Sede
Água pra que te quero
Naquele sol de verão
O suor escorrendo
A garganta na sequidão
Sede! Matá-la espero
Água pra que te quero
As forças esvaíram-se
As pernas bambeiam
Minerais, potáveis, sulfurosas
Não sei se sumiram ou se...
Mas água pra que te quero
Bem gelada, bem gostosa
Bem aos montes, maravilhosa
Sede! Matá-la espero
Transparente manjar dos deuses
És rica, radiante, ó poderosa!
O Gigante Dos Meus Temores
O Sol zombeteiro entra pela grade da janela
Esquentando as mágoas impertinentes
Ah! Se eu tivesse a Palavra, só Ela
Curaria meus anseios intransigentes
Diacho! Estou aqui e respiro
Este ar poluído e macabro
Só dissabores inspiro
O coração nunca mais, nunca mais abro
Plangente aura nociva de desafeto
Invade um mundo num troar indiscreto
Deixa o espírito sem defesa à obsessão
Dos mais nefastos demônios em junção
Milagre – Só Pra Quem Crê
Como não crer na recuperação de alcoólatras?
Pois se tão facilmente
E por motivos tão mais brandos
Jesus não transformou água em vinho?!
Então é só convidá-lo à reunião
De pessoas crentes na recuperação
E pedir-lhe, humildemente, no cerne da fé
Que transforme, por obséquio,
O vinho deturpado
Abusado por nós, insensatos
Em água simples, sem sabor
Como há de negar o Salvador?
Mil’águas só pra quem quer!
Salve da Grande dor
Oh Grande Salvador!
Esteja conosco em nossos atos
Profaneu
Eu, eu, eu, só, eu...
Por quê?
Pra quê?
Como posso ser?!
Nasci
Cresci
Sofri
Morri
Do excesso
D’eus
Décès, *
Sô deus
*morte em francês
Sangrando
Triste, dolente estou
Humana e sensível sou
Que fazer com o que se passou
E tanto mal sombrio apedrejou-me?
Lamento a memória independente
Persegue, chicoteia e não perece
Não na nefasta parte que se sente
Só pisoteia a alma, e esta padece
Posso fingir sonhar no pensamento
Mas o real acorda o sentimento
Lucidez sofrida ou euforia fugidia?
Dilema louco do momento
Da peculiar sina que experimento
Mato-me, culpada; ou mato a culpa que me acaba?
Rondel:
Papai Noel,
Esperei por todo um ano
Pra ter direito a meu pedido
Não quero muito não
Apenas um beijo cândido
Que inspire dois corações
Ao ar livre saltitando
Esperei por todo um ano
Pra ter direito a meu pedido
Duas almas em sintonia
Cantando, sorrindo, vibrando
Uma nova chama de alegria
Esperei por todo um ano
Introspecção
Só, no vão do esquecimento
Desminto minha alma, meu ser
Perceber é-me grande tormento
Mutila e deforma o que sei do viver
Pele, ossos, carne...
Oxalá isso me humanizasse
Mas pungente é a navalha que corta
Meu pensamento – ah! Se a dor acabasse!...
Busco na infância um momento alegre
Algo que ludibrie o cotidiano
Que me faça esquecer o motivo inconteste
Motivo pelo qual não me amo
Pois não pertenço a este mundo agreste
E prisioneira nesta mente desando
A Vida
A dor é pungente
O buraco é fundo
Que tempo eloqüente!
Este que amansa o mundo
Corpos muitos, feridas abertas
Comuns embates caminham juntos
Mas sabem gerir, as ninfas eternas
Protegem o Bem com escudos de chumbo
Não reclame, resigna
Não adianta, é a sina
Sim, proclame, persigne
Sim, é Santa, consinta
Concreto e Palavras
As trilhas passam ligeiras
Mal as posso vislumbrar
São como estrelas passageiras
De referência, um outro lugar
Caminho, parada, apressada.
Rumo paralelo ao destino,
Intento tomar no vagar,
Distanciando-me do mal desatino
Estou presa nas correntes da mente,
Que impede o mundo - pois este não a compreende -
De girar em seu tempo e espaço.
Contudo, prossigo, crente
Carregando alguma qualquer cruz dolente
Pra esperar, contente, uma fonte de paz.
catarse
Da potência que renuncio agora
Da querência que paralisa minh’alma
Da “viruslência” que me tortura a espora
Da dolência no peito que me nega calma
É que derramo estas palavras nervosas
É que reclamo este organismo neurastênico
É que clamo por ajudas vigorosas
É que me denomino esquizofrênico
Entrego-me de “corpo, alma e coração”
Entrego, de todo, meus órgãos à doação
Só não entrego o teor de minh’emoção
Entrego-me de culpa, carne e sem perdão
Entrego, de todo, meu espírito à purgação
Só não entrego o desvalor de minh’ação
Desvelando...
Não sei chorar ou sorrir
Não sei acordar, nem ao menos sentir
Roubaram minhas raízes de intimidade
Levaram minha dor e, com ela, min’espontaneidade
Só deixaram este perene torpor
E um coração que não vale a idade
Queria poder dizer o que sinto
Porém não consigo, nem sei como nasceu
Não sei como veio
Mas dói e nem entendo o porquê
Percebo-me comprometida
Naquilo que dizem ser o ‘eu’
Minha alma é uma verdade mentida
Pensa ser aquilo que nunca apareceu
Meu intuito não era o desapontamento
Mas não posso fingir que sei de sentimento
Invisível Ardência
Qual um espectador do mais vil terror
Presencio instintos furiosos
Produzirem cimos de pânico e dor
Transformando membros em fantoches forçosos
Sensações inumanas de possessão
Dilaceram a alma fraquejante
Abusando dum ser ignorante
Onde já inexiste alento ou qualquer razão
A aura abstrusa do inferno faz-se presente
Povoa o interior do subjugado ente
E o que se percebe é só maldição
Nem mexer ou pensar é ao infeliz permitido
Todo bem imaginável fora coibido
Restando nada além de trêmula comoção
Dor
Humana, divina, espiritual?!
Inevitável, previsível, habitual?!
Punição, castigo, carma?!
Ou aprendizado, do sábio a arma?!
Agradeço minha dor
Meu sofrimento, minha agonia
E do viver o calor
Minha ingênua tecitura, até a ‘dura alegria’
Possuo paz e conflitos
Indignações e êxtases
Procuro com quem divido
Tantas significações à mesa
biografia:
Nasci em Uberaba, aos 5 anos de idade mudei com minha família para Ipatinga porque meu pai foi transferido no trabalho. 3 anos e meio depois, mudamos pra Uberlândia, onde vivemos até ele se aposentar. Em 1994, nos mudamos para Belo Horizonte, onde moro ainda com meus pais. Ao terminar o terceiro colegial, fiz intercâmbio na Nova Zelândia e fiquei lá por 7 meses e tive que voltar por motivo de saúde. Sempre pratiquei esportes: na juventude, dediquei-me muitos anos ao tênis competitivo, colecionava troféus. Quando voltei do intercâmbio, comecei a perder o interesse pelo tênis e fiquei fascinada com tudo sobre a mente, a linguagem e comecei a ler tudo que conseguia acessar. Fiz Psicologia na FUMEC. Adoro a psicologia teórica, a filosofia, a literatura e línguas - formei-me em inglês e em francês avançado, tenho o FCE de inglês e DELF e DALF de francês. Possuo esquizoafetividade, o que dificulta bastante - para as coisas mais banais preciso fazer muito mais esforço do que qualquer outra pessoa. Então não dei certo nos empregos em empresas. Mas a arte passou a ser minha vida, minha alegria, parte de mim, da minha alma e do meu coração. Em 2005, publiquei meu primeiro livro de poesia "Viagem ao Léu" pela editora Armazém de Idéias, com ajuda da família e produção independente.