Dedo na ferida

536B8 247x300 Dedo na feridaAs declarações da presidente Dilma Rousseff, em Cuba – quando indagada sobre direitos humanos – irritaram os que esperavam encurralá-la, obrigando-a a acatar a ótica da Casa Branca contra o regime. Dilma então desmascarou a iniciativa, denunciando-a como política de dois pesos e duas medidas. Disse que a questão dos direitos humanos tem que ser tratada de forma multilateral e não apenas como arma política contra um eventual adversário, pois todos têm “telhado de vidro”. Citou o caso da prisão de Guantânamo. Um caso evidente e escandaloso de violação dos direitos humanos e do ordenamento jurídico internacional.

Barbárie
Guantânamo é a maior aberração política da atualidade. É um centro explícito de tortura (denunciado pelo próprio Obama na campanha eleitoral passada) e seus prisioneiros não estão sob nenhum estatuto jurídico, já que os norte-americanos se recusam a aplicar-lhes suas leis, embora dominem a área sob a qual a prisão se encontra (que pertence por direito a Cuba). No mínimo, poderiam julgá-los pela lei cubana. Os nazistas pelo menos submetiam seus prisioneiros ao formalismo de sua perversa legislação. Os norte-americanos regrediram, nesse ponto, ao tempo da barbárie, do pré-Estado de Direito. Os críticos de Dilma pouco se indignam com esse quadro vergonhoso, nem com o assassinato de cem mil civis só no Iraque.

Mediocridade
Inaceitável para a consciência democrática a negação da autorização para a blogueira cubana Yoani Sánchez deixar Cuba para uma viagem ao Brasil. Os burocratas do regime deveriam ter mais inteligência e não praticar tal burrice. Ainda que a blogueira venha sendo manipulada pela hipocrisia dos falsos defensores dos direitos humanos (veja-se o Iraque e Guantânamo), um regime que mostra tal fraqueza perde o pouco de crédito que ainda restava quando critica os disparates da direita conservadora e sua insensibilidade diante da questão social. Ou Cuba vai para a democracia direta (não representativa), e se torna um ponto de referência de vanguarda, ou desaparecerá mergulhada na mediocridade burocrática, isolada de seus antigos admiradores.

Surpresa
A opinião pública brasileira foi gratamente surpreendida (pois tudo parecia perdido) pela derrota (6×5) da corrente do STF que queria despojar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de seus poderes de iniciativa investigativa. Desta vez, Gilmar Mendes não quis enfrentar a condenação da opinião pública democrática do país. Graças a essa mudança de posição, foi possível a vitória do senso democrático. A nova ministra do STF, Rosa Maria Weber cobriu o desfalque representado pela posição decepcionante do ministro Luis Fux – desta vez ele pisou na bola. Os debates também reiteraram a tese de que nem sempre a descentralização é fator de avanço. No Brasil, historicamente, ela tem servido mais aos interesses das oligarquias locais do que aos da nação.

Crédito eleitoral
Não contribui para a informação do eleitor centralizar as atenções apenas no perfil do candidato. O principal é saber quais os tipos de interesses se agrupam em torno de sua candidatura. Algum segmento econômico o apoia, e por quê? Trata-se de um interesse legítimo? Isto é o que precisa ficar bem claro. Mais do que isso: qual a posição do candidato sobre questões que envolvem confrontos entre grupos de interesses divergentes? Na hora de dar a palavra final, vai prevalecer a vontade de grupos econômicos ou os da população? Este é o xis da questão. O eleitor de hoje é mais exigente e quer identificar o que está em jogo para poder se posicionar. O discurso fácil de diagnosticar o problema todo mundo tem. O principal é saber se o compromisso do candidato com tais ou quais interesses grupais vai lhe permitir centralizar os recursos naquilo que é mais do interesse da população.

* Valdemar Menezes é jornalista e analista político.

 

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