O significado de direitos iguais e universais para o MNS!

Três fatos recentes estão co-relacionados com o título. Primeiro, no dia 13 de maio passado foi realizada em S. Paulo (SP) a II Reunião Nacional do Movimento Negro Socialista (MNS). Segundo, neste evento foi apresentado o livro “Divisões Perigosas – Políticas raciais no Brasil contemporâneo” de autoria de integrantes da Frente Única (FU) que une ao MNS intelectuais, artistas e sindicalistas. Terceiro, em 12 de julho último foi publicado no jornal da imprensa burguesa britânica The Guardian o artigo “Brasil é futuro onde só haverá uma raça” do historiador Timothy Garton Ash. Fruto de pesquisa feita no bairro suburbano carioca Cidade de Deus, o artigo do historiador inglês é oportuníssimo para o debate acerca do tema que intitula este texto. 

Comecemos então pelo slogan “Racismo e Capitalismo são as duas faces da moeda” do MNS que defende uma sociedade estruturada em direitos iguais e universais, sem exploradores e explorados assim como sem opressores e oprimidos. Em contraposição a isto, no Brasil quase todo o Movimento Negro (MN) e alguns integrantes da FU defendem as políticas de Ações Afirmativas (AAs) com diversificadas denominações como discriminações positivas, reparações ou leis civis para promoção de suposta igualdade;  mas não os direitos iguais e universais como princípios, consequentemente não têm como finalidade superar as sociedades estruturadas na propriedade privada dos meios de produção que são as causadoras da opressão racista sobre os negros e as negras.


Historiador traz de volta os conceitos de “raça” humana e de “democracia racial”.

No Brasil, não bastasse o mal-disfarçado dogma da manutenção das estruturas das sociedades capitalistas que são feitas por alguns integrantes da FU e quase todo o MN, quando defendem as AAs. No jornal inglês, o artigo do historiador Timothy Garton Ash faz a mesma coisa, tendo se encantado com a miscigenação que constatou através de pesquisa dita “científica”. Ele traz de volta para o debate os velhos e nefastos conceitos de “raça” humana e de “democracia racial”. Antes de analisá-los, observemos as curiosas traduções do nome do historiador: Timothy é erva do prado, capim. Garton não tem tradução. Ash é cinza, resto mortal. Um saudoso humorista diria “Fala Sério”.   
Ao narrar sua pesquisa realizada no bairro suburbano Cidade de Deus situado na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, o historiador inglês afirma “vi cada matiz e variedade de rostos, algumas vezes numa mesma moradia”. Segundo ele, o Brasil é um país onde as pessoas celebram como atributo nacional sua riqueza de miscigenação. Adiante, em seu texto o historiador é crítico “entretanto, até hoje a realidade é que a maioria dos não-brancos está em pior situação econômica, social e educacional em relação aos brancos”. Segundo Ash, parte desta desigualdade é resultado da discriminação racial. Neste caso específico, concordamos com o historiador inglês.
Pára aí, nossa concordância com o historiador. Ele - que ao longo de seu artigo se revela um defensor das AAs - diz ter vindo ao Brasil para pesquisar sobre pobreza, desigualdade e exclusão social, mas em poucos minutos, as pessoas falaram de “raça”. Por causa disto, o historiador passa a fazer aquilo que, em regra, os chamados “especialistas”, “intelectuais” ou “cientistas” fazem que é buscar fórmulas para a defesa do dogma da manutenção das sociedades estruturadas na propriedade privada dos meios de produção. Para tanto, ele traz para o debate das cotas para negros em universidades públicas os velhos e nefastos conceitos de “raça” humana e de “democracia racial”.
Para tanto, o historiador inglês afirma que um estudo “científico” estima que cerca de 85% da população brasileira que se autodefine como “branca” têm 10% de genes africanos. Daí, ele indaga como encontrar “objetividade” em um país que “inventou” 134 termos diferentes para se autodescrever no censo? Ele próprio dá os números do que define como método tradicional brasileiro: 50% se consideram “brancos”, 40% “pardos”, 06% “negros”, 01% “amarelos” (asiáticos). Reacionário assumido, o saudoso escritor, dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues diria em relação ao historiador inglês o que foi dito sobre o falecido economista da direita nacional Roberto Campos, trata-se de um idiota da objetividade!   
O historiador inglês inicialmente demonstra estar indeciso para apoiar leis raciais brasileiras como a de cotas universitárias para negros, por isto ele ressalta “como não-brasileiro, não estou à vontade para julgar os argumentos contrários às cotas com base na cor da pele; por outro lado, vejo a dura realidade herdada da discriminação racial que precisa ser resolvida”. Ele, então procura ser mais explícito, afirmando “no passado brasileiro, as pessoas tenderam a se definir do lado mais ‘claro’ do espectro social, especialmente à medida que se tornavam mais prósperas. Se leis raciais como das cotas resultarem em mais pessoas preferindo se considerar negras, que assim seja”.
O historiador prossegue “depois de tantos séculos de escravidão, faria sentido colocar um pouco de peso do outro lado. E se isto significar que um dia uma garota que todos considerem branca vir a requisitar sua entrada na universidade como negra, boa sorte para ela”. Concluindo ele diz “espero que o Brasil caminhe para transformar em realidade seu velho mito da ‘democracia racial’; ao invés de retornar às classificações raciais anacrônicas, que reduzem identidades complexas a atributos específicos. Pelo que descobri no Brasil, essa é também uma antecipação do nosso futuro, em um mundo onde as pessoas estarão cada vez mais miscigenadas”.
*jornalista, coordenador de Formação Política e Organização do MNS.

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