O aprofundamento da crise sistêmica do capitalismo coloca para o movimento comunista internacional um conjunto de complexos desafios.
Estamos diante de um estado de guerra permanente contra os trabalhadores, uma espécie de "guerra mundial", na qual o grande capital busca sair da crise colocando o ônus na conta dos trabalhadores. Esta é uma guerra diferente das anteriores, que tinham como centro disputas interimperialistas.
Apesar de persistirem contradições interburguesas e interimperialistas na atual conjuntura, as grandes potências (sobretudo os Estados Unidos e os países hegemônicos da União Européia) promovem hoje uma guerra de rapina contra todos os países periféricos, sobretudo aqueles que dispõem de riquezas naturais não renováveis e contra todos os trabalhadores do mundo.
A guerra é o principal recurso do capitalismo para tentar sair da crise: ativa a indústria bélica e ramos conexos, permite o saque das riquezas nacionais e a queima de capitais; os capitalistas ganham também com a indústria da reconstrução dos países destruídos.
Em meio à simultânea ocupação e destruição de diversos países nos últimos anos (Iraque, Afeganistão, Líbia), já começam a preparar as próximas agressões: a Síria e o Irã se destacam na atual fila. Todos os países vítimas são criteriosamente escolhidos segundo objetivos estratégicos hegemonistas.
Os métodos são sempre os mesmos: satanização, manipulação, estímulo ao sectarismo e a divisões entre nacionalidades, cooptações, criação ou supervalorização midiática de manifestações e rebeldias, atentados de falsa bandeira.
Daqui a algum tempo, poderemos estar diante de uma invasão de um país que, no dia de hoje, pareça-nos improvável.
Na guerra permanente, pelo menos nesta fase, têm sido poupados os chamados países emergentes, sócios minoritários do imperialismo, que legitimam a política das grandes potências, compondo, como atores coadjuvantes, o chamado Grupo dos 20. Seus mandatários aparecem na fotografia que simboliza o consenso entre os parceiros, mas as grandes decisões são tomadas em fóruns reservados, de que nunca se tem notícia.
Estes países emergentes (os chamados BRICS) se têm beneficiado da crise, na medida em que ajudam a superá-la; em seguida, poderão ser as próximas vítimas tanto da crise como de agressões militares. Fazem o jogo de linha auxiliar do imperialismo, como na omissão vergonhosa em relação à invasão da Líbia. Só levantam a voz quando algum interesse nacional é ameaçado. Caso contrário, lavam as mãos.
Em nosso país, nunca os banqueiros, as empreiteiras, o agronegócio e os monopólios tiveram tanto lucro. A política econômica e a política externa do estado brasileiro estão a serviço do projeto de fazer do Brasil uma grande potência capitalista internacional, nos marcos do imperialismo. As empresas multinacionais de origem brasileira, alavancadas por financiamentos públicos, já dominam alguns mercados em outros países, notadamente na América Latina.
Já a guerra contra os trabalhadores independe da classificação do país. É levada a efeito nas grandes potências, nos países emergentes e nos periféricos.
Em meio a esta grave crise e sem a consolidação ainda de um importante pólo de resistência proletária, o capital realiza uma violenta ofensiva para retirar dos trabalhadores os poucos direitos que lhes restam. Para fazê-lo, tentam cada vez mais fascistizar as sociedades, criminalizar os movimentos políticos e sociais antagônicos à ordem. A correlação de forças ainda nos é desfavorável. Ainda sofremos o impacto da contra-revolução na União Soviética e da degeneração de muitos partidos ditos de esquerda e de setores do movimento sindical.
Analisando este quadro, o PCB tem feito algumas reflexões.
- A nosso juízo, não há mais espaço para ilusões reformistas. Aliás, os reformistas, mais do que nunca, são grandes inimigos da revolução socialista, pois iludem os trabalhadores e os desmobilizam, facilitando o trabalho do capital. Em cada país, as classes dominantes forjam um bipartidarismo - em verdade um monopartidarismo bicéfalo - em que as divergências, cada vez menores, se dão no campo da administração do capital. Como não conseguem gerenciar a crise, aqueles que fazem o papel de oposição de turno invariavelmente vencem as eleições seguintes. É o que chamam de "alternância de poder".
- Perdem sentido projetos nacional-desenvolvimentistas, não só porque é impossível desligar as economias capitalistas locais da esfera do imperialismo como também porque há cada vez menos contradições entre este e o núcleo hegemônico das chamadas burguesias nacionais.
- Cada vez também faz menos sentido a "escolha" de aliados no campo imperialista e mesmo entre seus coadjuvantes emergentes, como se houvesse imperialismo do "bem" e do "mal". A diferença é apenas na forma, não no conteúdo. Isto não significa subestimar as contradições que vicejam entre eles.
- Não podemos conciliar com ilusões de transição ao socialismo por vias fundamentalmente institucionais, através de maiorias parlamentares e de ocupação de espaços governamentais e estatais. O jogo da democracia burguesa é de cartas marcadas. A luta de massas, em todas as suas formas, adaptada às diferentes realidades locais, é e continuará sendo a única arma de que dispõe o proletariado.
- Por mais bem intencionados que sejam, correm risco de esgotamento político os processos de mudanças progressistas baseados em líderes populares carismáticos, se esses processos não avançarem na construção do duplo poder, na destruição gradual do estado burguês e na autodefesa popular e de massas.
Temos avaliado também que o atual modelo de encontros de partidos comunistas e operários, que vêm cumprindo importante papel de resistência, precisa se adaptar às complexas necessidades da conjuntura mundial, com suas perspectivas sombrias no curto prazo e suas possibilidades de acirramento da luta de classes, com a emergência das lutas operárias.
Pensamos que é preciso romper com o "encontrismo" em que, ao final dos eventos, nossos partidos decidem a sede do próximo encontro e se despedem até o ano seguinte, inclusive aqueles dos países da mesma região.
Para potencializar o protagonismo dos partidos comunistas e do proletariado no âmbito mundial, é necessária e urgente a constituição de uma coordenação política que, sem funcionar como uma nova internacional, tenha a tarefa de organizar campanhas mundiais e regionais de solidariedade, contribuir para o debate de ideias, socializar informações sobre as lutas dos povos.
Mas, para além da indispensável articulação dos comunistas, parece-nos importante a formação de uma frente mundial mais ampla, de caráter antiimperialista, onde cabem forças políticas e individualidades progressistas, que se identifiquem com as lutas em defesa da autodeterminação dos povos, da paz entre eles, da preservação do meio ambiente, das riquezas nacionais, dos direitos trabalhistas, sociais e políticos; contra as guerras imperialistas e a fascistização das sociedades. Em resumo, as lutas em defesa da humanidade.
Deixamos claro que o nosso Partido valoriza qualquer forma de luta. Não podemos cair no oportunismo de fazer vistas grossas ao direito dos povos à rebelião e à resistência armada. Em muitos casos, esta é a única forma de fazer frente à violência do capital e de superá-lo. Os povos só podem contar com sua própria força.
Neste marco, concluímos nossa intervenção saudando os povos que hoje enfrentam as mais duras batalhas. Saudamos os trabalhadores gregos e portugueses que já se levantam em greves nacionais e grandes jornadas e os demais trabalhadores da Europa, que enfrentam terríveis planos do capital para tentar superar a crise, hoje mais acentuada no continente europeu e que poderá agravar-se e espalhar-se para outros países e regiões.
Saudamos o povo palestino, em sua saga duradoura e dolorosa no enfrentamento ao sionismo que o sufoca e reprime, ocupa seu território, derruba suas casas, prende seus melhores filhos e impede seu direito a um Estado soberano.
Da mesma forma, saudamos os também sofridos povos do Iraque, do Afeganistão, da Líbia. Saudamos os povos do Egito, do Iêmen e de vários países árabes, em sua luta contra a tirania e a opressão.
Saudamos os sírios e iranianos, contra os quais já batem os tambores de guerra do imperialismo. Sua resistência pode barrar os planos do sinistro consórcio EUA/OTAN/Israel para o Oriente Médio, a África, a Ásia e o mundo em geral.
Chegando até nossa América Latina, saudamos nossa querida Cuba Socialista em sua luta contra o cruel bloqueio ianque. Saudamos nossos Cinco Heróis. Saudamos os processos de mudanças concretas na América do Sul (Venezuela, Bolívia e Equador), neste momento decisivo, uma encruzilhada entre o avanço dos processos ou sua derrota.
Saudamos o povo colombiano que, nas cidades e nas montanhas, resiste, através de variadas formas de luta, contra o estado terrorista de seu país, a grande base militar norte-americana na América Latina, um dos regimes mais sanguinários do mundo.
Concluímos nos associando à proposta de realização de nosso próximo encontro anual no Líbano, em pleno Oriente Médio, palco principal das guerras imperialistas neste período.
Desde já, reiteramos nossa proposta de criação de coordenações políticas internacionais e regionais dos Partidos Comunistas, tendo como princípio fundamental o internacionalismo proletário.
Atenas, 10 de dezembro de 2011
PCB - Partido Comunista Brasileiro
- Jornal O Rebate