Amazônia é alvo de nova campanha difamatória

Biocombustíveis ameaçam interesses europeus. Reação já começou. Com os minérios foi assim.

BRASÍLIA — Após as intensas denúncias de destruição da Amazônia, o Brasil e a própria Amazônia são agora alvo de mais uma campanha difamatória no exterior. Desta vez, o vilão é a produção dos biocombustíveis, particularmente o etanol. Autoridades européias e o Banco Mundial (Bird) têm patrocinado uma "onda crescente e injustificável" contra os biocombustíveis brasileiros. Com a tenologia que possui o Brasil se tornará em pouco tempo auto-suficiente na produção dessa energia, o que, de fato, se constitui em ameaça aos interesses internacionais.


Pressões idênticas ocorreram, e ainda ocorrem hoje, com relação à exploração dos minérios brasileiros. O maior exemplo foi o das minas de Pitinga, em Presidente Figueiredo (AM), descobertas na década de 1970 pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). O maior obstáculo foi o enfrentamento ao cartel internacional do estanho, o temido Tin Brothers. O cartel fez de tudo para quebrar o concorrente, inclusive um dumping: baixou o preço da tonelada de US$ 15 mil para US$ 3 mil.

Atualmente, as usinas do Pitinga pertencem à Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Na Amazônia, a maioria dos alvarás de pesquisa e larva pertecencem à Vale. Hoje, Pitinga é a maior mina de tântalo do mundo. Esse metal é de alto valor devido às suas propriedades intrínsecas que englobam: excelente ductilidade, resistência à corrosão, alto ponto de fusão e ebulição e boa condutividade térmica e elétrica. O tântalo já foi muito usado como fio em filamentos de lâmpadas tendo sido substituído pelo tungstênio, que apresenta menor custo.

Amazônia produz 40 mil barris de petróleo

Outro exemplo de pressões ao interesses do Brasil ocorreu no caso das prospecções de petróleo na Amazônia. Coronel da reserava do Exército, Gélio Fregapani conta no livro Amazônia — A grande cobiça internacional um episódio que diz tudo: "Certa vez, na Venezuela, geólogos comentaram comigo: "Não compreendo os geólogos brasileiros, todo mundo sabe que as maiores jazidas de petróleo estão na bacia do Rio Negro, mas a mais de dois mil metros. Vocês só furam até mil. Parece até que não querem encontrar".

Suspeitou-se, à época, que o especialista norte-americano Walter Link — contratado para orientar as pesquisas — estivesse sabotando o Brasil. Nada ficou comprovado, mas a desconfiança não acabou. Pelo contrário. Aumentou ainda mais entre os militares que serviam na Amazônia com o episódio de Nova Olinda. Na pequena localidade às margens do Rio Madeira jorrou petróleo.

Em vez de explorar o petróleo, os pesquisadores lacraram o poço e interrromperam as pesquisas no local. À época, a explicação dada era a de que a quantidade de petróleo não seria comercial. Um mês depois, o poço jorrou novamente. As pessoas, então, passaram a usar o óleo em lampiões. A Petrobrás só veio descobrir tempos depois. E, novamente, lacrou o poço.

Anos mais tarde constatou-se que os argmentos dos geólogos venezuelanos eram corretos. Decobriu-se, a dois mil metros de profundidade, jazidas de petróleo nos rios Urucu e Juruá. Atualmente, a Petrobrás explora a província petrolífera em Coari, no Amazonas. Ela produz 40 mil barris de petróleo 950 toneladas de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) por dia. A produção daria para abastacer toda a Amazônia.

Com a exploração do petróleo, Coari recebeu, em 2005, a bagatela de R$ 46,6 milhões em royalties. Em cinco anos, a soma de recursos só para Coari atingiu R$ 154,7 milhões. A tendência é que esse valor dobre com o advento do viaduto Coari-Manaus e o início da exploração do gás natural.

Biocombustíveis ameaçam interesses

Para os europeus, o impacto dos biocombustíveis será grande nos preços das commodities agrícolas. Veicula-se, também, que o plantio de cana-de-açucar para a produção desses combustíveis vais destruir ainda mais a Amazônia. Mais um equívoco, segundo pesquisadores e autoridades do governo.

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirmou semana passada, na Câmara, que não há necessidade de derrubar mais nenhuma árvore na Amazônia para expandir a pecuária e a agricultura. Para isso, basta o Brasil aproveitar os 165 mil km² de áreas degradadas que possui. Em 2007, as derrubadas aumentaram 13% — a Amazônia perdeu 3.235 mil km², o equivalente a 320 mil campos de futebol.

"Não existe o menor sentido no alarme criado por autoridades da União Européia e do Banco Mundial, responsabilizando o aumento da produção de biocombustíveis pela explosão geral dos preços dos alimentos", avalia o senador João Tenório (PSDB-AL).

Presidente da Subcomissões de Biocombustíveis do Senado, Tenório avalia, por exemplo, que a hipótese de food X fuel alegada pelos europeus é irreal. Na verdade, segundo ele, a campanha contra os biocombustíveis do Brasil visa esconder o foco do problema : o desequilíbrio na distribuição de riquezas. Tenório defender a a formação de uma Frente Pro-Bioenergia, envolvendo os Poderes Executivo e Legislativo, além da iniciativa privada.

Tenório também rebate os questionamentos sobre a vantagem ambiental dos biocombustíveis e as tentativas internacionais de apontar o etanol como ameaça potencial à preservação da Amazônia. Neste último aspecto, ponderou que a região não é apropriada para o cultivo da cana-de-açúcar, que precisa de uma determinada quantidade de chuva e de um período seco para se desenvolver.

(Envolverde/Agência Amazônia)

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