Uma semana depois de anunciar metas de redução de 40% no desmatamento irregular, presidente assina decreto que incentiva a destruição das florestas.
São Paulo, 11 de dezembro de 2008 - O presidente Lula assinou na quinta-feira (10/12) um decreto que anistia por um ano os desmatadores - durante esse período, o IBAMA fica impedido de cobrar as multas aplicadas. O decreto 6.686 que altera o 6.514, assinado em junho de 2008, diz que a cobrança das multas relativas à ocupação irregular de reserva legal e desmatamento serão suspensas até o dia 11 de dezembro de 2009. Para ser beneficiado, o desmatador só precisa apresentar o protocolo de pedido de regularização da reserva legal junto ao órgão ambiental competente.
O decreto atende às pressões da bancada ruralista, que comemorou a iniciativa do presidente dizendo que ganhou tempo para trabalhar pelo fim da exigência da reserva legal e pela transformação da anistia em uma medida definitiva, com a alteração do Código Florestal. Na semana passada, o Ministério da Agricultura Reinhold Stephanes defendeu publicamente anistia a quem desmatou e ocupou ilegalmente áreas de preservação permanente (APP) até julho de 2007. "O governo Lula agiu como sempre faz com as questões ambientais. A proteção do meio ambiente fica só no discurso porque na prática, ele sempre acaba cedendo às pressões da bancada ruralista", diz Sérgio Leitão, diretor de campanhas do Greenpeace.A medida vai totalmente na contra-mão do discurso do governo com o Plano de Mudanças Climáticas, anunciado no dia 6 de dezembro. O plano do governo está sendo apresentado hoje na Conferência do Clima, na Polônia, pelo ministro do meio ambiente Carlos Minc, como o principal compromisso do país na luta pela redução das emissões dos gases do efeito estufa. "Como é que o governo vai cumprir a meta se ele estimula a impunidade para quem desmata?", questiona Leitão.
O estímulo do governo brasileiro ao desmatamento é uma preocupação que já atravessou as fronteiras do país. Nesta semana, o Comitê de Cooperação Econômica e Desenvolvimento do Parlamento da Alemanha enviou uma carta expressando a preocupação do governo alemão, parceiro do Brasil em vários programas ambientais, com as propostas de alteração do Código Florestal. A carta endereçada aos ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, e do Meio Ambiente, Carlos Minc, é assinada por dois membros do Parlamento alemão – Thilo Hoppe, do Partido Verde e presidente do Comitê de Cooperação Econômica e Desenvolvimento; e Christian Ruck, do Partido Conservador CDU/CSU (o mesmo partido da chanceler Angela Merkel).
"A atitude da Alemanha é extremamente preocupante em um momento em que o governo brasileiro define metas de redução do desmatamento vinculadas a doações de recursos internacionais", diz Leitão.