Reflexões

O preço do petróleo flerta com valores, inimagináveis alguns anos atrás, de 100, 110, 120USD o barril. E agora? É possível divagar, enquanto um pressuroso empregado enche o tanque do nosso possante automóvel.
Para a alta do produto conspiram alguns fatores sendo o primeiro e mais óbvio a escassez cada vez mais próxima. No passado, houve quem vaticinasse o esgotamento das reservas por volta de 2010. Evidentemente, esses arúspices morderam a língua, a caneta ou o teclado da (sim, isso se usava) máquina de escrever. Novas descobertas e novas técnicas empurraram a data fatal algumas décadas (quantas seriam?) para frente. A lei da oferta e da procura, sempre em vigor, associada aos custos crescentes de extração jogaram os preços para o alto. Um comportamento malthusiano algo brega. 

Por outro lado, com os abalos do sistema financeiro mundial – o Brasil ainda é uma ilha de tranqüilidade num mar proceloso – os capitais, em busca de refúgio, escolheram as commodities como porto seguro, gerando uma bolha especulativa. Até onde irá? Ninguém sabe ao certo, embora se possa afirmar, sem possibilidade de erro, que será até seu inevitável estouro. Depois de recordes de alta, a especulação poderá levar a recordes de baixa também.
O efeito da alta sobre a inflação mundial é inevitável, uma vez que o petróleo afeta a matriz de transportes, que, por sua vez, integra os custos de matérias primas, alimentos etc. já que não há meios de fazê-los chegar do produtor ao consumidor sem o ônus de um deslocamento cada vez mais caro. As empresas aéreas acusam o impacto, a indústria petroquímica não fica indiferente, o ciclo da alta parece inescapável.
E nós com isso? Por enquanto, não se fala em reajuste de gasolina, estável desde 2005, quando se tomou por base o preço do barril a USD 64,08. Outros tempos e outro dólar, com certeza. Essa estabilidade se deve ao comportamento da Petrobrás que por vezes atua como se não fosse empresa pertencentes a acionistas, e sim, apenas ao Governo. Antes que uma onda de indignação percorra a sociedade, é importante dizer que, diante do aumento da frota flex não há espaço para uma alta proporcional à do barril de petróleo. O nosso tão atacado etanol servirá para suavizar a alta e suas conseqüências sobre a inflação auriverde.
Não podemos nos esquecer de que, já faz um tempinho, proclamamos nossa auto-suficiência em petróleo. Trata-se de um conceito que mistura o ufanismo à estatística, uma vez que continuamos importando petróleo e exportando nossa gasolina de qualidade duvidosa. A balança comercial "petróleo'" é deficitária, mas tudo bem. Isso se deve a uma plataforma rebelde, à contratação de outra que demorou e por aí vai. Mas quem irá partir para a chicana com essas picuinhas?
Por enquanto o etanol nos blinda na bomba e ainda não o faz na indústria petroquímica.
Restam duas dúvidas.
Por ocasião do primeiro choque petrolífero, a rainha da Holanda saiu pedalando um modesto velocípede. Hoje, saúda-se a escalada de preços dos combustíveis com a produção de veículos de alta cilindrada, muito adequados para trafegar pelas artérias congestionadas das metrópoles. É a demanda indiferente à oferta, um masoquismo mal explicado. Ainda pelo lado da demanda, é o caso de se perguntar se é imprescindível, nas condições do inverno do hemisfério norte, transformar residências, lojas e escritórios em verdadeiras saunas. Abrir mão de um ou dois graus colocaria em ordem esse desequilíbrio? Ninguém pensou nisso, ou quem deve economizar é sempre o vizinho?
Finalmente, sabendo que o Brasil auto-suficiente em petróleo continua com balança comercial deficitária nesse quesito, por que diabo altas de petróleo são consideradas motivo para a alta das cotações da Petrobrás?


*Alexandru Solomon é escritor, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas. Tem seu recente romance´Não basta sonhar` (Ed. Totalidade) disponível nas livrarias Cultura (www.livrariacultura.com.br), Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br) e Laselva (www.laselva.com.br). | E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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