Operários espanhóis
protestam contra as demissões na Nissan
Em alguns países, o conjunto das empresas
com ações negociadas em bolsas de valores já está valendo metade da sua cotação
total anterior à crise. Outubro foi o pior mês em 20 anos para a Bolsa de
Valores de Nova Iorque. No conjunto, a desvalorização das empresas que têm suas
ações no sobe e desce dos pregões diários de Wall Street foi de 14%. As
oscilações do índice Dow Jones — bem como as do índice Bovespa — atravessaram as
semanas em movimentos que já podiam ser previstos: nas segundas-feiras, queda
livre; na terça e na quarta, tímida recuperação para o azul; na quinta e na
sexta, vermelho outra vez.
É o movimento irracional dos mercados
acionários. Quando as grandes empresas estão desmoralizadas e suas ações são
postas à venda à preço de banana, milhares de grandes ou pequenos cassineiros —
os grandes especuladores ou os pequenos e pobres iludidos que chegam a pegar
empréstimos para apostar em ações — correm apressados para comprar o maior
número possível de papéis podres, na esperança de que a situação volte à
normalidade em um futuro próximo. É a sede de ganhar dinheiro fácil. Por isto as
duas altas por semana das bolsas, prontamente apresentadas pelo monopólio dos
meios de comunicação como "euforia" dos mercados.
As montadoras de
automóveis, termômetros do vigor econômico do USA, estiveram — estão — à beira
da bancarrota. A queda nas vendas de carros por lá foi a pior desde a Segunda
Guerra Mundial.
As vendas da General Motors, a maior fabricante de carros
do mundo, despencaram 45% em outubro. As da Ford, 30%. Ainda no início de
outubro, o valor de mercado da GM chegou a estar abaixo do que era em 1929, ano
do estopim de outra grande crise capitalista, e 94% menos do que a empresa
chegou a valer no ano 2000. No início de novembro, o consenso geral entre os
avaliadores de papéis do mercado era de que o preço justo por cada ação da GM
era de 1 dólar. A primeira providência do festejado novo administrador do USA ,
Barack Obama, foi tentar costurar um acordo com Bush de socorro para já aos
acionistas das chamadas "três grandes de Detroit" — GM, Ford e
Chrysler.
O sinal é muito claro: uma recessão severa está a caminho, com
possibilidades de o mundo mergulhar em uma depressão. A crise está assustando os
manda-chuvas de tal maneira que chega a afetar o cânone cujos modelos de
chantagem há tempos regem a exploração das semicolônias pela via dos órgãos
gerenciadores do capitalismo global. Desta forma, o FMI vem despejando rios de
dinheiro em países semicoloniais como Hungria e Ucrânia, pegos em cheio pela
crise financeira. São duas das várias economias do Leste Europeu onde os
especuladores, atrás de lucros mágicos, apressaram-se em apostar algumas de suas
fichas logo que as gerências destes países avançaram com as reformas exigidas
pelo capital depois do fim da União Soviética.
No dia 29 de outubro, o
FMI, fundo de chantagem internacional, anunciou o que seus diretores chamam de
uma nova "linha de crédito" para as economias devastadas por décadas de
rapinagem patrocinada pelo próprio FMI. Mas agora o dinheiro é parcelado em três
vezes e pode ser pego emprestado sem quaisquer das obrigações que o FMI costuma
impor. Isto significa que o todo-poderoso fiador do sistema financeiro mundial
botou a barraquinha na rua como um banco vagabundo qualquer. O desespero para
salvar a grana da banca internacional mal consegue ser disfarçado, o que valeu
um comentário sarcástico de uma revista britânica: o credor que antes fazia
gelar os ossos, agora parece mais um "tio generoso".
Direitos e dignidade sob ameaça!
Agonia das empresas significa, em um primeiro momento, agonia também da
classe trabalhadora. Os postos de trabalho evaporam, os salários despencam, os
direitos ficam sob a pressão da chantagem patronal, agravam-se as condições de
vida das famílias proletárias.
É o que já vem se observando com o
agravamento da crise capitalista: a burguesia tentando repassar seus prejuízos
para os trabalhadores, ou simplesmente aproveitando o momento de convalescença
para colocar velhas demandas novamente na ordem do dia. Na França, a presidente
da maior entidade patronal do país vem brandindo as dificuldades impostas pela
crise para reivindicar, além de redução dos impostos, maior "flexibilização" das
leis trabalhistas.
Ao mesmo tempo, a presidente do Medef (Movimento das
Empresas da França), Laurence Parisot, avisa o que espera do seu presidente
servil: nada de pressão para que os bancos que receberam dinheiro público o
repassem em forma de crédito às outras empresas. É um problema nosso, insinua
Parisot; e nem pensar em interferir se alguma multinacional estrangeira
aproveitar a agonia capitalista para abocanhar parte da indústria nacional a um
preço camarada.
Operários da Nissan entram
em conflito a polícia espanhola
Estas são as exigências que o patronato de todos os países vêm colocando na
mesa das gerências políticas à seu serviço.
Por outro lado, aos
trabalhadores franceses resta a expatriação. Sim, isto mesmo. Uma empresa
italiana que opera na França sugeriu a parte dos trabalhadores que botará na rua
que venham trabalhar em uma filial no Brasil, ganhando o equivalente a um terço
do salário mínimo pago por lá, ou em uma unidade na Turquia, recebendo ainda
menos.
O desemprego no USA acaba de alcançar a maior marca em 15 anos.
Meio milhão de trabalhadores perderam seus empregos em apenas dois meses.
Empresas gigantescas, como a General Electric e a Coca-Cola, já avisaram que vão
compensar os menores lucros mandando a rapaziada embora.
Nos dias 15 e 16
de novembro, manda-chuvas e lacaios de todo o mundo se reuniram na capital do
USA, Washington, com declarada finalidade de reformar o sistema financeiro
internacional. Luiz Inácio esteve lá. Especulou-se sobre um novo Bretton Woods —
a reunião do pós-guerra onde ficou acertada a criação do FMI e do Banco
Mundial. Evocou-se o economista John Maynard Keynes, que defendia a mobilização
do Estado burguês em prol do capital não pela desregulamentação da economia,
mas, sobretudo, regulando-a decisivamente a favor do poder econômico, e não do
povo.
Não faltaram algozes das massas enchendo a boca para falar em
"ditadura do mercado" como se fossem os maiores defensores de uma democracia de
fato. É oportunismo. Na verdade, estão apenas cedendo no palavrório para
arrochar na prática, sumindo com direitos dos trabalhadores e avalizando a
truculência com a qual o capital está reagindo à crise que o assola.
Enquanto os governos de todos os Estados burgueses não medem esforços
para socorrer o capital, os trabalhadores de todo o mundo não fogem à urgência
da luta e à responsabilidade histórica que lhes cabe em momento tão
decisivo para o processo de libertação frente ao capital opressor; não se
acanham diante das dificuldades redobradas, tendo em vista que os dias são de
definição para a luta de classes a nível internacional.
Na Europa, as
massas trabalhadoras desencadearam uma onda de mobilizações contra a política
burguesa de repassar o ônus de seus revezes para o povo. Na Itália, houve
paralisações maciças no setor de transportes. Na França, os trens ficaram nas
estações e os aviões não saíram do chão: os bravos franceses tentam barrar mais
um aumento da idade mínima para a aposentadoria. Na Espanha, a montadora
japonesa Nissan ameaçou despedir milhares de pessoas, e milhares de pessoas
foram até a sede da empresa dispostas a colocá-la no chão.
Na China, o
fechamento de duas fábricas de brinquedo do Smart Union Group fulminou sete mil
empregos de uma só vez, mas os trabalhadores da província de Guangdong não
retrocederam e marcharam também aos milhares até a representação local da
gerência capitalista que dirige o país. A situação por lá é explosiva. Com a
queda da demanda no USA e na União Européia, nada menos do que 10 mil fábricas
já fecharam os portões só em 2008.
Necessário e cada vez mais inadiável,
um enfrentamento de maiores proporções entre o capital e o mundo do trabalho
está ganhando corpo.
Bancos: duplamente criminosos
O Japão acaba de anunciar que entrou em recessão. No dia 3 de novembro, a
Comissão Européia divulgou um relatório dando conta de que o conjunto dos países
que compõem a zona de circulação do euro já está em recessão. Os PIBs dos países
mais ricos do continente — Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha — se
contrairão pelo segundo trimestre consecutivo, caracterizando o estado recessivo
da economia.
Os comissários da Europa patronal mal escondiam o
constrangimento com o fato de que os inúmeros repasses de dinheiro público para
banqueiros, feitos desde os primeiros sinais de maior agonia do capital
financeiro do continente, mal surtiram efeito sobre a economia real. Do mar
Mediterrâneo ao mar do Norte, transferiu-se bilhões de euros de forma
fraudulenta, dos cofres do Estado para os cofres dos bancos, a título de única
solução possível para a crise avassaladora.
Agora, os primeiros indicadores econômicos depois dos vários pacotes de
socorro permanecem no vermelho. Pode-se argumentar que ainda é cedo para que
mais esta trapaça capitalista surta efeito — como se pudesse ir além disso
mesmo, de trapaça —, mas as previsões para todo o ano de 2009 e início de 2010
estão longe de vislumbrar qualquer coisa parecida com indicadores em
azul.
Os maiores bancos do continente, um por um, vêm colocando o pé na
lama. Um dos maiores da Alemanha, o Commerzbank, pediu socorro de 8 bilhões de
euros ao governo. A chanceler Angela Merkel atendeu, de bom grado, e meteu a mão
no fundo de 500 bilhões de euros criado por ela com dinheiro do povo, e cuja
finalidade é esta mesmo: salvaguardar o capital financeiro.
Em Portugal,
aos crimes econômicos contra o povo lusitano, a banca do país somou nada menos
do que crimes de guerra. Os maiores bancos portugueses acobertaram o depósito de
propinas do tráfico internacional de armas em contas correntes abertas por
estrangeiros em suas agências.
A Caixa Geral de Depósitos e o Banco
Comercial Português, entre outros, guardaram 21 milhões de dólares em comissões
pagas à cúpula do governo oportunista de Angola para a receptação de armas
russas. Entre os correntistas-beneficiários está o presidente angolano, José
Eduardo dos Santos, que acaba de ser confirmado no poder por uma farsa eleitoral
respaldada pela chamada comunidade internacional — governo português incluso.
Também estão envolvidos no caso "Angolagate" bancos de Luxemburgo e da
Suíça.
É esta elite financeira duplamente criminosa que, diante da crise, os gerentes políticos dos Estados burgueses dizem ser imprescindível socorrer.