Sem questionar as verdadeiras causas da corrupção no Brasil, da qual ela é beneficiária direta, a imprensa dos monopólios, com seu ranço udenista, tem feito recentemente certo alarde em torno das viagens de negócios do ex-gerente Luiz Inácio, principalmente, aos países africanos e da América do Sul e do Caribe. Viagens oficiais levando a tiracolo empresários de alto coturno e reuniões com "empreendedores" bancadas pelos cofres públicos. Nada de novo, porém, diante do que pode ser denominado de "o padrão 'Lula' de velhacaria".
As páginas das edições anteriores do A Nova Democracia estão repletas de denúncias e revelações a respeito de como o imperialismo, através de seu braço sindical - a CIOLS - o regime militar, a grande burguesia e os latifundiários construíram este mito chamado "Lula". Indispensável é dizer que nesta empreitada contaram com a total dedicação de setores da igreja católica, da intelectualidade trotskista e dos guerrilheiros arrependidos.
Além do AND, temos o testemunho de pessoas que desfrutaram de uma grande proximidade com o ex-metalúrgico, como o empresário Mário Garnero, em seu livro "Jogo duro" e o Professor Chico de Oliveira no Programa Roda Viva (ver youtube), entre outros, que atestam as características possuídas por Luiz Inácio.
VELHACARIA CONGÊNITA OU ADQUIRIDA
Segundo o dicionário Aurélio, o velhaco é o homem enganador, traiçoeiro, patife, tratante e devasso. Na verdade, o ser humano não nasce com nenhuma destas "qualidades". Ao nascer, o indivíduo é como uma folha em branco, na qual poderão ser inscritas mensagens tanto positivas como negativas. Ou seja é a prática social do indivíduo que determina seu pensamento e ideias, ao tempo que modela seu caráter e personalidade. Numa sociedade de classes, a cultura da classe dominante, da qual a hipocrisia é uma de suas características, penetra o meio do povo e engendra em algumas pessoas condutas alheias aos princípios proletários que deveriam guiar a formação de sua personalidade e de seu caráter.
A burocracia sindical tem sido historicamente um ambiente propício para a formação de verdadeiros trânsfugas da luta de classes transformados em agentes da contrarrevolução no meio operário.
O jovem Luiz Inácio, segundo Garnero, "esteve recebendo lições de sindicalismo da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, ali por 1972, 1973, como vim a saber lá, um dia. ...lá por 1976, sendo apresentado por seu patrão Paulo Vilares ao Werner Jessen, da Mercedes-Benz, e, de repente, eis que aparece o tal Lula à frente da primeira greve que houve na indústria automobilística durante o regime militar, ele que até então era apenas o amigo do Paulo Vilares, seu patrão... Lula foi a peça sindical na estratégia da distensão tramada pelo Golbery ... Lula fez a sua parte."
No programa Roda Viva de dois de julho de 2012, o professor Chico de Oliveira, um dos fundadores do PT afirmou que "Lula é muito mais esperto do que vocês pensam. O Lula não tem caráter, ele é um oportunista".
O filme-documentário ABC das greves, dirigido por Leon Hirszman com narração de Ferreira Gullar, afirma: "Durante a assembleia da greve, Luiz Inácio Inicia a chantagem: 'Agora é um pedido que faço: não saiam em passeata! Saiam daqui direto para suas casas. Estamos entendidos. ...E eu acho, e aí é um voto de confiança que eu peço para vocês, para não dizer que nós somos radicais, nós vamos aceitar o pedido do governo, nós vamos voltar a trabalhar."
Como se vê, a conduta do operário-padrão do FMI nestes episódios não difere de sua conduta em outras oportunidades como a da morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel; como na imposição de Luiz Marinho para presidente da CUT em seu 8º congresso; como no caso do chamado "mensalão"; como no caso da saída de Palocci do ministério e o escândalo de Rosimary Noronha e outros. Em todas se evidenciam a dissimulação e a postura velhaca.
LULA: O CARA
Capítulo à parte em tudo isso é a relação que Luiz Inácio estabeleceu com o imperialismo, a grande burguesia, com destaque para a oligarquia financeira e o latifúndio do "agronegócio". Aprofundando seu peleguismo dos idos do sindicalismo, Luiz Inácio, aproveitando-se do ensejo da crise mundial de 2008 resolveu salvar a indústria automobilística, decretando a renúncia fiscal com a redução de IPI para seus produtos. Isto possibilitou às montadoras, cujas matrizes, como a GM, a Ford e Fiat, estavam literalmente falidas, um superlucro no Brasil, o qual foi de imediato remetido para o exterior como contribuição do companheiro Lula para a salvação do capitalismo.
Como o personagem de Chico Anysio, Justo Veríssimo, que repetia sempre "Eu quero é me arrumar", Luiz Inácio logo que assumiu o primeiro mandato montou a estratégia do caixeiro-viajante. Colocando em sua bagagem as maiores empreiteiras brasileiras, passou a percorrer países da África e da América Latina, a entabular negócios oferecendo a construção de obras para as quais chegava até a disponibilizar uma mãozinha do BNDES. O mesmo BNDES foi usado também para patrocinar fusões e aquisições que resultariam em monopólios nacionais como Sadia-Perdigão, Oi-Telecon, Pão de Açúcar-Casas Bahia-Ponto Frio, JBS-Marfrig, entre outros.
Como parte ainda deste capítulo, tivemos a questão da inclusão bancária, que colocou dentro dos bancos uma população equivalente à população da Argentina, cerca de 40 milhões de novos correntistas, muitos dos quais enredados até o pescoço na arapuca do crédito consignado, outra benesse à oligarquia financeira. Também, com o Banco Central entregue a um agente da oligarquia financeira internacional, não seria de se esperar coisa diferente.
O imperialismo, a grande burguesia e o latifúndio não podiam deixar de ficar eternamente gratos por tantos gestos de boa vontade. Além de despejar milhões nas campanhas eleitorais de sua sucessora e do seu partido, o reconhecimento ao empreendedor gerente veio em forma de convites para realização de palestras remuneradas com cachê de pop star. E, não foi sem razão que Luiz Inácio recebeu do porta-voz do imperialismo, Barack Obama, o título de "o cara".
O MITO "LULA"
A palavra mito tem como significado mentira ou fantasia. A criação do mito "Lula", em torno da pessoa de Luiz Inácio, um fervoroso adepto da Lei de Gerson (de levar vantagem em tudo), cumpriu um papel extremamente pernicioso para os trabalhadores e o povo brasileiro, em geral. Um falso líder pode induzir as massas a seguir modos de conduta que rebaixem o seu nível cultural e as jogar mais ainda na ignorância. Esta, na verdade, é a missão histórica do oportunismo como já nos advertiram Marx e Engels, ao falar da aristocracia na classe operária, e Lenin, quando destacou o nefasto papel dessa aristocracia na época do imperialismo, ao disseminar o reformismo das ilusões eleitorais, o pacifismo burguês e a conciliação na luta de classes.
Pelo que vimos acima, este padrão de velhacaria tão característico da conduta de Luiz Inácio bem que lhe caberia uma distinção: a de Macunaíma da modernidade brasileira e nada mais.