Ou seja, a estatal, que já tem imensa influência, aumenta ainda mais seu poder de decisão no âmbito da cadeia produtiva. Resta saber como utilizará todo esse cacife. A questão preocupa muito o mercado, pois é fundamental garantir que a fusão verticalize os ganhos, incluindo a indústria transformadora do plástico, cuja produção tem imensos reflexos na economia, à medida que está presente em praticamente todos os setores.
Automóveis, aviões, eletroeletrônicos, construção civil, brinquedos, linha branca, embalagens, sacos para numerosas finalidades, computadores e móveis, dentre outros produtos e bens de consumo, têm componentes plásticos. Portanto, não é difícil imaginar o impacto do custo da matéria-prima — as resinas — no conjunto de preços internos, no poder de compra da população e nas exportações, disputadas palmo a palmo com concorrentes poderosos, como a China.
As empresas transformadoras do plástico, que têm demonstrado sinergia e coesão no sentido de trabalhar pelo constante aperfeiçoamento de seu mercado, entendem, de maneira unânime, que a fusão das petroquímicas significa oportunidade única de se corrigirem distorções históricas e de se estabelecer com critérios técnicos uma política adequada de preços para as resinas. Também deve propiciar a ampliação e fortalecimento das exportações, por meio do excelente programa Export Plastic, coordenado pelo Instituto Nacional do Plástico (INP), com o apoio Apex-Brasil). A meta a ser perseguida é implementar as vendas externas dos produtos plásticos transformados, de maior valor agregado do que as resinas e geradores de mais empregos e renda.
Considerando todo esse potencial favorável, não se pode cogitar, em hipótese alguma, a utilização dos privilégios inerentes ao grande poder da Petrobras como fator impositivo de preços artificiais à cadeia produtiva. É preciso enfatizar que a estatal já detém o processamento da nafta, matéria-prima para a petroquímica de segunda geração. O domínio sobre esse insumo, somado ao controle também da produção de resinas termoplásticas, significa gigantesca capacidade de influência. O eventual aproveitamento dessa força para se estabelecer política distorcida de preços, em conflito com a lei da oferta e da procura e com a oscilação natural das commodities, conspiraria de modo contundente contra a competitividade de toda a cadeia produtiva. Mais do que isso, afetaria de modo negativo a economia nacional, devido ao peso e impacto dos plásticos em praticamente todos os setores.
O Brasil vive um momento favorável! Foi um dos primeiros países a emergir da crise mundial e sediará a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, competições que estimulam investimentos, fomentam a infraestrutura e suscitam ingresso substantivo de divisas. É, ainda, a nação com as melhores condições de agregar fontes renováveis e combustíveis limpos à sua matriz energética, tornou-se autossuficiente na produção de petróleo e terá uma das maiores reservas internacionais quando iniciar a prospecção das jazidas da camada pré-sal. É necessário utilizar todos esses trunfos de maneira inteligente, de modo a ampliar a competitividade, pavimentar um atalho seguro ao desenvolvimento e promover um eficaz processo de inclusão social e melhoria da qualidade da vida.
Inclui-se nesse contexto a gestão estratégica, norteada pelos interesses nacionais, da ampliação do já enorme poder da Petrobrás na cadeia do plástico. É preciso compreender que está em jogo a demanda de insumos fundamentais para os sistemas produtivos brasileiros. Trata-se, portanto, de uma questão que transcende ao universo setorial das indústrias transformadoras do plástico e à sua cadeia produtiva. É um tema de amplas repercussões e imenso interesse de toda a sociedade!
*Merheg Cachum é presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria do Plástico (Sindiplast).