Uma situação complexa... na Penha e no Alemão!

Há muita coisa além, acima e por baixo dos desdobramentos da histórica operação policial nos complexos da Penha e Alemão. A cinematográfica fuga de marginais, morro acima e mata adentro na Vila Cruzeiro em direção ao Alemão desencadeou uma precisa reação das autoridades à caça dos fugitivos que, após as desafiarem com ações incendiárias por todo o estado, refugiaram-se na localidade tida como santuário da facção criminosa Comando Vermelho. O conjunto de forças e aparato policial utilizado na operação eliminou na raiz qualquer possibilidade ou tentativa de reação.

Em pouco mais de 40 minutos a missão foi dada por cumprida. Imagens de diversos canais de TV mostravam o interior da favela e as primeiras apreensões volumosas de armas e drogas, bem como mansões e esconderijos dos “poderosos” chefões daquela e de outras favelas, que ali se encontravam entrincheirados. Foram registradas, ainda, algumas prisões, rendições e entrega por pais, de traficantes da alta cúpula da facção. Comandantes das forças policiais vibravam e detalhavam as estratégias da retomada relâmpago e inacreditável do então temível território.

Sucedeu-se a partir daí diárias e volumosas apreensões e uma gigantesca força-tarefa dos órgãos públicos com o intuito de finalmente devolver e assegurar os direitos dos (agora respeitados) cidadãos de bem daquela região. Desde a retirada das barricadas que há décadas impediam o acesso às comunidades, até documentos essenciais como carteiras de Identidades e certidões de nascimento. Oportunidades como capacitação profissional, balcão de empregos e etc, tudo está sendo oferecido.

O mais intrigante de toda essa ação do poder público nesse processo de retomada e consolidação da presença do Estado, tem sido a forma parcial e marqueteira com que as intervenções vêm sendo tratadas. Se a operação teve início a partir de atos tresloucados da bandidagem da Vila Cruzeiro, após a derrocada do bando no Alemão, todas as intervenções sociais só estão acontecendo no Complexo, especificamente na Grota.

Não há um único ônibus-cidadão na favela da Penha. Serviços como reabastecimento de água e luz, remoção de lixo e entulhos e até simples operações de varredura estão sendo feitas a passos lentos e sem nenhum acompanhamento governamental ou midiático.

Começa, então, a verdadeira complexidade comum às duas comunidades; avolumam-se denúncias e reclamações de maus tratos, abuso de autoridades, violências físicas e danos materiais contra moradores nos domicílios e/ou pontos comerciais. Inúmeros grupos de defesa dos direitos humanos têm sido receptadores das reclamações e denúncias que vão desde o furto por policiais de quantias exorbitantes a valores ínfimos – uma idosa teve suas últimas moedas no valor de R$ 3,00 furtadas.  Houve até o relato de uma senhora que foi reembolsada pelo grupo Raízes em Movimento, uma ONG local, após ter sido lesada em R$ 250, valor que era destinado à suas compras mensais.

No próprio Complexo do Alemão, enquanto a Grota recebe tratamento hollywoodiano, localidades da própria comunidade como Inferno Verde, Areal e Poço do Caboclo não conseguem acreditar que algo possa ter mudado na região e com certeza acreditam ter trocado “seis por meia dúzia”.

Circula ainda por becos e vielas das duas comunidades, sobretudo na Vila Cruzeiro, que, do galope tomado pelos criminosos na tarde de 25 de novembro, ficou algo mais do que as imagens estarrecedoras. Segundo moradores e parentes vêm denunciando aos grupos humanitários, dezenas de marginais teriam sido mortos e abandonados nas matas na Serra da Misericórdia e junto à estrada utilizada para a fuga. Estes relatam ainda que as chuvas e a criação de porcos na região têm acelerado o processo de decomposição dos corpos e que o acesso a essas localidades tem sido proibido por militares de plantão nas proximidades.

São denúncias graves feitas por pessoas no limite de seus limites, que podem estar perpetuando a velha ditadura que impede as pessoas de enterrarem seus mortos, de chegar perto, de se despedir... Prática com as quais conviveram durante anos sob o domínio do tráfico. Rumores sem provas por enquanto e, provavelmente, com poucas possibilidades de comprovação. Dores que deverão ser eternizadas no coração de pais, filhos, vizinhos e amigos.

Condenados sem julgamento. Almas sem perdão. Ou boatos que visam tão somente a diminuir o impacto do maciço apoio popular que desta vez não veio apenas do asfalto, mas tem ganhado força a partir do contentamento e da esperança das dezenas de milhares de moradores daquelas comunidades.

Os moradores apóiam e querem mais e melhores investimentos, infraestrutura e oportunidades. Querem respeito e o reparo de tanto tempo deixados de lado, à margem da sociedade.

Tomara que a ocupação social e policial seja diferente das intervenções do PAC, que, quando percorridas no sentido oposto às obras, retratam inércia e abandono. O lado de fora não retrata a realidade de dentro. É muito complexo...

*Carlos Costa é jornalista, mediador de conflitos e ex- líder comunitário da Rocinha


FOTO
Crédito:
Fernanda Almeida/Ascom do governo do Estado do RJ


(Envolverde/Comunidade Segura)

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