Oakland, janeiro/2008 (IPS) – “Estamos ficando sem petróleo!”. Ouvimos este lamento pelo menos desde as crises do petróleo na década de 70. Mas, nos últimos tempos escutamos tal advertência com freqüência cada vez maior. A idéia de que logo começará a escassear o ouro negro vem desde 1956, quando o geólogo da Shell M. King Hubbert declarou que tínhamos petróleo para no máximo 50 anos. Esta tese, popularmente conhecida como “O teto do petróleo” ou “ O teto de Hubert”, se baseia em suas estimativas sobre as reservas de petróleo e a sempre aumentando demanda por energia.
Caso Hubbert tenha razão, a produtividade dos poços de petróleo deveria
estar em queda livre precisamente nestes dias. Se assim fosse, minha
próxima viagem em meu Toyota Echo poderia ser a última que faria com
meu automóvel. Mas, realmente estamos ficando sem petróleo? Longe
disso, ao terminar 2007 as reservas exploráveis de petróleo estavam bem
acima do bilhão de barris. A atual demanda petrolífera, de acordo com a
Energy Information Administration dos Estados Unidos, é de 86 milhões
de barris diários.
Desde os tempos de Hubbert, as tecnologias para a exploração
petrolífera melhoraram a uma velocidade vertiginosa e levaram à
descoberta de depósitos em lugares que ninguém poderia imaginar algumas
décadas atrás. E as novas tecnologias para extração agora tornam
possível obter petróleo em lugares cada vez mais remotos e de formações
geológicas que antes pareciam impenetráveis.
Portanto, os altos preços da gasolina e da eletricidade nada têm a ver
com a suposta escassez de petróleo. A crença na veracidade do “Teto do
petróleo” por certo fez muitos cidadãos e consumidores aceitarem sem
protesto os altos preços da energia. Mas, não culpem Hugo Chávez nem os
árabes. Quando os preços do petróleo sobem, os que mais ganham são os
acionistas das companhias petrolíferas.
Mas a demanda continua aumentando. As previsões do governo dos Estados
Unidos são de que o consumo de energia em todo o mundo aumentará 71%
entre 2003 e 2030. Assim, o fim do petróleo será apenas um pouco depois
do que Hubbert previu? Certamente que não, porque o Canadá tem jazidas
de areias betuminosas que contêm as maiores reservas de petróleo do
mundo depois das existentes na Arábia Saudita. Alguns especialistas
afirmam que nada acontecerá com essas reservas canadenses já que é
muito caro extrair petróleo delas por conterem uma problemática mistura
de betume, ária, argila e água.
Mas, na medida em que o preço do petróleo ultrapassar, como está
ocorrendo, a barreira dos US$ 100 o barril, será lucrativo extraí-lo de
lugares onde antes não valia a pena fazê-lo. A empresa British
Petroleum está explorando na província canadense de Alberta um depósito
de areia betuminosa de 54 mil milhas quadradas. E isto é apenas a
vanguarda de uma nova corrida pelo petróleo, desta vez em latitudes
boreais. A separação do petróleo das areias betuminosas lança quatro
vezes mais CO² na atmosfera, o que acabaria com toda a esperança de
enfrentar a mudança climática.
Isto seguramente explica a obstinada e obstrucionista atitude do
governo canadense na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança
Climática realizada em dezembro em Bali (Indonésia). O Canadá, junto
com Estados Unidos e Japão, se recusou a aceitar cortes nas emissões de
gases causadores do efeito estufa da ordem de 40%, originalmente
propostos pelos países europeus, e os reduziu a 25%.
Por outro lado, se ficarmos sem petróleo ainda teremos carvão para
queimar durante séculos. A corrida agora consiste em como desenvolver
uma maneira economicamente viável para transformar o carvão em
combustível líquido para veículos. Em outras palavras, ainda temos uma
quantidade de combustíveis fósseis. Não acabarão nesta nossa vida, como
muitos ambientalistas esperam. O planeta irá aquecer ainda várias vezes
antes de ocorrer uma verdadeira escassez de carvão ou petróleo.
Somente a ação dos ativistas e dos políticos pode salvar o planeta do
aquecimento global. Não podemos nos dar ao luxo de ficarmos sentados
para esperar por um “fim do petróleo” que não chegará. (IPS/Envolverde)
* Carmelo Ruiz-Marrero, jornalista e pesquisador no Oakland Institute http://www.oaklandinstitute.org
(Envolverde/ IPS)