Nesses dias, estou passando pela Itália para lançar um livro novo que saiu aqui ("Evangelho e Instituição" - diálogo com a teologia do nosso mestre José Comblin e concluir em diálogo com um grupo bíblico italiano um comentário ecumênico ao evangelho de Marcos. Aceitei essa vinda sem calcular que precisaria estar no Brasil nesses dias e por isso sofro e me sinto em falta com o povo brasileiro. Embora eu pudesse fazer pouca coisa no meio dessa guerra insana e cruel contra as conquistas que, por causa do governo do PT e através da luta popular, os movimentos sociais e o povo conquistaram nesses doze anos, de todo modo, me sentiria mais junto de vocês nessa luta.
Como já disse em outro escrito, minha avaliação do resultado das eleições de 05 de outubro (da qual participei ativamente) é que precisamos com urgência retomar os instrumentos de formação permanente das bases e poder suscitar de novo minorias abraâmicas em meio ao deserto social e político em que vivemos. E no dia 26 (eu voltarei ao Brasil para votar), votemos na Dilma, mesmo que criticamente, para logo depois retomar a luta pela reforma política e para abrir um canal permanente de diálogo entre o governo e os movimentos sociais. É preciso que o nosso votono segundo turno das eleições, o nosso voto seja expressão de nosso compromisso com as lutas do povo, sobretudo com os mais pobres. Voltar a um governo do PSDB com sua política elitista e contra os empobrecidos é trair o caminho já feito com tantas dificuldades.
Transcrevo aqui um grande trecho da carta-manifesto da irmã Eurides Oliveira, texto que me foi enviado pelo amigo Reginaldo Veloso:
"O Papa Francisco afirma:“Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. A política é uma das formas mais elevadas da caridade. Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela”[ii]
Leonardo Boff parafraseia essa afirmação, dizendo, que a Política com “P” maiúsculo, comprometida com um modelo de sociedade voltado para a inclusão, a participação e a justiça social é uma das formas mais altas de amor social.
O Resultado do primeiro turno das eleições coloca-nos diante deuma hora histórico-politica decisiva. Não obstante a necessidade de uma leitura mais ampla do resultado das urnas, o que temos em curso é uma grande investida da direita conservadora do país, uma articulação de forças da elite oligárquica e patrimonialista, detentora do poder econômico e apoiada pelas mídias globais para retornar ao poder. Uma disputa não apenas de dois candidatos opositores, ou entre siglas partidárias, mas de dois Projetos de Sociedade.
Aécio Neves representa o projeto do triunfo do capital sobre as pessoas, do retorno à “ditadura do mercado financeiro”, através das privatizações, da independência do banco central, do caminho livre para o narcotráfico e consequentemente do acirramento das desigualdades, da repressão aos movimentos sociais e do abortamento de todas as mudanças sociais e estruturais em curso. A volta a uma história que experimentamos recentemente, com o presidente Fernando Henrique Cardoso: desemprego, altos índices de inflação, fome, endividamento publico, privatizações, apagões, deixando abaixo da linha da pobreza mais 30 milhões de pessoas. Uma massa sobrante, à margem das condições mínimas de vida. Lembram?
Dilma Rousseff, representa a continuidade e o aprimoramento do projeto de crescimento econômico e social voltado para as classes populares, comprometido com a superação das desigualdades e a soberania nacional. Nos últimos 12 anos como afirma Leonardo Boff:“Não podemos negar que milhões de pessoas viram suas aspirações atendidas e que hoje o rumo do Brasil é outro. Pode não ser do agrado das classes dominantes que foram derrotadas. De um Estado neoliberal e privatista que se alinhava ao neoliberalismo dominante, passamos a um Estado republicano, Estado que coloca a res publica, a coisa pública, o social no foco de sua ação, Daí a centralidade que o governo Lula-Dilma deu aos milhões que estavam secularmente à margem e que foram – são 36 milhões – inseridos na sociedade organizada[iii]e com melhorias concretas em suas vidas cotidianas.Nosso voto, agora pode decidir pela continuidade ou ruptura deste caminho.
Como nos afirma o historiador Oscar Beozzo:“A questão de fundo em nossasociedadeé a do direito dos pequenos à vida sempre ameaçada pela abissal desigualdade de acesso aos meios de vida e pelas exíguas oportunidades abertas às grandes maiorias do andar debaixo”. A elite brasileira incomodada com as politicas de ascensão social e econômica dos mais pobres, através das políticas democráticas e dos programas sociais como o Bolsa Família, o ProUni, o PRONATEC, Luz para todos, Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos e outrosquevisam a assegurar direitos cidadãos, ampliar a democratização da sociedade, combater privilégios dos grandes grupos econômicos, têm recorrido aos meios mais espúrios para descaracterizar o governo Dilma e retornar ao poder.
(...)E nesta conjunturapolítico-eleitoral, se queremos ser fiéis à nossa missão de defender a vida e a dignidade humana, de contribuir para um país mais justo e solidário, não resta dúvida, nosso compromisso se expressa pela nossa opção politica pela da vida do povo,“contra as tramóias da direita”[iv], e afavor da consolidação do projeto democrático popular, pelo nosso VOTO EM DILMA 13, que corresponde ao:
(...)E para concluir reporto-me a Hannah Arendt para lembrar a todas e todos nós que“o poder só é efetivo enquanto a palavra e o ato não se divorciam. Quando as palavras não são vazias e os atos não são brutais. Quando as palavras não são empregadas para velar intenções,mas para revelar realidades, e os atos não são usados para violar e destruir, mas para criar novas realidades.”[v]
Esse poder está agora em nossas mãos. Cabe a nós exercê-lo através do “voto ético”, consciente, livre e responsável, expressando nosso compromisso com a vida e a cidadania. Optando pelo projeto de desenvolvimento que nos permita, não obstante as dificuldades e limites, seguir superando as dificuldades, fazendo as mudanças necessárias e assim reinventando o Brasil que queremos: economicamente justo, politicamente democrático, socialmente solidário, culturalmente plural e ecologicamente sustentável".
Em meus contatos com companheiros/as dos países vizinhos que compõem a nossa América Latina como pátria única bolivariana, sinto que todos/as esperam que os brasileiros não traiam o sonho de Bolívar e não votem por atrelar o Brasil ao imperialismo norte-americano como quer Aécio e o PSDB. Logo depois que soube que ganhou as eleições de domingo passado, Evo Morales dedicou sua vitória ao comandante Chávez e a Fidel Castro. Depois declarou que se, no Brasil, houvesse um recuo político à direita, seria muito difícil manter na América Latina os organismos internacionais latino-americanos que garantem nossa soberania. Isso me faz com que, mesmo com todas as críticas que tenho ao governo do PT, peço pelo nosso compromisso de cidadãos latino-americanos, nos lembremos de todos os povos da grande pátria afrolatíndia e, mesmo sabendo que não será nenhum governo que fará a revolução de que precisamos (seremos nós dos movimentos sociais retomando o processo de educação das bases), votemos em Dilma e peçamos votos para Dilma.
Deus nos ilumine e nos conduza nesse caminho.
Um abraço do irmão Marcelo Barros
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