Kátia Abreu: neófita no PMDB, senadora não tem livre trânsito na bancada do partido na Câmara e perdeu apoio da bancada ruralista no Congresso
Senadora reeleita em 2014, Kátia Regina de Abreu, com 52 anos, é a principal liderança política do agronegócio e vinha sendo cotada para comandar o Ministério da Agricultura desde o ano passado. Kátia Abreu é natural de Goiás, mas construiu sua vida na pecuária e na política em Tocantins. Viúva aos 25 anos, foi proprietária de uma fazenda de gado deixada por seu marido e sempre foi ligada a sindicatos rurais e entidades de classe agropecuárias.
Antes de se engajar na vida política, Kátia presidiu o Sindicato Rural de Gurupi (TO) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Tocantins, que a habilitou para disputar o cargo máximo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Em outubro deste ano, Kátia se elegeu para seu terceiro mandato como presidente da CNA, cargo que ocupa desde 2008. Lá, pode construir um bom relacionamento entre empresários e dirigentes de associações rurais, que lhe garantiram apoio para ser porta-voz do setor em Brasília.
Na política partidária desde 1998, sua trajetória sempre coincidiu com partidos que hoje fazem oposição ao governo federal. Tendo iniciado a carreira no PFL, que depois deu origem ao DEM, foi suplente de deputado federal em duas ocasiões, até conseguir ocupar cadeira definitiva na Câmara Federal em 2002. Cinco anos depois, assumiu seu primeiro mandato no Senado, pelo DEM - um dos principais partidos de oposição aos governos do PT.
No Congresso, Kátia Abreu abraçou as bandeiras do agronegócio, sendo voz ativa na aprovação do novo Código Florestal e defendendo interesses ruralistas, e também militou em causas femininas, como a ampliação de atendimento hospitalar a mulheres em redes públicas de saúde.
Nos últimos anos, porém, deu passos de aproximação com o governo. Do DEM, a senadora seguiu para o PSD, do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, legenda que hoje é da base aliada do governo. E desde o ano passado está no PMDB, sigla que indicou os cinco últimos ministros da Agricultura e administra a pasta desde o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Kátia acabou se tornando muito próxima da presidente Dilma Rousseff, principalmente a partir da votação, em 2013, da chamada Medida Provisória dos Portos, que trouxe um novo marco regulatório para o setor portuário. À época, ela participava de reuniões frequentes com a presidente, lutando pela aprovação do texto de interesse do governo.
Fontes ligadas à senadora relatam que ela agrada Dilma por terem perfis parecidos: é rígida no trato, cobra muito de sua equipe, tem estilo gerencial e gosta de estudar a fundo os temas.
Esse movimento político lhe causou desgastes. A senadora perdeu apoio da Frente Parlamentar da Agropecuária, a chamada bancada ruralista do Congresso, grupo político do qual se distanciou nos últimos anos e que preferia continuar vendo-a como oposicionista. Já no PMDB, partido no qual é neófita, não tem livre trânsito na bancada do partido na Câmara, que nos últimos anos tem indicado ou tido influência sobre a escolha do ministro.
Também por haver se aproximado do governo, a senadora teve de enfrentar uma eleição para o novo mandato na CNA tumultuada que acabou sendo questionada na Justiça.. A Federação da Agricultura do Paraná alegou, no processo judicial, que ela não é mais proprietária rural e inclusive questionou a prestação de contas de sua última gestão.
Em meio à pressão dos desafetos, Kátia Abreu fez um discurso na tribuna do plenário do Senado, no ano passado, que também soou mal no segmento de empresas agropecuárias. Por 16 minutos, ela fez duras críticas ao grupo JBS, empresa líder mundial no processamento de proteína animal e que encabeçou o ranking das companhias que mais doaram para campanhas eleitorais em 2014. À época, a senadora questionou uma série de anúncios da empresa que promoviam a marca Friboi, em comerciais estrelados pelo ator Tony Ramos.