Este último ponto, aliás, carece de extrema atenção. Afinal, há que se pesquisar muito para saber se a produção de álcool de cana brasileira alcançaria a rentabilidade que possui, caso as centenas de milhares de trabalhadores do setor fossem adequadamente remunerados pela sua altíssima produtividade e recebessem condições de trabalho que lhes retirassem do século 18 e finalmente os apresentassem ao século 21. Afinal, mesmo que a cultura de cana fosse totalmente mecanizada, ainda assim vários milhares de braços de homens e mulheres continuariam a ser utilizados nessa indústria, que está no centro da estrutura de poder fundiário e patrimonialista que impera no Brasil desde a era das capitanias hereditárias.
De acordo com o repórter Mauro Zanatta, do Valor, os pesquisadores de Embrapa, do IBGE, da Unicamp, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que elaboraram o estudo para o Ministério da Agricultura, levaram em consideração dados de clima, solo, relevo e de capacidade de captação de chuva para apontar as áreas que têm maior probabilidade de manter inigualáveis as condições naturais para produção do combustível.
O objetivo seria subsidiar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em sua política de concessão de crédito para o setor (entre operações aprovadas e contratadas, há projetos no total de R$ 6,5 bilhões) e afastá-lo da Amazônia. Esse é o único objetivo do estudo. Ele visa a blindar o programa nacional de etanol de críticas dos adversários, que sempre utilizam a falta de atenção brasileira à Amazônia como arma de disputas comerciais. É para isso que, até aqui, tem servido o zoneamento: evitar ataques políticos ao etanol, que se transformou na grande vitrine internacional do governo Lula após o fracasso da tentativa de emplacar o combate à fome como outdoor global do petista.
* Carlos Tautz é jornalista e pesquisador do IBASE.
(Envolverde/O autor)