Numa conjuntura farta de lambanças no Senado e das articulações de Lula para evitar a degola do oligarca Sarney, o anúncio da candidatura de Marina Silva à presidência da República é o principal acontecimento político dos últimos meses. Simbolicamente – com as devidas diferenças de contexto histórico e conjuntural –, Marina representa hoje o que Lula representou no final dos anos setenta. Ocupa o lugar da utopia, que um dia foi de Lula.
A candidatura de Lula em 1989 e na década seguinte, representou a ascensão irresistível do movimento social brasileiro que havia sido represado pelo golpe militar de 1964. Lula manifestava o desejo profundo por mudanças e representava o conjunto das forças populares, do movimento operário ao camponês, da intelectualidade às lutas nas periferias.
A novidade agora, que não se colocava com força na conjuntura da década de 80, é que qualquer projeto radicalmente alternativo de sociedade não pode desconsiderar a questão ecológica. A questão ambiental revela-se um tema cada vez mais central. Emerge com intensidade crescente a consciência de que há uma relação vital entre a saga da vida, em especial, da vida humana na Terra e a própria sobrevivência do Planeta.
É esse sentimento que Marina representa e que Lula não incorporou. O governo Lula, tributário de um jeito de pensar e agir preso às categorias da sociedade industrial nunca deu importância para a agenda ambiental. Nessa perspectiva, Marina é a novidade na política nacional. Representa a possibilidade de um projeto distinto ao de Dilma e Serra. Nesse sentido Marina é pós-Lula. As candidaturas de Dilma Rousseff e de José Serra significam uma continuidade ao projeto pós-Consenso de Washington de Lula. Porém, ao mesmo tempo em que a candidatura de Marina Silva é uma novidade, traz consigo limitações e contradições como veremos mais a frente.
O convite para a candidatura veio do Partido Verde (PV). Já faz algum tempo, o partido assedia Marina Silva. Dessa vez o partido apresentou uma pesquisa em que a ex-ministra aparece até com 14% na disputa presidencial. "É uma supercandidata. Ela superou todas as nossas expectativas", avalia um membro da cúpula do PV. Segundo o cientista político David Fleischer, da UnB, Marina tem potencial para começar acima dos 10%: “Sua candidatura tem forte apelo no eleitorado preocupado com o meio ambiente. Ela partiria de um patamar de 10% a 15% dos votos”.
Na pesquisa qualitativa do PV, a senadora é identificada como "defensora da natureza", de "questões ambientais de extrema importância no longo prazo", e representaria uma "mudança nas práticas políticas". A boa imagem de Marina em temas ambientais destoa da opinião dos eleitores em relação aos dois principais candidatos ao Palácio do Planalto. A ministra Dilma Rousseff aparece, segundo a pesquisa do PV, como uma alternativa "reativa" e "desenvolvimentista atrasada". Já, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), é identificado à defesa "elitista da indústria paulista".
Logo após o convite, a senadora pediu tempo para pensar, mas sinalizou para o desfecho do convite: confidenciou a um colega que não teria se reunido com o PV se não estivesse muito tentada a aceitar o convite.
O convite feito a Marina criou um alvoroço no PT. A senadora recebeu uma bateria de telefonemas dos mais altos dirigentes do partido menos de Lula. Quem conhece Lula, avalia que ele só chamaria Marina para conversar caso tivesse certeza prévia de um resultado positivo. A própria senadora deixou claro que mesmo um pedido pessoal de Lula dificilmente a demoveria: “Tenho o maior respeito e relação de companheirismo com Lula. Servi durante cinco anos, cinco meses e catorze dias ao governo dele. Não colocaria nenhum tipo de condicionante a isso, pois estou fazendo uma reflexão. Todas as pessoas que estão sabendo disso e que me conhecem, sabem que não se trata de um processo fácil. Mas a história se faz por homens e mulheres que se dispõem a transformá-la. Essa transformação não prescinde a contribuição do sujeito”.
O presidente do Partido, Ricardo Berzoini, apesar da investida para que Marina permanecesse no partido, já manifestava sua desolação: "Se depender de mim, vou segurá-la no PT. Mas, para casar, precisa a decisão de duas pessoas. Para separar, só de uma”.
A senadora foi para o Acre, lugar de onde saiu para se tornar mundialmente conhecida, para as últimas consultas. Foi lá que acabou confirmando mais por gestos do que por palavras o que todos já sabiam. “Durante as 32 horas que permaneceu em Rio Branco (AC) para ouvir familiares, amigos e aliados políticos a respeito do convite para trocar o PT pelo PV, o comportamento da senadora Marina Silva (PT-AC), ex-ministra do Meio Ambiente, deixou em todos os interlocutores a certeza de que será mesmo candidata a presidente da República”, afirma o jornalista Altino Machado que há anos acompanha a trajetória da senadora.
Numa longa reportagem o jornalista destaca que “foram horas marcadas por ansiedade, choro e ranger de dentes. Em várias ocasiões, a senadora e seus aliados não conseguiram controlar a emoção. Choraram ao relembrar de fatos que foram permeados por apelos para que permaneça no PT”. Porém, a disposição de se desfiliar do PT para estabelecer uma nova fase na sua trajetória política, ficou claro ao afirmar para seus companheiros no Acre: “Vocês não precisam me acompanhar”.
O atual governador do Acre, Binho Marques do Partido dos Trabalhadores, a quem Marina Silva considera o maior amigo de sua vida, segundo Altino Machado, desistiu de dissuadi-lá a não deixar o PT: “Tenho que ser sincero: a luta da Marina tem ganhado um projeção cada vez maior no cenário nacional e mundial. Nós não temos a menor possibilidade de pressioná-la para mudar o que pensa e faz”, disse ele.
Os apelos públicos, assim como os "gestos de carinho", continuarão nos próximos dias, mas, em privado, a maioria dos caciques petistas avalia que Marina Silva está de cabeça feita e irá mesmo deixar o partido para disputar a Presidência pelo PV.
O rompimento de Marina com o clã ‘Da Silva’
“Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima é a cara de Lula”. Quem afirma é a jornalista Maria Cristina Fernandes, invocando a trajetória de vida de Marina em paralelo a de Lula. Segundo ela, “Marina é a imagem do presidente no espelho. Um dos 11 filhos de um casal de nordestinos emigrados para o Acre, analfabeta até os 14 anos, empregada doméstica para poder estudar e sobrevivente a sucessivas malárias, Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima é a cara de Lula. ‘Ela é do clã Da Silva’, resume o jornalista acreano Altino Machado”.
Marina Silva sempre nutriu profunda admiração por Lula. Desde a época em que militava ao lado de Chico Mendes e ajudou a organizar o partido no Acre. As inúmeras decepções com Lula vieram já no seu governo quando exerceu o cargo de ministra. Quando assumiu o ministério, Marina já era uma referência nacional e internacional na área ambiental. Referência que cresceu ainda mais com o tempo.
A senadora já recebeu dez prêmios internacionais, ganhou dezenas de prêmios e medalhas nacionais e já foi escolhida, pelo jornal britânico The Guardian, em 2007, uma das 50 pessoas em condições de ajudar a salvar o planeta. Um dos últimos prêmios recebidos foi no mês de junho. Na Noruega recebeu da Fundação Sophie, um troféu e US$ 100 mil "por sua coragem, criatividade, habilidade de fazer alianças e sobretudo pelos resultados alcançados na luta pela preservação da Amazônia. Foi o quarto prêmio internacional que recebeu após deixar o governo.
A experiência de Marina no ministério foi conturbada. Acumulou sucessivas derrotas até a demissão forçada. Ao mesmo tempo em que colecionava prêmios no exterior, internamente no ministério do meio ambiente Marina colecionava derrotas.
Perdeu quase todas as batalhas no governo. Perdeu no tema dos transgênicos, perdeu na queda de braço que envolveu o Ibama no caso das licenças ambientais para o complexo do Madeira. Perdeu na batalha ideológica da transposição do S.Francisco. Sucumbiu ao projeto de privatização da Amazônia, perdeu no debate sobre a retomada do programa nuclear. Sobre o etanol nunca foi ouvida, travou uma luta titânica para proteger a biodiversidade da Amazônia e do Pantanal do plantio da cana-de-açúcar – uma de suas poucas vitórias, comprou brigas duras com o agronegócio e quase nunca obteve solidariedade do presidente.
A gota d’água para a sua demissão foi a decisão de Lula de entregar a condução do Plano de Amazônia Sustentável (PAS), ao então ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger. A notícia soou como uma bomba nos ouvidos da então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Até então, articuladora do plano, considerava natural e óbvio que coubesse a ela a função de coordenar ações que envolviam diretamente a questão ambiental. Pior ainda, numa atitude de acentuado desprestígio de Marina no governo, a ministra sequer foi comunicada pelo governo da decisão. Foi a última a saber. A bancada ruralista festejou a saída da ministra.
Lula sempre considerou que Marina travava a liberação de licenças ambientais para as obras do PAC. Ao final do primeiro mandato, Lula já tinha como certo a necessidade de substituir Marina para destravar as grandes obras de infra-estrutura. Marina Silva vinha trombando com Dilma Rousseff, e na escolha entre o ambientalismo e o desenvolvimentismo, Lula nunca titubeou, ficou sempre com o segundo.
A visão de Lula sobre as restrições da legislação ambiental em contraponto ao crescimento econômico ficou conhecidíssima em suas falas em tom jocoso sobre os “bagres”, “pererecas” e “pacus”.
A jornalista Maria Cristina Fernandes relata um acontecimento revelador da deselegância de Lula para com Marina Silva. Conta a jornalista: “No final de abril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a Cruzeiro do Sul (AC) para inaugurar as obras do novo aeroporto e dar início às da ponte sobre o rio Juruá. Ao lado dos irmãos Jorge e Tião Viana e do governador Binho Marques (PT), fez um discurso em que citou oito vezes o nome do seringueiro Chico Mendes. Ausente da cerimônia, a senadora Marina Silva (PT-AC) não foi citada pelo presidente, mas seus olheiros registraram no discurso uma referência indireta à ex-ministra do Meio Ambiente”.
A jornalista reproduz o discurso de Lula: "A gente está fazendo um túnel no Rio Grande do Sul (...) Esse túnel tem mil e poucos metros, e encontraram ao seu lado uma perereca. Todo mundo aqui sabe o que é uma perereca. Pois bem, e aí resolveram fazer um estudo para saber se aquela perereca estava em extinção. Aí teve que contratar gente para procurar a perereca, e procure perereca, e procure perereca... Sabem quantos meses demorou para descobrir que a perereca não estava em extinção? Sete meses, a obra parada. Eu espero que aqui no Acre não apareça nenhuma perereca na ponte do rio Juruá", disse o presidente.
Segundo a jornalista, “Cruzeiro do Sul sempre foi um eleitorado difícil para Marina. Adversário político da senadora, o ex-governador Orleir Cameli, que tem na cidade seu berço político, chegou a abrir a pista do aeroporto para que a população impedisse o avião de Marina, em campanha, pousar. Levou anos para que a senadora petista conseguisse reverter a imagem cultivada por Cameli de que ela era uma inimiga do progresso. Não é difícil imaginar por que os aliados de Marina, ao ouvirem o presidente entoar a saga da perereca naquela cidade, o tenham considerado deselegante com a senadora”.
Entretanto, a maior desilusão da ministra Marina Silva no governo foi a arrasadora derrota do seu conceito de transversalidade. O conceito da "transversalidade" proposto pela ministra, eixo fundante de sua ação no ministério, sugeria que a temática ambiental estivesse no cerne de todas as decisões do país e permeasse todas as deliberações políticas.
Por detrás da concepção de transversalidade está a idéia de que a questão ambiental não pode ser tratada apenas como mais uma política pública, mas que em função da crise ecológica se tornou a questão premente e mais importante sob a qual todas as demais deveriam estar circunscritas. Como define a própria Marina Silva, a defesa do meio ambiente deve ser vista no mesmo plano do desenvolvimento econômico, num processo de "governança ambiental". "Uma não pode estar subordinada à outra", diz ela.
Entretanto, o conceito da "transversalidade" foi atropelado por outro - o do "desenvolvimentismo". O conceito do "desenvolvimentismo" está associado, por um lado, ao papel do Estado como indutor da economia e, de outro, na premissa que o crescimento econômico tudo justifica e que tudo o mais deve estar submetido a sua lógica.
O conceito “desenvolvimentismo” é originário dos anos 50 e está ligado aos governos Vargas e JK e até mesmo aos militares, períodos em que o Brasil cresceu de forma acelerado a partir de investimentos pesados na infra-estrutura. Na conjuntura atual, a síntese do "desenvolvimentismo" é o PAC, um conjunto de grandes obras de infra-estrutura para alavancar o crescimento econômico do país.
Lula nunca esconde de ninguém que gostaria de reeditar o governo JK. Porém, a emergência da crise ecológica tornou o debate em relação ao "desenvolvimentismo" mais complexo. Hoje, construções como as usinas de Itaipu, Balbina e Tucuruí, para ficar apenas em algumas obras - responsáveis por verdadeiros desastres ecológicos – enfrentariam resistência semelhante a que enfrenta a construção da hidrelétrica de Belo Monte.
Acerca do embate entre “transversalidade” e “desenvolvimentismo”, opinou Washington Novaes em entrevista à revista IHU On-Line: "a ministra, Marina da Silva, do meio ambiente falou muito em transversalidade, ao se referir ao fato de a questão ambiental permear todas as áreas do governo. Mas isso não aconteceu. As outras áreas não tomaram conhecimento disso. A ministra foi derrotada na questão dos transgênicos, (...) foi derrotada na questão de importar pneus usados do Uruguai, foi derrotada na questão de exportar álcool para outros países para reduzir a poluição deles e reduzir a proporção de álcool na gasolina aqui, aumentando a poluição aqui. E agora na questão desse plano de aceleração do crescimento que vai ambientalmente na direção oposta que ele deveria ir".
É nesse contexto de atropelamento à agenda ambiental, do qual a MP 458 foi uma das últimas iniciativas, que o movimento ambientalista caracterizou o governo Lula como um “governo anti-ambiental”.
Em função do que foi destacado anteriormente, compreende-se a decisão da ex-ministra Marina Silva em candidatar-se à presidência. Por um lado, a ministra foi praticamente expelida pelo governo que em determinado momento passou a vê-la como um estorvo. Por outro, a senadora está convencida de que há espaço para o debate de um projeto de Nação que incorpore a agenda ambiental.
Segundo ela, “a questão de desenvolvimento sustentável é um desafio enfrentado por todos os países e economias. Lamentavelmente, ao longo desses anos todos, os partidos políticos não levaram isso como algo estratégico. Não é algo que não está em apenas um partido, não está em nenhum. Não se trata de crítica (ao PT). No Brasil já avançamos no marco regulatório, temos que colocar em prática”, afirma.
“Eu sou movida a sonhos e determinação. Nesse aspecto não tem cálculo pragmático imediatista. Quero discutir ideias, visão de mundo, de país”, disse a ex-ministra em outro momento.
O projeto: ‘Eu me mobilizo para o avivamento da utopia’
"As reações até agora escamotearam o essencial: Marina representa ideias e aspirações compartilhadas por milhões de brasileiros", escreve Alfredo Sirkis, vereador pelo PV no Rio de Janeiro e antigo militante do movimento ambientalista. Segundo Sirkis, “milhões de brasileiros sensíveis à causa ecologista, à sustentabilidade ambiental e social de nosso modelo econômico, aos destinos do planeta ameaçado pelo aquecimento global, à devastação de nossos ecossistemas e à qualidade de vida nas nossas cidades vivem na expectativa de dispor de uma voz própria, eloquente, na campanha presidencial - até agora arena exclusiva dos defensores do desenvolvimentismo clássico dos anos 60”
Marina Silva defende a tese de que a defesa do meio ambiente deve ser vista no mesmo plano do desenvolvimento econômico, num processo de ‘governança ambiental’: "Uma não pode estar subordinada à outra", diz ela. A própria senadora esclarece: “Nós temos que buscar fazer essa inflexão nos modelos de desenvolvimento, nas economias dos diferentes países, fazendo com que governos e partidos, acadêmicos, formadores de opinião, se comprometam com essa agenda e coloque-a no centro do debate. Mas não como algo em oposição ao desenvolvimento, mas como parte integrante da mesma equação. Esse é o desafio. Ou isso acontece ou nós vamos chegar em meados do século com a constatação de que a gente pode ter inviabilizado as possibilidades de vida na terra”.
É este espaço que Marina poderá preencher. O espaço da consciência de que vivemos no Planeta Terra e não temos outro lugar para onde ir, de que somos cidadãos do mundo e fazemos parte de uma comunidade humana que tem um destino comum.
No Congresso de abertura da CUT, Marina Silva, deu o tom do debate que pretende estabelecer no país. Segundo a senadora, “o desvio do desenvolvimento sustentável vem sendo construído no Brasil há pelo menos 30 anos, como vereda aberta à base de conhecimento novo, experimentos locais de sucesso e modelos institucionais ainda restritos, mas de grande potencial para ganhar escala nacional. Tem a consistência e a força da construção coletiva paulatina que, num determinado momento, não mais mero desvio, disputa o leito principal”.
O “desvio” a que se refere a senadora é um conceito de Edgar Morin ao afirmar que no "começo, as grandes mudanças são apenas um pequeno desvio de percurso". Aliás, nesse contexto Morin invoca a necessidade da “ecologia da ação”: “Desde o momento em que um indivíduo empreende uma ação, qualquer que seja ela, esta começa a escapar de suas intenções. Ela entra num universo de interações e finalmente o meio ambiente apossa-se dela num sentido que pode se tornar contrário ao da intenção inicial. Com freqüência a ação retorna em bumerangue sobre nossa cabeça”, escreve Morin no livro Introdução ao pensamento complexo (Porto Alegre: Sulina, 2005, p. 80-1).
Há poucos dias, questionada sobre o lançamento de sua candidatura, a senadora à postulou no contexto de um movimento, um movimento que relance a utopia: “Eu me mobilizo para o avivamento da utopia para a economia do século XXI”.
Marina diz buscar projeto político com envergadura ambiental: “Eu sou movida a sonhos e determinação. Nesse aspecto não tem cálculo pragmático imediatista. Quero discutir ideias, visão de mundo, de país. Candidatura é fruto de um processo, não à priori. Fiquei de pensar e discutir com algumas pessoas. Não é fácil para mim essa discussão, mas não vejo como ela não tenha que ser feita, porque ninguém está fazendo com a envergadura que precisa ter. Alguém tem que começar, colocando como estratégico. Meio ambiente pode dar significado novo à política”.
Segundo Marina, a sua candidatura não é um fim em si mesmo. “Se existe alguém que não começou tendo a eleição como um fim em si mesma somos nós numa trajetória de 30 anos no PT. Tivemos que perder muitas vezes para que se pudesse ganhar. Se tivéssemos feito o cálculo pragmático, eu nunca teria saído candidata nem para vereadora de Rio Branco. Então a questão não é meramente eleitoral, mas do movimento que se pode colocar em curso. Essa é a reflexão que estou fazendo. Não estou subordinando isso a qualquer pesquisa de opinião ou qualquer outra coisa, com uma candidatura”, afirma.
A ex-ministra destaca que “a questão da candidatura está posta porque nessa agenda tem a disputa eleitoral e ela é importante e estratégica e precisa assumir isso no centro do debate de todos os partidos. As pessoas sempre acham que qualquer movimento que se faz é para ser contra alguma coisa. Meio ambiente reelabora a política porque é o movimento que se pode fazer a favor. Ser a favor da proteção das florestas é bom para todo mundo, assim como ser a favor da redução das emissões de carbono, de uma agricultura que seja sustentável, o que é bom para a própria agricultura e para a balança comercial. Essa interpretação de que a política só se faz pela negação está sendo reposicionada pelo meio ambiente. É possível fazer política pela a afirmação, para criação daquilo que ainda não existe em país nenhum. O Brasil, por ter as melhores capacidades, pode fazer essa inflexão. É isso que mobiliza”.
Sobre a candidatura de Marina, Sirkis comenta: “Numa dimensão minimalista, teríamos uma campanha altamente instrutiva e educativa, não apenas naquele discurso clássico, defensivista, do ambientalismo (deter a destruição da Amazônia e de sua biodiversidade, a contribuição das suas queimadas em emissões de CO2 etc.) mas também na didática daquilo que as vertentes hegemônicas do desenvolvimentismo clássico não conseguem perceber: o futuro econômico e social do Brasil, hoje, depende de mergulharmos de cabeça numa economia verde!”.
No contexto de sua candidatura pelo PV está também colocada a necessidade da revisão programática do partido: “Nenhum partido hoje assimila a questão do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável como parte estratégica de seus programas. Com o PT não é diferente. O valor que tem a discussão no PV é a disposição de colocá-la como fundamental. O PV é um partido que surgiu há mais de 20 anos na Europa com uma plataforma verde e foi com esta visão que veio de lá para o Brasil. Eles entendem que agora é hora de fazer o movimento do Sul para o Norte. Esta discussão atual, de conteúdo, é importante. A defesa do meio ambiente não deve ser algo em si mesmo mas permear todos os aspectos da vida econômica, política, social. A necessidade de preservar tem que estar integrada à dinâmica do desenvolvimento”, afirma Marina.
“Estão trabalhando no conteúdo programático, em reestruturar o partido, em horizontalizá-lo. Eles mesmo reconhecem que o PV tem estrutura vertical, estão buscando novos filiados para ter candidaturas verdes em todo o país, querem ampliar a base parlamentar no Congresso com parlamentares comprometidos com a causa ambiental”, destaca a senadora.
Limites e contradições da candidatura de Marina Silva
Afirmávamos no início dessa análise que a possível candidatura de Marina Silva é a grande novidade da política nacional nos últimos tempos. A novidade reside no fato de que a sua candidatura é a manifestação de algo novo na sociedade mundial e brasileira: a emergência da agenda ambiental. Como vimos, a temática ambiental cada vez mais ocupará o centro do debate político em todo o mundo e escamoteá-la significará a médio prazo, suicídio político.
Por outro, lado, a intuição de Gramsci de que “o velho está morrendo e o novo ainda não nasceu”, é mais do que nunca atual para apontar os limites e as contradições da candidatura de Marina Silva. Se por um lado, inscrever a agenda ambiental com força num projeto de nação é a novidade – o “novo”; o “velho” é que terá que fazê-lo através de velhas estruturas. Estruturas que por sua lógica interna procuram sufocar o “novo”.
Atentemos para o fato de que a questão ambiental foi trazida a tona pelo movimento social – o movimento ambientalista. Os partidos, tributários da sociedade industrial, nunca assimilaram a agenda ambiental, se o fazem é mais por oportunismo, com as devidas exceções, do que efetivamente por convencimento ideológico. Esse fato também diz respeito ao PV.
Registre-se que o PV é um partido que acumula a maioria dos problemas existentes nos demais partidos: falta de base social, burocratismo, ausência de conteúdo político, caciquismo, etc. No PV, Marina Silva terá que conviver com Sarney Filho, filho de José Sarney que controla o seu Estado e o Senado como um feudo. A única prefeita de capital do PV é Micarla de Souza, eleita em Natal com o apoio do senador Agripino Maia (DEM-RN). No Rio, o nome mais nacional do partido, o deputado Fernando Gabeira, quase virou prefeito com o apoio de DEM e PSDB e em São Paulo, o PV é aliado de primeira hora do governador José Serra (PSDB), que lhe entregou a Secretaria de Meio Ambiente da prefeitura, onde o ex-petista Eduardo Jorge permanece até hoje.
“O risco é se repetir com a Marina o que aconteceu com o Gabeira no Rio. Ele cresceu com o apoio da direita — disse Joaquim Soriano, integrante do diretório nacional do PT”.
Se fossemos realizar um rigoroso levantamento das direções estaduais e municipais do PV, chegar-se-ia a conclusão de que em muitíssimos locais está ocupado por políticos tradicionais, ou está ocupado por prevenção – pratica usual na política nacional – pelas elites que hegemonizam a política local. Nesses dias de intenso debate da possível candidatura de Marina Silva à presidência anunciou-se também que Gilberto Gil poderia vir a ser o seu vice. Mas Gilberto Gil é uma novidade?
As observações anteriores apenas registram que a jornada de Marina Silva rumo a uma candidatura presidencial não será nada fácil. A novidade programática terá que conviver e superar o pragmatismo político.
Ligação entre as CEBs e Marina Silva
A trajetória biográfica de Marina Silva se cruza com os caminhos da Igreja, mais especificamente das CEBs. Ela nasceu em 1958 no Seringal Bagaço, a cerca de 70 quilômetros de Rio Branco, no Acre. Aos 15 anos foi levada para a capital, com uma hepatite confundida com malária. Teve a proteção do então bispo do Acre, d. Moacyr Grechi, que a acolheu na casa das irmãs Servas de Maria. Queria ser freira. Analfabeta, foi matriculada no Mobral - o ambicioso projeto de alfabetização do governo militar.
Levada à vida política e social pela Igreja Católica, Marina acabou por ter contato com obras marxistas quando entrou na Universidade. Ali, entrou para o Partido Revolucionário Comunista (PRC), tendência que se abrigava no PT, sob o comando do deputado José Genoino (SP). A tendência política não existe mais. Hoje, além do meio ambiente, Marina dedica-se à Igreja Assembleia de Deus, à qual se converteu.
Essa relação é tão forte que mereceu inclusive destaque na Carta escrita pelos participantes do Encontro das CEBs, realizado em Porto Velho. Ela participou do 12º Encontro Intereclesial das CEBs e em dado momento deu um testemunho de vida. Diz a carta: “Marina Silva, senadora pelo Acre e ex-ministra do Meio Ambiente, contou sua caminhada de menina analfabeta do seringal para a cidade de Rio Branco e de lá para São Paulo, mas principalmente sua incessante busca, a partir da fé herdada de sua avó, alimentada pela experiência das CEBs, da leitura da Palavra de Deus e pelo exemplo de Chico Mendes, de bem viver e de colocar-se publicamente a serviço, em favor do povo amazônida”.
Encontro Intereclesial das CEBs e ecologia
O 12º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) aconteceu entre os dias 21 e 25 de julho, em Porto Velho, RO, e teve como tema “CEBs – Ecologia e Missão” e o lema é “Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia”. Depois do Fórum Social Mundial (FSM), do III Fórum Mundial de Teologia e Libertação, que aconteceram ambos em Belém, no começo deste ano, agora foi a vez do Encontro das CEBs acontecer na região amazônica.
Este encontro teve algumas novidades, que não podem passar desapercebidas. A primeira, é justamente o tema do Encontro: a ecologia. Para tratar desse assunto, nada mais apropriado do que mergulhar na região amazônica. É a primeira vez que a questão ecológica emerge como tema principal dos Encontros. Vê-se nisso uma sensibilidade e uma abertura das comunidades eclesiais para uma questão que é relativamente nova, mas que granjeou, em pouco tempo, a atenção de todos. A escolha desse tema significa uma mudança em relação aos temas anteriormente tratados, como lembra o teólogo José Oscar Beozzo: “Neste Intereclesial na Amazônia, a ênfase deslocou-se para os diferentes desafios no campo ecológico e o empenho dos integrantes das CEBs nos movimentos ecológicos, seja nos que respondem aos cinco clamores da Amazônia (grito dos povos indígenas, ribeirinhos, imigrantes; o grito da terra; o grito das águas e o grito das florestas), seja nos que vêm das outras grandes regiões do país”, disse na entrevista especial à IHU On-Line.
Referindo-se à questão do tema do Encontro, Luiz Ceppi, um dos organizadores, destacou a pertinência e a amplitude do mesmo: “Temos que refletir sobre qual é o nosso jeito de trabalhar para não entrarmos, como a maioria entra, no sistema de consumo, ferindo a mãe terra só para possuir um pouco mais. Se, pelo menos, as pessoas que participarem voltarem às suas regiões dizendo que a terra é uma mãe que precisa ser cuidada, o resultado já será ótimo”.
A consciência sobre a questão ecológica foi se criando e fortalecendo dentro da Igreja ao longo dos últimos anos. As Semanas Sociais Brasileiras – especialmente a partir da segunda, que aconteceu em julho de 1995 – vão testemunhando essa emergência. Já em 1992, o Setor Pastoral Social da CNBB publica o livretinho “A Igreja e a questão ecológica” que recolhe as reflexões realizadas no Seminário sobre “Ecologia e Desenvolvimento”, realizado pela CNBB naquele mesmo ano. Mas, antes disso, a Campanha da Fraternidade de 1979, com o lema “Preserve o que é de todos”, já trata do assunto.
Pode-se dizer que 30 anos depois, o tema, marginal, no começo, foi progressivamente ganhando relevância dentro da Igreja à medida que também foi se transformando em um assunto vetorial da nossa sociedade, num contexto de crise civilizacional, em que os modos de produção e de consumo, assentados sobre uma visão de crescimento econômico ilimitado e infinito, estão dando sinais de esgotamento.
“Na pauta das discussões está o equívoco de uma civilização que contrapõe desenvolvimento e natureza, gerando um desequilíbrio que prioriza o primeiro à custa da degradação da segunda. Num dos pratos dessa falsa balança, estão as empresas e corporações que mercantilizam e esgotam a terra, e também estão os governos federal, estaduais e municipais, com obras gigantescas que privilegiam os grandes e sacrificam os pequenos. Vista como uma zona de sintropia – para usar uma expressão dos especialistas – a Amazônia assiste à depredação da riqueza e da beleza de suas águas, biodiversidade e energia (os três maiores alvos do sistema capitalista que vigora como pensamento único em muitos gabinetes)”, reflete Jelson Oliveira, professor de Filosofia da PUCPR, agente da CPT-PR e assessor do 12º Encontro Intereclesial das CEBs.
Uma segunda novidade está no fato de o Encontro ter proporcionado uma imersão na realidade local. A programação contemplou um dia de visitas para que as mais de três mil pessoas pudessem mergulhar no mundo amazônico. “As pessoas partiram para se encontrar com comunidades ribeirinhas, com comunidades extrativistas, da periferia da cidade, com comunidades afro-descendentes e indígenas, com ocupações urbanas e assentamentos rurais. Foram também aos hospitais, às prisões, a casas de recuperação de pessoas com dependência química ou com deficiência, para visitar gente que sofre. Os participantes puderam tomar o pulso diretamente da realidade amazônica”, lembra o José Beozzo.
A iniciativa foi louvada pelo padre Beozzo. “Nunca aconteceu nos outros intereclesiais de se dedicar um dia inteiro para as pessoas tomarem contato com as realidades locais. Ninguém voltará com um discurso abstrato, mas, sim, com uma experiência muito concreta de algumas dessas realidades da região amazônica. Oferecer essa oportunidade aos delegados e à própria população local foi extremamente importante e rico”, destacou.
O enorme desconhecimento que recobre a região amazônica justifica essa ação, assim como a colocação em prática do método das CEBs, o ver-julgar-agir. Como disse dom Moacir Grechi, arcebispo de Porto Velho, “a Amazônia só é conhecida folcloricamente ou por interesses econômicos. O povo, em geral, não conhece a região, do bispo até o coroinha. Está sendo muito importante receber essas pessoas, principalmente a gente do povo, participando de diálogos, de visitas a grupos indígenas, a comunidades rurais, de periferia, prisões, hospitais”.
Ou, como destacou outra vez o padre Beozzo, “os organizadores souberam introduzir todos os delegados no coração da experiência dessa região, começando pela celebração de abertura, que foi no início da estrada de ferro Madeira-Mamoré, em cuja construção no coração da floresta amazônica, milhares de pessoas morreram. Ela marcou o auge do ciclo da borracha na região amazônica que arrastou para a região meio milhão de migrantes nordestinos, em especial cearenses tangidos pelas grandes secas e fome que se abateram sobre a região”.
Ver a realidade dos povos amazônicos e ver como está sendo tratada a natureza. Sob este aspecto torna-se extremamente interessante a leitura de alguns dos relatos que foram feitos por quem esteve por lá e viu. Fazemos menção ao relato feito por Antonio Cechin e Jacques Alfonsin, respectivamente irmão marista e advogado, quando de sua visita ao Rio Madeira, na altura das obras da hidrelétrica Santo Antonio.
A imersão teve o sentido de não apenas fazer ver a realidade, mas também ouvir os gritos que do interior desta realidade sobem. E, como explica dom Moacir Grechi, são “muitos” os gritos que vêm da Amazônia. “Aqui os gritos são muitos: é o grito das populações indígenas dizimadas e das suas terras exploradas – a madeira de lei das terras indígenas é roubada vergonhosamente sem que ninguém seja punido, pelo contrário; depois temos a problemática dos rios contaminados pelo mercúrio; temos o problema da criação extensiva de gado, e com isso é a floresta que cai; tem a soja, câncer da nossa região, que está subindo, e a mata cai e o ambiente se vai. Não se pode dizer que a Amazônia está urbanizada quando a metade da população não tem água tratada, não tem esgoto, não tem nem sanitário, às vezes. Esses são os gritos da Amazônia. Mas há também um grito de reação, de esperança, nada de desgraça definitiva.”
O ver e o ouvir a realidade, implicam na denúncia das violações, destruições e sofrimentos perpetrados contra todos os seres vivos e que ameaçam o equilíbrio da Terra, nossa “Casa comum”. “Vimos nossa Casa ameaçada pelo desmatamento, com o avanço da pecuária, das plantações de soja, cana, eucalipto e outras monoculturas, sobre áreas de florestas; pela ação predatória de madeireiras, pelas queimadas, poluição e envenenamento das águas, peixes e humanos pelo mercúrio dos garimpos, pelos rejeitos das mineradoras e pelo lixo nas cidades. Encontra-se ameaçada também pelo crescente tráfico de drogas, de mulheres e crianças e pelo extermínio de jovens provocado pela violência urbana”, destaca a Carta às Irmãs e aos Irmãos das CEBs e a todo o Povo de Deus.
Esses gritos foram sistematizados em cinco gritos no decorrer do Encontro, como mostra o Jelson Oliveira: o grito dos povos, o grito da terra, o grito das águas, o grito das florestas e o grito da cidade. Cada um desses gritos foi ouvido, acolhido, refletido, e objeto de compromissos, pelo que se pode depreender da Carta do Encontro.
Um terceiro elemento a ser destacado deste Encontro é a presença marcante dos grupos indígenas. Estiveram presentes 38 nações indígenas. A sua presença é importante na medida em que representam um contraponto à nossa cultura ocidental. Aprender com a sua cultura implica em relativizar aspectos da nossa e encontrar caminhos comuns de cuidado, que abrangem a vida em sua totalidade.
A Amazônia está se convertendo na última fronteira de exploração de recursos naturais. Por isso, de acordo com o sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, os problemas de outras partes do Brasil estão sendo “empurrados” para a Amazônia. Ele explica: “Agora mesmo, para tirar o Brasil de um déficit energético e aumentar exportações, o governo abre a Amazônia para as hidrelétricas, fecha os olhos ao desmatamento, faz de conta que os povos indígenas nem existem, libera as mineradoras, enfim, faz tudo por um punhado de dólares”.
Neste contexto, continua Pedro Ribeiro, “os movimentos sociais que proclamam ‘um outro mundo possível’ nos interpelam a sermos mais firmes na busca de mudanças socioeconômicas estruturais capazes de romper com a lógica do lucro que rege a economia capitalista. Olhando para nossos vizinhos, vemos que temos muito a aprender com eles”.
As CEBs têm um papel importante e indispensável, qual seja, a de avançar “na construção de uma nova forma de consciência, forma que podemos chamar de planetária por ser intimamente relacionada com a vida da Terra. Na medida em que as CEBs formulam e difundem essa consciência de sermos todos parte da grande comunidade de vida, elas criam um novo patamar de onde se pode ver a crise atual sob nova perspectiva. Em lugar de múltiplas crises, perceber uma única crise: a crise do sistema produtivista-consumista regido pela lógica do mercado capitalista”, lembra Pedro Ribeiro.
A Carta dos participantes do Encontro destacam também as ações que estão sendo desenvolvidas, muitas delas com a participação de pessoas ligadas às CEBs, com vistas a fazer frente aos desafios ecológicos: “Constatamos, com alegria, a multiplicação de iniciativas em favor do meio ambiente, como a de humildes catadores de material reciclável, no meio urbano, tornando-se profetas da ecologia e as de economia solidária, agricultura orgânica e ecológica”, faz notar a Carta.
Entretanto, não se pode esquecer de alguns contrasensos presentes na prática do dia-a-dia, conforme nos faz lembrar o padre José Beozzo: “Assistimos, porém, no final da celebração de abertura, um contrasenso em relação à preocupação ecológica do encontro. Foram distribuídos em sinal de fraterna partilha, bombons de cupuaçu e castanha do Pará. Logo depois havia um mar de papeizinhos de bombom atirados no chão, sujando todo aquele espaço da celebração. Então, os cuidados começam por não sujar a natureza, não jogar lixo no chão. É preciso reduzir o lixo e reciclá-lo da melhor forma possível. Há questões pequenas e concretas, ao lado de grandes lutas, como o desmatamento e a preservação das águas e matas”.
E concluímos esta parte da análise com as frases de dom Moacir Grechi. “Deus não planta árvores, Ele planta sementes. Assim também as Comunidades Eclesiais de Base são tão escondidas e pequenas, que nós nem damos valor a elas, humanamente falando. Mas tem um provérbio africano, que fala justamente sobre a ação das comunidades de base urbanas e das florestas, que são formadas de gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares não importantes, mas conseguindo mudanças extraordinárias. Elas são formiguinhas que, pouco a pouco, com seu testemunho pessoal e de comunidade, conseguem grandes feitos, como mudar a mentalidade dentro da Igreja”.
Um grito irrompeu para dentro das CEBs para que pudessem se abrir e acolher os gritos que vem da Amazônia, da questão ecológica, grito esse que quer ecoar em todos os cantos deste país e em todas as dimensões.
O encontro das sensibilidades em torno da questão ecológica por parte das CEBs e da ex-Ministra Marina Silva, que já tem o seio eclesial como fator comum anterior, permitem uma sinergia muito grande. Por essa razão, caso realmente a sua candidatura se confirmar, são grandes as chances de ela ter muitos votos cebsianos.
Conjuntura da Semana em frases
Marina, presidente!
"Estou fazendo uma reflexão profunda, pensando em projetos e ideias associados aos desafios do desenvolvimento sustentável para todas as dimensões da vida” – Marina Silva, senadora – PT-AC, adminitindo, pela primeira vez, publicamente, que pode, sim, sair do PT e migrar para o PV, que a convidou para concorrer à Presidência da República – Folha de S. Paulo, 05-08-2009.
"Se depender de mim, vou segurá-la no PT. Mas, para casar, precisa a decisão de duas pessoas. Para separar, só de uma” – Ricardo Berzoini, presidente do PT – O Globo, 05-08-2009.
“Nós não temos causa, a causa que nos tem” — Marina Silva, senadora (PT-AC), sobre o peso do tema do meio ambiente em suas decisões políticas – O Globo, 09-08-2009.
"Não estou fazendo cálculos. Se eu ficasse calculando tempo em programa eleitoral, jamais teria sido candidata. Você sabe que já fui candidata com um tempo de um minuto, que tinha que ser dividido com o Chico Mendes" – Marina Silva, senadora – PT-AC – Blog da Amazônia, 06-08-2009.
"Estou recebendo vários e-mails do movimento ambientalista, pedindo que eu me candidate” - Marina Silva, senadora – PT-AC – Folha de S. Paulo, 07-08-2009.
“A possibilidade de Marina da Silva candidatar-se à presidência da República brilha como um facho de luz na escuridão. É o mínimo que se pode dizer ao surgir essa possibilidade” – Roberto Malvezzi, Gogó, assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT – EcoDebate, 07-08-2009.
“A Heloísa Helena, com as limitações que tinha, ocupou um espaço enorme; imagina o potencial da Marina” – dirigente do PT – O Globo, 08-08-2009.
"Ela detesta a Dilma [Rousseff]" – de um dirigente do PT sobre a possível saída de Marina Silva do partido para disputar a sucessão – Folha de S. Paulo, 06-08-2009.
“Não é bom para nós. Ela (Marina) não tem voto na direita” — José Múcio, ministro das Relações Institucionais, sobre a candidatura a presidente de Marina Silva pelo PV – O Globo, 11-08-2009.
“Surgiu na internet o movimento Marina Silva Presidente, de “cidadãos por um Brasil democrático e sustentável”. Já tem 3.125 adeptos (entre eles, o cientista político Luiz Eduardo Soares e o cineasta Walter Lima Jr)” – Ancelmo Gois, jornalista – O Globo, 11-08-2009.
“A direção do PV já articula a refundação do partido. Ela começará com um expurgo” – Ilimar Franco, jornalista – O Globo, 11-08-2009.
* Conjuntura da Semana. Uma leitura das “Notícias do Dia” do IHU de 05 a 12 de agosto de 2009Notícias do Dia’ publicadas, diariamente, no sítio do IHU. A presente análise toma como referência as ‘Notícias’ publicadas de 05 a 12 de agosto de 2009. A análise é elaborada, em fina sintonia com o IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT – com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.