Marin e a gerente da semicolônia Brasil, Dilma
Entre os últimos dias de maio e a primeira semana de junho, a todo-poderosa Fifa, a entidade “sem fins lucrativos” que gerencia o futebol profissional em escala global — ou, melhor dizendo, que gerencia o esporte mais popular do planeta para enriquecer a seus próprios dirigentes, agentes, que tais e, acima de tudo, para incrementar os lucros de um punhado de monopólios a ela associadas para “explorar o futebol” — foi alvo de uma operação do FBI em sua sede na Suíça em que sete altos “cartolas” foram presos, entre eles o até há pouco presidente da CBF, José Maria Marin, por envolvimento em esquemas de corrupção (fraude, propinas, extorsão, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha…) que movimentaram até US$ 150 milhões desde a década de 1990.
Entre as fraudes que motivaram a operação do FBI na sede da Fifa, desencadeada a apenas dois dias da eleição para a presidência da entidade que confirmaria Blatter no cargo, está a compra de votos para a escolha de sedes das Copas do Mundo. Houve escândalo generalizado tanto entre os mais, quanto entre os menos crédulos no “fair play” exaustivamente arrotado por Blatter e camarilha, incluindo a imprensa esportiva dita “progressista”.
A compra de votos foi declarada em uníssono inaceitável, como jamais o foram as próprias Copas do Mundo, farras dos ricos, sobretudo as mais recentes, aquelas realizadas em nações de matriz semicolonial, África do Sul e Brasil, justamente pela necessidade de levar o “megaevento” a paragens gerenciadas por oportunistas ansiosos, acotovelando-se para darem à Fifa a carta branca que se tornou mais difícil conseguir nas nações centrais do capitalismo internacional depois que a crise geral começou a lhes implodir os cofres públicos como um rastilho de pólvora entre paióis.
O “escândalo” na Fifa e seus dosdobramentos é uma espécie de microcosmo da farra do grande capital nos países semicoloniais, nas nações exploradas no âmbito da divisão internacional do trabalho. A começar pelo próprio fato de que o “escândalo” desnovelado pelo FBI com requintes de espalhafato é digno das aspas se comparado ao escândalo real e maior que são as Copas propriamente ditas, com seus contratos lesa-povo assinados à luz do dia, deixados às claras para escrutínio, assinados sem pudores pelos mais servis sabujos que há no mundo, como Luiz Inácio e Dilma, mudando leis em favor de transnacionais, distribuindo isenções fiscais e, por fim, açulando as forças de repressão contra as massas revoltadas com tanta agrura no dia-a-dia para os trabalhadores e tanta livre esbórnia para Fifa e “sponsors”.
Ora se não é a farra das Copas da Fifa em sua fase mais recente a metáfora perfeita, como costumam ser as metáforas futebolísticas, para o fascismo espalhado por toda parte e que se instala de maneira visceral especialmente na periferia do mundo capitalista em profunda crise, com a mobilização de todo o ordenamento político-jurídico destas nações visando a facilitação da concentração e da centralização do grande capital monopolista e do latifúndio — seu paraíso requisitado nesta fase de acirramento da crise e das contradições do sistema de exploração do homem pelo homem. Tudo à custa dos direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores e sob esforços contínuos e cada vez mais ferozes das classes dirigentes para manter as massas em permanente vigilância, intimidação e repressão.
Eis o grande escândalo da Fifa e de tudo mais.
Poucos dias depois do congresso da entidade, o mesmo Blatter, que celebrara entusiasticamente sua reeleição, mesmo que ainda sob o tilintar das algemas nos corredores onde circula todos os dias, renunciaria ao cargo, em claro sinal de uma pugna de bastidores para tentar poupar do xadrez o homem que há duas décadas esteve à frente da Fifa falando em “jogo limpo”, “legados” da Copa para os países-sede” e “função social do futebol”, da mesma forma que os monopólios mais sanguinários e usurpadores do planeta costumam ser os campeões da propaganda da “responsabilidade social das empresas”.
A crônica da imprensa burguesa internacional sobre a renúncia de Josef Blatter deu conta de que o futuro ex-presidente da Fifa deixou o cargo por estar sendo pressionado pela polícia e “pelos patrocinadores”. Após Blatter deixar o cargo, eles, os “patrocinadores”, maiores interessados em uma eventual “reforma” da Fifa que lhes dê uma bela maquiagem na fachada — como a CBF retirou o nome de José Maria Marin da fachada de sua sede —, começaram a se movimentar para garantir espaços no que virá a ser a tal “nova Fifa”.
Chung Mong-joon, herdeiro do grupo econômico que controla a montadora transnacional sul-coreana Hyundai — marca que é um dos “patrocinadoresmasters” das Copas do mundo — apressou-se a dizer que estava disposto a concorrer à presidência da Fifa nem bem o acolchoado da cadeira de Blatter na sede da entidade em Genebra terminara de esfriar. É quem realmente manda afinal requisitando as rédeas do negócio no momento em que a crise aperta, mais ou menos como Kátia Abreu no Ministério da Agricultura...