca de quem realmente dá as cartas por trás dos testas-de-ferro que se sucedem sob as alcunhas de "presidente", "governadores" e "prefeitos". Levantamento feito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostrou que 75% de todo o dinheiro dos gastos contabilizados na campanha eleitoreira de 2010, por exemplo, foram doados por empresas. Isso significa R$ 2,2 bilhões de um total de quase R$ 3 bilhões em doações. Metade dessas doações foi feita por apenas setenta empresas ou grandes grupos econômicos, mostrando que, acima de todos, quem manda de fato são os monopólios.
Além de tudo mais, a distribuição igualitária dos vultosos montantes de dinheiro oriundos de empresas e empresários e destinados aos cofres dos partidos eleitoreiros mais destacados — de acordo com o TSE, os empresários concentraram as doações em três partidos: PSDB (23,3%), PT (22,5%) e PMDB (18,1%) — atestam de maneira inapelável o fato de que esses partidos adversários de urnas constituem na verdade apenas frações do partido único que, periodicamente, disputam entre si o direito de gerenciar o país, os estados, os municípios, com o mesmo programa antipovo debaixo do braço.