Para encerrar a semana em que a imprensa virou notícia do começo ao fim, alguns dos principais jornais do país resolveram discutir o futuro do jornalismo diante das novas tecnologias.
O problema é que, em vez de falar do futuro, os participantes falaram do passado. Pelo menos foi o que deram a entender, ao demonstrar que ainda estão discutindo eventos que já aconteceram. Por exemplo, boa parte do tempo foi dedicada à integração das redações que produzem jornalismo de papel e jornalismo digital.
O evento chamava-se Media On 2010 – Seminário Internacional de Jornalismo Online – realizado em São Paulo sob patrocínio do Instituto Itaú Cultural e do portal Terra. Durante três dias, representantes da imprensa brasileira ouviram especialistas como Aron Pilhofer, editor de notícias interativas do New York Times, Matthew Eltringham, editor de mídias sociais da BBC de Londres e Susan Grant, vice-presidente executiva da rede americana CNN.
Estavam à disposição, portanto, responsáveis pelo que há de vanguarda no processo de transição dos suportes tradicionais da imprensa para os novos meios eletrônicos. No entanto, conforme observa o próprio Estado de S.Paulo na edição de sexta-feira (12/11), "no Brasil, as discussões sobre o tema ainda tratam das etapas da convergência entre a versão impressa e a atividade online", enquanto nos grandes jornais do Japão, Europa e Estados Unidos o braço digital assume o centro das operações.
Lanterna de popa
Dirigentes de alguns dos maiores jornais brasileiros encerraram o encontro procurando mostrar otimismo.
Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Estadão, disse que a chegada dos tablets com acesso à internet ajuda a resgatar o valor da edição, porque eles proporcionam o prazer da leitura com calma. Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha de S.Paulo, celebrou o fato de seu jornal haver integrado as redações, criando um núcleo captador de notícias que funciona 24 horas por dia.
Os dois representantes da grande imprensa abordaram a questão do resgate da reflexão na notícia, tanto no processo de produção como na leitura, mas não adiantaram como pretendem promover essa revolução em seus jornais.
O que tem faltado, e isso não depende de tecnologia, é justamente reflexão, que foi substituída pela imposição de opiniões: um elemento que pode ser chamado de "jornalismo de qualidade". Assim, com uma lanterna na popa, como dizia o ex-ministro Roberto Campos, a imprensa vai iluminando a retaguarda enquanto navega para um futuro incerto.
(Envolverde/Observatório da Imprensa)