A indústria petroleira latino-americana caminha de forma desigual para práticas menos agressivas ao meio ambiente.
Caracas, 14 de abril (Terramérica) - Os anos sob o escrutínio público, as tecnologias modernas, leis e controles estatais, a responsabilidade empresarial e a necessidade de eficiência começaram a melhorar o desempenho ambiental da prospecção e exploração de hidrocarbonos na América Latina. "Nossa linha torna incompatível explorar a riqueza no subsolo enquanto na superfície as populações vivem na pobreza", disse ao Terramérica Juan Bravo, gerente da área ambiental do consórcio estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA) na Faixa Petrolífera do Orenoco. Durante décadas, a exploração de petróleo e gás na Venezuela contaminou campos, rios, lagos e cidades, e deixou crescer cinturões de miséria junto às instalações que produziam a riqueza.
Desde a
nacionalização da empresa (1976), nenhum negócio de hidrocarbonos é aprovado sem
projetos de melhoria social e cuidado ambiental. Ao estender um gasoduto entre o
norte da Colômbia e o da Venezuela, a PDVSA destinou US$ 15 milhões dos US$ 150
milhões investidos em programas para as comunidades das áreas por onde passava.
Na Faixa, de 550 quilômetros quadrados com depósitos estimados em 1,2 bilhão de
barris (de 159 litros) de óleo muito pesado (pelo menos um quinto recuperáveis),
a PDVSA e seus sócios de 30 companhias estrangeiras extraem meio milhão de
barris por dia.
"Em boa parte, os êxitos ambientais se devem aos novos
códigos de conduta das companhias energéticas globais. Não entram em nenhum
negócio sem ver o estado do território ou sem fazer auditorias ambientais",
disse ao Terramérica o engenheiro de petróleo venezuelano Diego González. Por
exemplo, ao contrário de campos tradicionais do ocidente venezuelano varado por
milhares de perfuradoras verticais, agora se perfura horizontalmente: quando a
broca chega ao nível da jazida no subsolo, as bombas hidrosubmergiveis extraem o
petróleo de vários pontos, sem alterar nem mesmo a paisagem da superfície,
explicou González.
No Brasil, a Petrobras "executa projetos de
monitoração que avaliam o meio ambiente antes da implantação de empreendimentos
de perfuração ou produção", particularmente na Bacia de Campos, nordeste do Rio
de Janeiro, disse a empresa em uma declaração escrita entregue ao Terramérica.
Os estudos "identificam restrições à localização das unidades (de perfuração e
dutos), diante da existência de ecossistemas importantes, como corais de água
profunda, para propor alternativas de menor impacto ambiental. Além disso, são
monitorados todos os efluentes lançados, como água de produção, efluentes
sanitários, cascalho e fluido de perfuração", afirmou a Petrobras.
No
Equador, outro país produtor de petróleo, a reclamação ambiental chega com um
forte repasse de fatura por causa dos danos à Amazônia causados pela
multinacional ChevronTexaco, durante 25 anos, e que deveria levar a indenizações
entre US$ 7 bilhões e US$ 16 bilhões, quase o que fatura anualmente essa
corporação, segundo peritos equatorianos. Essa contaminação, causada por mais de
600 desaguadouros de dejetos de petróleo, escaldou de tal modo a sociedade
equatoriana que deu lugar a um vasto movimento ecológico, com apoio
internacional, pela não exploração, na Amazônia, dos campos de Ishpingo,
Tambococha e Tiputini – nos quais a Petrobras está interessada – com a
finalidade de preservar espaços do Parque Nacional Yasuní.
"Casos como os
do Brasil e do Equador tendem a evitar os vazamentos de petróleo, com a melhoria
constante das tecnologias. Em parte, devemos isto ao início da exploração no Mar
do Norte há mais de 30 anos", disse González ao Terramérica. Ao contrário das
grandes explorações - no México, Venezuela, Golfo Pérsico ou Arábico, ou na
extinta União Soviética -, que precederam legislações e considerações
ecológicas, as que Grã-Bretanha e Noruega autorizaram, sob o leito do Mar do
Norte, chegaram nos anos 70 e tiveram de se ajustar a rígidas normas ambientais.
Além disso, para tornar rentável a exploração de petróleo nessa área e não
desperdiçar nem um barril, as companhias precisaram desenvolver tecnologias
modernas e seguras, depois exigidas pelos órgãos reguladores em outros
países.
Os vazamentos continuam sendo a dor de cabeça de empresas como a
Petróleos Mexicanos (Pemex), com sério declive de suas jazidas e que destina 1%
de seus US$ 17,16 bilhões de orçamento a questões ambientas. Dos 24 mil barris
de petróleo da Pemex derramados a cada ano, um terço tem origem em roubo em seus
dutos, segundo a empresa. Os grupos ambientalistas a identificam como a empresa
mexicana que mais contamina e responsável por 57% das emergências ambientais. No
código de conduta da companhia, como no de outras empresas do setor, o primeiro
ponto é "respeitar e melhorar o meio ambiente" e seus 155 mil funcionários são
proibidos de "considerar mais importante a produção do que o equilíbrio
ecológico".
A venezuelana PDVSA fez planos de manejo para os 28 blocos
em que dividiu os 21 mil quilômetros quadrados, nos quais atualmente trabalha na
Faixa do Orenoco. Novos mapas e reconhecimentos das áreas "permitem decisões
sobre os melhores locais e rotas para instalações, estradas ou tubulações, e
também trabalhar cada bacia como um projeto, começando por reflorestar a fim de
capturar dióxido de carbono, enquanto prossegue a atividade petroleira", disse
Bravo. Por sua vez, González reconheceu que "o armazenamento de petróleo já não
representa problemas, porque cada tanque ou estação de fluxo tem uma proteção -
em forma de espaço amuralhado - para contenção de vazamentos equivalentes a uma
vez e meia a capacidade dos depósitos". Entretanto, para converter em sintéticos
leves o petróleo pesado na Faixa, a extração "gera novos problemas ambientais,
devido ao seu alto conteúdo de enxofre e metais, que devem ser armazenados ou
transportados para a venda, mas cujos mercados não são tão fáceis como o do
petróleo", destacou. A produção na Faixa, de 600 mil barris diários – um quinto
do total venezuelano – deixa a cada dia 1,6 mil toneladas residuais de enxofre e
14,5 mil de coque.
O coque é insumo da indústria siderúrgica e é vendido
na Venezuela, e os derivados do enxofre são exportados, para utilização na
fabricação de adubos, agroquímicos, borracha vulcanizada, tintas, entre outros.
Porém, o armazenamento e o transporte do enxofre têm altos custos financeiros e
ambientais. "Se for cumprida a intenção do governo de produzir na Faixa até
quatro milhões de barris por dia de petróleo, a cada jornada deixará mais de dez
mil toneladas de enxofre e quase cem mil de coque", disse González.
A PDVSA
convidou empresas do Brasil, Argentina, China, Espanha, Índia, Irã, Rússia e
Uruguai para que a ajudem a certificar que podem ser extraídos da Faixa 236
bilhões de barris de petróleo, o que colocaria a Venezuela como uma das maiores
reservas do planeta.
* Com as colaborações de Mario Osava (Brasil),
Kintto Lucas, (Equador) e Diego Cevallos (México).