Economia - EUA: A brecha salarial entre executivos e subalternos

Washington, 27/08/2008 – Os contribuintes norte-americanos sustentam com o pagamento de US$ 20 bilhões anuais em impostos o salário dos gerentes gerais de grandes companhias, afirma a última edição do informe "Executive Excess". As organizações não-governamentais que elaboraram o estudo anual pretendem incluir o assunto na presente campanha eleitoral. Várias lacunas nas normas tributárias e contáveis incentivam o pagamento de salários excessivos a executivos, que são acertadas para pagar taxas de impostos menores do que os de seus subalternos, diz o informe preparado pelo Instituto para Estudos Políticos e Unidos por uma Economia Justa.
"É escandaloso que nossas contribuições inflem o salário dos executivos", disse Sarah Anderson, uma das co-autoras do informe. "Nestes atribulados tempos econômicos poderíamos encontrar, seguramente, mecanismos melhores para gastar a riqueza de nossa nação". O Tesouro perde US$ 100 bilhões pro ano em arrecadação estimada porque as atuais leis permitem aos executivos que recebem parte de seus salários em opções de compra de ações uma dedução superior ao que deveria ser, afirma o estudo.

O documento indica que o principal executivo da companhia médica United Health Group, William McGuire, cobrou por seus serviços de opções de compra por nove milhões de ações. A firma, dessa forma, elevou um pedido de dedução de impostos de US$ 317,7 milhões, mesmo quando as declarações financeiras sugerem que o acordo nada lhe custou, segundo o informe, feito com base em fontes oficiais e jornalísticas. Outras lacunas jurídicas das quais o contribuinte não pode usufruir permitem aos executivos evitar o pagamento ao transferir seus ganhos para paraísos fiscais e para fundos de aposentadoria, indica o estudo.

Os autores do informe reclamaram dos políticos norte-americanos o fechamento dessas lacunas e modificação das leis trabalhistas para facilitar as negociações coletiva de salários. Os virtuais candidatos presidenciais John McCAin, do governante Partido Republicano, e Barak Obama, do opositor Partido Democrata, incorporaram em seus discursos de campanha ataques contra os excessos das corporações em prejuízo do fisco e do público. Mas, nenhum dos dois senadores disse concordar com mudanças legislativas como as propostas por "Executive Excess".

"Os ataques bipartidários contra a fuga de dinheiro são animadores, mas, se os dois candidatos falam seriamente deveriam se comprometer em vedar todo vazio legal que permite que nossos pagamentos de impostos fluam para o bolso dos altos executivos", disse Anderson. O informe foi apresentado na segunda-feira, coincidindo com a abertura da Convenção Nacional Democrata que consagrará a candidatura de Obama e uma semana antes da republicana.

Grandes empresas pagaram aos seus gerentes gerais, em média, US$ 10,5 milhões anuais em salários, opções de compra de ações e bônus, uma quantia 344 vezes superior ao que ganha por ano um trabalhador. Ao que parece, esta disparidade aumentará porque a criação de novos empregos se concentra em indústrias onde a brecha é mais profunda. Os Estados Unidos são, de longe, o país do Norte industrializado onde essa brecha é mais ampla. O salário dos empregados era, em 1990, 85 vezes inferior ao dos gerentes geral, 209 vezes menor em 1996 e 419 vezes em 1999. Em 2001, esta disparidade chegou a 525 vezes, seu pico. Em outros países ricos, a diferença raramente supera os dois dígitos.

Os salários e dividendos dos gerentes gerais mantêm pouca relação com o rendimento das empresas para as quais trabalham. Embora de 1999 a 2003 essa renda tenha aumentado 313%, o índice de ações da Standard & Poors aumentou 242% e os ganhos corporativos apenas 128% no mesmo período. Enquanto os salários médios dos empregados aumentaram 49%, e a inflação 41%. É freqüente que os aumentos de salários dos gerentes gerais sejam maiores nas empresas que realizaram mais demissões ou maiores reduções nos salários e pensões dos empregados em geral.

Estas medidas são tomadas, em muitas ocasiões, para melhorar as declarações financeiras e o preço das ações, segundo edições anteriores do "Executivo Excess". Este informe tem 15 anos de trajetória. Estas tendências, e uma série de escândalos financeiros conhecidos desde 2000, levaram investidores, órgãos de regulamentação e dirigentes políticos a concentrar sua atenção nos salários dos executivos. Os candidatos à Presidência e ao Congresso se dedicaram a capitalizar o descontentamento público questionando os salários dos altos executivos corporativos. Tanto McCain quanto Obama propuseram adotar medidas que dêem mais poder aos acionistas para determinar o salário dos gerentes gerais. (IPS/Envolverde)


(Envolverde/IPS)
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