Nascido na Itália, em 1941, o pesquisador da Coppe, Giuseppe Bacoccoli, se mudou para o Brasil com sua família, em 1957, acompanhando seu pai que era engenheiro e veio trabalhar no Rio de Janeiro. Naturalizou-se brasileiro, em 1969, e atuou por 34 anos na Petrobras. Na Coppe, ingressou no ano 2000, no Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (Lamce) da Coppe. O pesquisador, um dos maiores especialistas do país em exploração e produção de petróleo e gás, se revelou um dedicado mestre. Adorava discutir com seus alunos projetos e estudos que resultariam em teses de doutorado e dissertações de mestrado. Afinal, tudo envolvia o seu tema favorito: o petróleo.
No ano passado, lançou seu primeiro e único livro, O Dia do Dragão, uma autobiografia que conta a história e as experiências por ele vivenciadas. Na obra, Bacoccoli analisou de forma minuciosa e reflexiva o “mundo” do petróleo, retratando os fatos mais marcantes por ele vivenciados, deixando um importante legado sobre o tema para futuras gerações. Em ‘O Dia do Dragão: Ciência, Arte e Realidade no Mundo do Petróleo’, o autor apresenta casos antológicos: alguns curiosos, outros históricos, todos marcantes, fruto de sua vida profissional.
Bacoccoli começou a se interessar pelo tema petróleo, aos 23 anos, num estágio de verão na Petrobras, em 1964, na Bahia. No final do ano concluiria o curso de Geologia pela UFRJ. Nunca tinha cogitado em atuar na área petrolífera, mas depois desse estágio
ficou literalmente apaixonado pelo trabalho de “correr atrás de petróleo”. No ano seguinte, ingressou na Petrobras, por meio de concurso público, e foi parar exatamente na Bahia, onde permaneceu três anos e meio. Bacoccoli passava a maior parte do seu tempo em trabalho de campo, na Bacia de Tucano, no Recôncavo Baiano, atuando em sondagem e exploração. Em seguida, acompanhou a abertura dos primeiros poços do Espírito Santo.
Nos anos de 1967 e 1968, começaram as atividades da Petrobras no mar. A empresa criou um órgão especial, que mais tarde fora extinto, denominado Seplal (Serviço Especial da Plataforma Continental). Bacoccoli disse em entrevista ao Planeta Coppe que teve a honra de ser um dos primeiros profissionais a ser selecionado para atuar no novo órgão.
“Era um negócio diferente, não se sabia como trabalhar no mar. Os técnicos foram escolhidos a dedo, alguns engenheiros, geólogos e geofísicos, poucos, muito poucos, para serem treinados para começar a trabalhar no mar. E nessa primeira chamada, fui convocado para trabalhar no Rio de Janeiro, junto com alguns colegas, engenheiros, geólogos e geofísicos, o que para mim foi uma satisfação porque eu retornava ao lugar onde tinha minha família, meus amigos, e tudo mais. Retornava ao Rio, onde havia estudado. Retornei então para trabalhar no mar” disse o pesquisador. Bacoccolli trabalhou no primeiro poço em mar no Brasil, perfurado em junho de 1968, no Espírito Santo, pela Vinegarroon. Acompanhou a operação desde o início.
“Trabalhei no primeiro poço no mar. O segundo foi o de Sergipe, perfurado pela Petrobras 1. Trabalhar nesse poço era um negócio diferente. Primeiro, porque sabíamos muito pouco. Depois, só se falava inglês a bordo da plataforma: todo mundo era americano. Os operários eram texanos, os engenheiros eram americanos, tinha um engenheiro da Petrobras, um geólogo da Petrobras… não tinha helicóptero. A viagem era feita de barco, em umas lanchas. Uma viagem horrível. A gente saía de Vitória e levávamos oito horas de lancha. No início parecia até gostoso, mas quando o mar estava revolto, todo mundo enjoava, passava mal, era terrível”, relembrou Bacoccoli.
Bacoccoli coordenou o Plano Qüinqüenal de Exploração, que vigorou de 1980 a 1985, e foi criado para solucionar o problema do aumento do preço do petróleo, que começou com a crise iniciada em 1979. O país precisava produzir mais petróleo para substituir o caro petróleo importado. O Plano do governo tinha como meta chegar em 1985 com 500 mil barris por dia. De acordo com o pesquisador, em 1980 a produção brasileira era de 200 mil barris.
“Chegar a 500 mil barris era um senhor salto, envolvia tecnologia e investimento. Elaborei e acompanhei o plano. Ele foi cumprido, a muito custo, com um investimento muito alto. No final de 84 já estávamos produzindo 500 mil barris por dia, coisa que ninguém acreditava que pudéssemos fazer. Foi o primeiro salto de escala. Uma verdadeira operação de guerra”, relatou.
Em 2007, quando foi anunciada a primeira grande descoberta de reserva de petróleo e gás na camada do pré-sal, o pesquisador da Coppe foi um dos profissionais mais requisitados para falar sobre a viabilidade técnica da exploração e sobre os desafios tecnológicos do setor. Não poupou palavras e se manteve otimista. Costumava dizer que era grande o desafio, embora menor que o do passado. Acreditava na competência da Petrobras e na tecnologia brasileira.
Casado com Joana Bacoccoli, com quem teve duas filhas, Carolina e Letícia, Giuseppe Bacoccoli faleceu dia 18 de novembro, aos 68 anos.