Trata-se de um conflito de consciência que, em muitos casos, tem criado uma fragmentação pessoal entre o funcionário e o cidadão. O problema é complexo, no entanto, sua causa é positiva
A sociedade contemporânea tem vivenciado, em todo o mundo, uma nova tendência no contexto empresarial que pode influenciar a carreira profissional das gerações que estão chegando ao mercado de trabalho.
Boa parte dos jovens está atualmente frente a um dilema que merece uma reflexão mais profunda: obedecer aos ditames tradicionais das empresas que buscam, a qualquer custo, resultados financeiros cada dia mais expressivos ou optar por trabalhar em organizações que já desenvolvam outros valores, como a preservação do meio ambiente, a inclusão social das minorias e o respeito às diferenças individuais.
Trata-se de um conflito de consciência que, em muitos casos, tem criado uma fragmentação pessoal entre o funcionário e o cidadão. O problema é complexo, no entanto, sua causa é positiva. Afinal, esse dilema surge da preocupação de uma parcela crescente da sociedade com questões do mundo moderno e do futuro do planeta.
Há uma diferença significativa entre gerações. Por um lado, a chamada geração do pós-guerra, com idade entre 40 e 50 anos, buscou criar um mundo de paz e contribuiu expressivamente com a aceleração do crescimento bem como pela geração dos bons resultados nas empresas. Por outro lado, a geração que está chegando ao mercado privilegia novos valores e se sente cada dia mais responsável pela reconstrução do mundo. Tal geração exige uma visão diferenciada das organizações, com foco na redução do consumo ou, até mesmo, na mudança de várias linhas de produtos de modo a torná-los mais acessíveis às faixas de renda mais pobres.
Vale destacar também que tem sido crescente o número de empresas que se preocupam com essas novas questões, que originaram o conceito de sustentabilidade nas empresas. Tal denominação prevê a sustentação dos negócios em três pilares: resultados econômicos, a preocupação social e a preservação ambiental.
O que ocorre nos Estados Unidos hoje, principalmente após a eleição de Barack Obama, ilustra a necessidade de revisão de conceitos e conflitos de idéias de gerações diferentes. Os jovens norte-americanos têm se questionado, por exemplo, sobre a intervenção na Guerra do Iraque ou ainda na redução da emissão de CO2, em contraposição à manutenção de uma política de desenvolvimento com base em combustível fóssil e poluição com carbono.
São esses jovens que trazem para dentro das empresas um processo formativo relacionado à responsabilidade corporativa e que estão na ordem do dia no mundo contemporâneo. Eles vivem esse um novo dilema e têm dificuldade de conciliar os aspectos em questão.
Assim, essa nova geração, que valoriza mais sua realização pessoal e profissional do que o salário garantido no final do mês, deve assumir suas vontades e correr os riscos necessários. Pode ser que os talentos desses jovens não sejam facilmente reconhecidos, mas é fundamental cavar e criar novas oportunidades.
Os mercados do futuro irão se adaptar a esse contexto, porém esses jovens não devem se esquecer que é preciso também ter persistência e, principalmente, muita flexibilidade pessoal. Saber cativar espaços é diferente de ter uma postura de teimosia e inviabilidade profissional. Basta, portanto, confiar no talento pessoal, superar os dilemas e dar o salto em busca do futuro.
*Cláudio Boechat é professor e pesquisador do Núcleo de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa da Fundação Dom Cabral. Este artigo foi publicado originalmente no portal EcoDesenvolvimento.
(Envolverde/Instituto Akatu)
- Por Cláudio Boechat*