CANTO DE AMOR AO POEMA
Mas, não emudecerão
Meus pensamentos
Nem secará a tinta de sangue
Que goteja de minhas mãos.
O poema , em mim, inunda
Tal qual um rio
Feito de de lágrimas,
Águas claras...
De onde emerge vida.
O PAPEL
Olhei-o de uma só vez,
Lá estava ele, branquinho...
Atirei-lhe os sentimentos,
Tornei-o vivo.
Já não era vazio.
Enchia-me os olhos-
Lá estava o pensamento.
Seu papel, seu destino,
Fôra para sempre destinado
Com um poema carimbado.
AUTO-EXÍLIO
Deu vontadeDe ir embora,
Bater a porta,
Fechá-la para sempre.
Sair
E não me deixar entrar.
AVOZ DO POETA
Nós, poetas, somos instrumentoPara o povo,
Assim como todos os dias
O sol se faz necessário,
Também é a voz do poeta
Que, silenciosa, arrebata do peito
Em forma de revolução
E sai transfigurada no papel.
Reflexo
Quando as minhas mãos
Deixarem de ser acesas...
Serei mais que luz.
Estarei presentemente
Dentro dos teus olhos.
E aí me servirás de espelho.
E eu me verei
E tu te verás:
nos meus olhos
e nos teus olhos...
... o vento varria tudo:
varria o medo
varria meus pensamentos
e até o que eu não sabia
varria a solidão
com seus músculos sólidos
varria o tempo
varria a chuva
levando embora
algumas folhas de nossas vidas...
Dos órgãos dependentes
Sentimentos...
Não os sei passar para o papel?
Parecem que vão explodir
Da cabeça ao coração,
Do coração à garganta,
Da garganta à língua__
Farta , fértil ,frágil e singular.
Tempo
Como numa batalha avassaladora
Não tive medo.
Fui encontrar-me com o espelho.
Pensava que o espelho fosse
Baralho cigano.
Mas de cigano, só a minha vida...
É . O espelho não mente;
Ele mostra a nossa cara
Pra cara da gente.
Mostrou-me às horas
Que ficaram para trás
E que estavam estampadas
Nas rugas do meu rosto.
A esmo
...como é bom ficar distraída
a passar o tempo
olhando o tempo.
Como se o vento , leve brisa
Fosse carregando-me
Infinitamente
Para algum lugar
Sem limites...
Lá sentir-me nuvem...
Doce algodão,
A deslizar no céu
E só passar,passar, passar...