Procurando nos símbolos
A gênese primordial
Urde-se até algaravia
Explanando-se a mente cabal
Mas se viaja em círculos
Pois a corrente interpretativa
Se posta em capítulos
Revela-se repetitiva
Único núcleo consistente
Por nada faz atingir
E a mais longa profundidade
Então miúda ruga da superfície
Eu?! Onde?!
"Ofuscante e colossal,com que rapidez o Sol nascente me mataria
Se eu não pudesse agora e sempre
lançar o Sol de dentro de mim."
(Walt Whitman)
Confusa, assustada, flutuo
No fluxo deste enérgico ar.
O desalento do momento
Enfraquece minhas vértebras.
Sinto os vermes babarem.
De olho gordo,
Entrego as rédeas.
Porém temo o amparo.
Este que já até
Não convence, quase renego.
Dói, com força de touro e garra de tigre.
Minha ferida,
Inflamada no peito...
Invisível, mal-amada, que jeito?
A verdade confessa
Não sei se o que me move é algo de amor por tiVim ao mundo sem reservas ou sábios conselhos
Nem sei ao certo se amor seria toda esta estranheza
Que me acomete sem que eu possa reconhecer
Sensações inauditas nisto que palpita e indecifro
Amor... seria uma mentira, uma beleza, uma surpresa?
Do destino o golpe desmedido, gérmen da sorte ou do azar?
Ou dependerá do ponto de vista e de se deixar levar?
Eu não sei amar, mal sei respirar, oh destino
Que esperas desta ingênua inapta criatura
Incapaz de cozinhar, lavar, passar, poderia ela amar?
Não, respostas nunca virão, eis minha danação
Terei, então, de escolher: arrisco pular sem saber
Ou deixo o tédio fazer-me endurecer até o envelhecer?
Fora da Lei
Voando na incerteza do existirAlém da realidade, aquém do advir
Saía do corpo como se tivesse o direito
Subia o morro da solidão, o sujeito
Desdenhava perigos na alta melancolia
Chorando cantos de dor e magia
No céu de estranheza e torpeza
Dizia adeus à Felicidade, com tristeza
Assim terminava o passeio sem corpo
Um corpo inteiro, desconhecido, alheio
Do qual seria escravo até o suspiro derradeiro
Outros corpos interagiam com aquele
E o sujeito, indiferente, assistia a esse teatro
Do lado de dentro, com seu riso sarcástico em seu átrio
Um poema maníaco
Ó meu estado de sã consciênciaPeço brechas, largas, tigelas
Depósitos, propósitos, aquarelas
Manchados, Rorschados, pintados
Para expor não gaia ciência
Mas rodeios, lixados, ausência
Qualquer coerência, paciência
Se quer, difícil torna-se
Com assonâncias, saberes latentes
Livres, existentes, indomáveis
Indecifráveis, pretendentes
De único sentido corrente...
...imprudente
arte de Artur Bispo do Rosário
Falta insigne energiza o sangue
Atormenta um pouco o mistério ao léu
Fomenta tiradas sem alvo certo
Inconsciente, faz o favor de aparecer
Explica o fogo acometido ao espírito
Norteia o antro a vasculhar
Com cuidado para não desencaminhar
Ensina aonde se quer chegar
Tania Montandon