1964 – O ANO QUE O GIGANTE VIROU ANÃO – FINAL

A necessidade de derrubar o governo constitucional de João Goulart foi percebida pelos norte—americanos logo após as eleições de 1962 e a extraordinária vitória do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, no antigo estado da Guanabara. Brizola assestara um forte golpe no principal líder da direta no País, o governador Carlos Lacerda, dentro de seu quintal. Fez barba, cabelo e bigode. 

Com a vitória de Brizola era certa a ruptura da aliança PSD/PTB que juntava todos os grupos getulistas. O presidente do PSD era o genro de Getúlio, Amaral Peixoto e o PTB estava em mãos de João Goulart, herdeiro político direto do ex-presidente Vargas. Posto dessa forma a candidatura Brizola à presidência da República em 1965 era líquida e certa.
Os votos à direita seriam pulverizados entre o ex-presidente Juscelino Kubistchek e o governador Lacerda. As chances de Magalhães Pinto, governador de Minas, derrotar Lacerda dentro do partido de ambos, a UDN eram remotas. E o quadro ficaria pior se Magalhães resolvesse sair por conta própria noutro partido.

Como a constituição de 1946, que vigia à época, não estabelecia o princípio de maioria absoluta, o presidente ou os governadores, eram eleitos por maioria simples (fato que fora usado por Lacerda para tentar impedir a posse de JK em 1955), as chances de Brizola eram imensas, mesmo porque a esquerda havia ganho importantes posições no resto do Brasil, dentre elas Pernambuco com o governador Miguel Arraes.

O espectro da revolução cubana rondava a Casa Branca que entendeu e decidiu que um país com as dimensões continentais do Brasil não poderia sair da órbita de Washington.  O controle da América Latina era fundamental no contexto da guerra fria. 

O primeiro problema a ser resolvido pelos norte-americanos – governo Lyndon Johnson – foi o de mapear as forças armadas brasileiras, àquela época com um expressivo contingente de militares nacionalistas e à esquerda. O segundo, ajustar a direita militar, o que não foi difícil. Ávidos de servir, os militares golpistas não se eximiram de sua vocação. 

Cortejar e aliciar banqueiros, empresários e latifundiários brasileiros foi uma das tarefas mais fáceis. Já são, por natureza, dóceis e subservientes ao cheiro do dinheiro. Não tinham, como não têm escrúpulos, ou princípios, até porque elites em qualquer lugar do mundo são apátridas.

Vernon Walthers, general e oficial de ligação entre o exército dos EUA e as Forças Expedicionárias Brasileiras – FEB – na Itália, na IIª Grande Guerra, foi nomeado adido militar do país aqui e Lincoln Gordon, formado na velha escola golpista da diplomacia norte-americana era o embaixador.

As ligações de Walthers com o general Castello Branco, chefe do Estado Maior do Exército eram públicas e notórias. Castello simbolizava a chamada linha moderada da direita militar. As tarefas? Derrubar Goulart, limpar todas as áreas onde a esquerda pudesse ter influência ou presença e entregar o governo a um civil de confiança. No caso teria sido o deputado da UDN de Minas Olavo Bilac Pinto, mais tarde ministro do STF – então SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, hoje, STF DANTAS INCORPORATION LTD –.

O golpe dentro do golpe aconteceu quando a linha dura sinalizou que Costa e Silva sucederia a Castello. De lá para cá 1968 consagrou a vitória da linha dura nos primeiros momentos. Garrastazu Médici foi indicado presidente e o Brasil conheceu as páginas mais cruéis e violentas de sua história.

O golpe de 1964 irradiou-se por todos os países da América do Sul onde interesses dos EUA estivessem ameaçados. A associação de empresários, banqueiros e latifundiários com militares de ultra-direita gerou um regime de terror, tanto quanto o Brasil transformou-se numa espécie de quartel general do modelo de prisões, torturas, assassinatos, a barbárie típica do fascismo.

Operação Bandeirantes (montada por empresários e militares para a captura e prisão de líderes de oposição, logo assassinados, principalmente em São Paulo). A Operação Condor que juntou forças repressivas de todas as ditaduras sul-americanas e eliminou lideranças como o general Pratts (Chile), Juan José Torres (Bolívia), Orlando Letelier (Chile, assassinado em New York), carrega até hoje a suspeita de ter assassinado os ex-presidentes brasileiros Juscelino e Jango e toda e qualquer liderança política contrária aos interesses e ao modelo.

As eleições de 1970, a despeito do controle exercido pela ditadura e os mecanismos usados para não perder maioria no Congresso (fechado sempre que movimentos de resistência parlamentar ganhavam força), mostraram aos militares que o jogo não teria uma seqüência prolongada. O número de votos brancos e nulos foi maior que o de votos válidos. E em 1974 a oposição, o MDB, já no bipartidarismo, elegeu a maioria dos senadores cujas vagas estavam em disputa e dobrou suas bancadas na Câmara e nas assembléias legislativas.

A saída veio com Ernesto Geisel, ligado a Castello. Nasceu com Geisel a percepção que era necessário colocar um fim ao regime militar e preparar as garantias para a retirada. Não tão depressão que pudesse parecer medo, não tão lentamente que pudesse parecer provocação.

Geisel, mais que encontrar alternativas para essa saída, criou garantias para os militares envolvidos em atos de terrorismo oficial que não seriam punidos. Permanecem intocados até hoje os chamados arquivos da ditadura militar. A história do sangue de brasileiros torturados e assassinados nas prisões da ditadura militar. 

Estão soltos e impunes torturadores como Brilhante Ulstra, Torres de Mello, intocado todo o aparato repressivo. 

É importante notar que havia dois ideólogos dentro das forças armadas. Jarbas Passarinho, da extrema-direita. Golbery do Couto e Silva, moderado. Passarinho foi o responsável pelo desmonte da universidade pública no Brasil e do movimento sindical. É dele a frase “as favas com os escrúpulos senhor presidente”, quando Costa e Silva manifestou dúvidas sobre o a AI-5. Golbery do Couto e Silva, conhecia garfo e faca ao contrário de Passarinho e sabia que era necessário escovar os dentes depois de atos de canibalismo nas prisões oficiais. Ligado aos grandes grupos econômicos e oriundo ainda da velha guarda militar. Foi um dos signatários do Manifesto do Coronéis que, em 1954, exigiu a saída de João Goulart do Ministério do Trabalho no governo Vargas. Jango havia aumentado em cem por cento o salário mínimo.

É de Golbery também a afirmação que temos momentos de “sístole e diástole”, ou seja, de abertura e fechamento. Vale dizer que, em qualquer momento, importante é o modelo político e econômico. O mundo institucional, a farsa da democracia.

1964 foi  apenas um golpe de estado que gerou uma ditadura cruel e sanguinária, nada além disso, de militares de direita a serviço de potência e interesses estrangeiros, no caso, os EUA.

No dia do golpe, 1º a IV Frota norte-americana estava pronta para intervir no País em caso de necessidade e socorro aos golpistas. A revelação foi feita anos depois do golpe pelo jornalista Marcos Sá Corrêa, ex-editor do JORNAL DO BRASIL e de VEJA. Descobriu o fato em documentos do governo dos EUA quando abertos ao público.

Foi o momento em que o Brasil virou anão.
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