Na conclusão, Simões Lopes sugere “fortemente, a relocação do empreendimento para outra área, onde já existam complexos portuários fora de baías ou enseadas, de maneira que os efeitos nocivos não sejam potencializados como ocorre nas áreas internas”.
O cientista recomendou, também, aos empreendedores que “não aceitem o risco do passivo ambiental, considerando assim a proposta da obra na área como ambientalmente inviável.”
O parecer avalia os impactos do empreendimento sobre os botos-cinza, residentes da área proposta para o estaleiro, dentro da APA Anhatomirim, unidade de conservação federal criada com o objetivo de promover o manejo sustentável da área e garantir a preservação da população de golfinhos, ameaçada de extinção.
Os alegres botos-cinza correm risco de extinção
Simões Lopes aponta no trabalho de 18 páginas que a sobreposição espacial e a finalidade do empreendimento “agravará os impactos pré-existentes na área e gerará novos vetores de pressão sem precedentes sobre a população de botos-cinza”. Entre os impactos, destacam-se:
- Perda de habitat e degradação ambiental: a dragagem gera uma alteração completa de fundo, uma nova topografia que será danosa aos recursos alimentares do boto-cinza, bem como as condições do habitat. Aponta que os impactos serão gravíssimos, permanentes e irreversíveis.
- Perda sócio-econômica e paisagística: a destruição da fauna de fundo, devido a dragagem, afetará todas as comunidades humanas litorâneas do entorno do empreendimento, principalmente a pesca e a vocação turística de Florianópolis e região.
- Poluição química: aumento de riscos de vazamento de óleo combustível devido a circulação de embarcações, que afetará a cadeia alimentar e as praias e populações da costa continental da Baía Norte, nos casos de vento nordeste. O vento sul lançará óleo sobre praias da Daniela e do Forte e sobre a Estação Ecológica de Carijós e APA Anhatomirim. O óleo das atividades industriais do estaleiro será conduzido ao mar, assim como os resíduos industriais, destacando-se o TBT (tributyltin), procedente de tintas anti-incrustrantes aplicadas nos cascos de navios e plataformas. Essa substância atua diretamente na supressão do sistema imunológico.
- Poluição sonora: a implantação da obra, a dragagem e o tráfego de embarcações geram ruídos prejudiciais aos botos, podendo levar ao abandono da área, por atrapalhar a orientação, a comunicação e a busca de alimentos.
(PortoGente/Redação)