Delfim Netto
O futuro é opaco e se nega a ser decifrado. Mesmo quando explorado pelas melhores inteligências apoiadas nos mais recentes modelos e torturado com as mais recentes técnicas econométricas, ele se recusa a confessar qual o caminho que tomará. Essa realidade e a prudência levam a comportamentos defensivos.
As autoridades responsáveis pela política econômica devem pesar cuidadosamente os riscos alternativos sem deixar-se imobilizar, mesmo porque não há caminho de custo zero. Os analistas, para preservar a credibilidade, procurarão acertar (ou errar!) juntos.
Estamos num momento grave. Com a conivência dos governos, construíram-se “inovações” financeiras cujas consequências foram ignoradas.
Alguns economistas foram ridicularizados pelos que detinham o poder político porque apontaram, inadvertidamente, os perigos que as “inovações” embutiam.
O resultado dessa aventura explodiu quando a miopia dos bancos centrais dos Estados Unidos (o Fed), da Inglaterra e da Comunidade Econômica Europeia, permitiu a liquidação desordenada do Lehman Brothers.
Ignoraram a rede construída pelas “inovações” e seus abusos. De fato, como confessou Alan Greenspan –que durante 18 anos foi el maestro e agora é demonizado–, “ninguém sabia o que estava acontecendo”.
A chamada “grande moderação” (alto crescimento e baixa inflação), na qual surfaram os bancos centrais, nada tinha a ver com eles. O mundo vive o rescaldo da crise financeira que ainda não terminou.
O grave é que os instrumentos disponíveis (a política fiscal e a monetária) esgotaram os seus efeitos no mundo desenvolvido sem restabelecer o “circuito econômico”, cujo funcionamento depende da confiança dos trabalhadores, dos empresários e do sistema financeiro.
Paradoxalmente, o mundo precisa agora do ritmo de crescimento dos países emergentes. As notícias não são boas.
Vencidos dois terços de 2011, a perspectiva de crescimento no ano dos países desenvolvidos é da ordem de 1,4% (contra 2,6% em 2010) e dos emergentes da ordem de 5,4% (contra 7,3% em 2010), o que sugere um crescimento global da ordem de 2,5%, com viés de baixa (contra 3,9% em 2010).
Mesmo a China e a Índia começam a dar sinais de fadiga.
Toda essa tragédia sugere que o vento de cauda que ajudou o crescimento do Brasil com o modelo exportador agromineral induzido pela China, está terminando.
Se quisermos crescer à taxa de 4,5% a 5% nos próximos anos, devemos complementá-lo e dar especial atenção ao nosso mercado, com um programa que fortaleça a poupança e a competitividade internas e dê inteligente proteção externa, como luta para realizar o governo Dilma.
* Delfim Netto é economista, formado pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de Economia, foi ministro de Estado e deputado federal.
** Publicado originalmente no site EcoD.
(EcoD)