Ao me deparar com o resultado das eleições americanas, percebo que algo mudou em mim. Continuo no mesmo lugar, convivendo com as mesmas pessoas, atuando no mesmo cenário da vida, mas indiscutivelmente, hoje eu voltei a sonhar.
O dia de hoje, sem sombra de dúvidas, será lembrado e reverenciado pelos próximos 200 anos. As páginas dos próximos livros de história serão marcadas por um capítulo negro. Capítulo negro? Você agora deve estar imaginando que algo de terrível e abominável aconteceu no mundo. Mas não. O capítulo negro é o fim desse pensamento retrógrado e preconceituoso, de que a cor negra remete à tristeza, ao erro e a desgraça. Hoje, dia 05 de Novembro de 2008, um negro, um desses que não podiam, até pouco tempo atrás, olhar nos olhos de um branco, elegeu-se numa vitória acachapante, Presidente dos Estados Unidos da América. A vitória de Barack Obama, não é uma vitória da esquerda ou do socialismo, é uma vitória da democracia, dos negros, do povo, do fim do neoliberalismo, ou seja, a potência americana cansou-se do programa militar-político nefasto que comandou e assolou o mundo nas últimas décadas.
Entretanto, o tempo dirá se ele será um estadista ou um fiasco. O certo é que os americanos imprimiram uma nova marca, marca que quase toda a América Latina já vive por fazer governos mais à esquerda, e agora temos alguns pensamentos em comum, assim como os governos da Venezuela (Hugo Chávez), Bolívia (Evo Morales), Cuba (Raúl Castro), Guiana (Bharrat Jagdeo), Nicarágua (Daniel Ortega), Equador (Rafael Correa), Paraguai (Fernando Lugo), e eventualmente o Brasil (Lula). Como prometeu Obama agora seremos sócios.
Então, ao vivenciarmos tudo isso, é lutar e torcer para o mundo respeitar a decisão soberana das urnas, e nos deliciarmos com esse momento sublime. O momento é de sonhar realmente com dias melhores. Acaba sendo paradoxo, mas até isso foi possível, hoje voltei a sonhar realmente com dias melhores. Voltei a sonhar com mais igualdade, mais respeito, mais liberdade e muito mais vitórias como essas. O problema foi quando acordei. Acordei e vi que a minha realidade não é essa, continuo na mesma cidade dos buracos, da falta de água, da falta de saneamento básico, do desmando, dos reféns-covardes dos DAS, mas acima de tudo, acordei e vi que a cidade ainda tem 38.072 pessoas, que continuam mudando e sonhando como eu. O sonho agora é para o MPF (Ministério Público Federal) fazer justiça. Mas esse é um novo capítulo, de uma nova história, aliás, será um novo sonho, a luta por um surto de realidade, para uma cidade que sofre a realidade da inoperância pública. Leonardo Gomes é Publicitário e Mora em Macaé.