EDUCAÇÃO E SAÚDE, CORREDORES DA MORTE

Vivo a sexta-feira da paixão. Recordo meus tempos de criança e
pareço ver o quadro da Santa Ceia na parede da sala da minha casa
coberto com uma toalha de rendas da cor preta. Minha mãe fazia o
luto pela morte de Jesus Cristo.

A velha Joaquina já havia visitado a igreja e, de joelhos,
rezara o terço em agradecimento pela remissão dos pecados da
humanidade. Nas casas dos nossos vizinhos o clima era o mesmo, um
misto de tristeza e devoção.

Nesse dia, sem pressa, a turma chegava ao nosso ponto de
encontro. Afinal não precisava ter pressa, era tudo proibido, as
peladas, o gude, os palavrões, as brigas, a azaração das meninas.
Comer carne nem pensar.

Os bares, sempre lotados aos domingos e feriados, estavam as
moscas. Um ou outro pinguço contumaz tomava conta do balcão e olhava
desanimado o copo de cachaça depositado a sua frente. Também chorava
a morte do filho de Deus ou a falta de companhia para mais um
memorável porre?

Escuto o telefone tocar. Desperto do meu saudosismo e atendo. Um
parente da minha mulher desesperado me pedindo ajuda. Tem um tio
internado na Policlínica de Vitória, uma unidade de saúde mantida
pela prefeitura da capital do estado. Sofrera um derrame.
Então ouço um relato impressionante. Na policlínica não existem
recursos para dar o devido atendimento ao paciente que já tivera um
ataque cardíaco. Os médicos informaram aos parentes que se o
aposentado não fosse imediatamente transferido para outro hospital o
óbito seria inevitável. Dizem mais, que já tentaram de tudo para
conseguir a transferência e obtiveram a mesma resposta: não existem
vagas.

No Brasil as coisas são simples assim, ou a família se vira ou o
parente morre.

Prometo e entro no circuito. Falo primeiro com os médicos da
Policlínica que confirmam a história. Mais uma informação, o doente
sofreu o segundo ataque cardíaco. Não resistirá ao terceiro.
Conversei com o Dr. Fabrício e recebi um alerta de que transferência
só por milagre, ele já havia tentado em todos os lugares possíveis,
por telefone, por fax, por e-mail. O médico também estava revoltado.
Ligo então para a Central de Atendimentos. Nenhum responsável
pode, além da telefonista, atender ligações ou informar o que posso
fazer para salvar uma vida. Como a ligação é gravada, solto os
bichos, ameaço que se o paciente morrer vou fazer um escarcéu,
denunciar todo mundo. A atendente pede que eu aguarde. Minutos
depois retorna e me dá o número pessoal da Assessora de Comunicação
que está curtindo o feriadão. Falo então com a jornalista que me diz
ser porta-voz e não gestora e somente na segunda-feira poderia falar
a respeito.

Sem outra saída minto, digo que a ligação está sendo gravada e
ela também será responsabilizada pela omissão de socorro e a morte
do Sr. Francisco Ribeiro, que estarei repassando a notícia para os
plantões das redações da imprensa local e pedindo que seja
registrado o óbito ao vivo e a cores.

Finalmente consegui que a “porta-voz” ligasse para o presidente
do IESP e após alguns minutos fui comunicado que a remoção já havia
sido providenciada em uma ambulância UTI e o moribundo estava com
leito e atendimento assegurado no Hospital dos Servidores do Estado.
Graças a Deus a vida do Francisco Ribeiro foi salva.

O que precisa ser respondido pelos gestores da saúde pública no
Espírito Santo é: quantas vidas foram perdidas na sexta-feira da
paixão, simplesmente porque, era véspera de um feriadão e o sistema
funcionava em marcha lenta?

A saúde no Espírito Santo é um dos corredores da morte.

EDUCAÇÃO: CORREDOR DA MORTE II

Estou visitando os colégios da rede ensino público do município
de Serra (ES), vizinho à capital. Encontro cada educandário visitado
cercado por altos muros, portões de ferro fechados com correntes e
cadeados, os de entrada e os intermediários. Muito parecido com as
entradas de acesso aos presídios. As janelas protegidas com grades e
telas. Nos rostos das pessoas trabalhando é visível o medo, olham
desconfiadas para as que chegam ao estabelecimento.

As escolas funcionam das 7 da manhã os 21:30, cursos fundamental
e médio. Os alunos, diurnos ou noturnos, os professores, o pessoal
de apoio, todos, também enfrentam diariamente o pavor do ir e vir,
conscientes de que a qualquer momento podem sofrer ataques
criminosos diretos, não apenas o risco das balas perdidas.

Entre os alunos matriculados existem marginais infiltrados.
Andam armados, negociam drogas dentro das salas de aulas, recrutam
crianças e adolescentes para servir como soldados dos exércitos do
tráfico.

Neste ano já são dezenas as ocorrências de porte de arma em
escolas. Também são muitos os casos de disparos e vítimas, outros,
de atentados a faca.

A educação no Espírito Santo também é um corredor da morte.
Agora são 4:20 da madrugada de quarta-feira, dia 11 de abril.
Estou em frente ao computador já sendo vencido pelo cansaço. Tenho
que sair as 6:00 h. Por que faço isso? Por saber que há essa hora,
muitos trabalhadores dos turnos da noite terão que enfrentar na
volta para casa os mesmos perigos. Também irá acontecer com os que
já estão se preparando para uma nova jornada de trabalho e com os
estudantes.

As delegacias estão fechadas, só estão abertas as de plantão. O
policiamento ostensivo está recolhido em algum local incerto e não
sabido para um cochilo que ninguém é de ferro. Só o crime não dorme.

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