Tanto a série quanto o filme focarão principalmente o episódio - até hoje controverso - da renúncia. Segundo Valente, que trabalhou com Jânio e escreveu 12 livros sobre a vida do político, exi stem mais de 20 versões para o ato, mas ninguém sabe a verdadeira razão. O pesquisador promete revelar a correta na minissérie, que terá 12 capítulos e, se tudo der certo, começará a ser gravada em agosto. "Jânio não gostava de ser contrariado e quando isso acontecia, ameaçava renunciar ", diz.
Já há nomes cotados para os papéis. Alguns deles, no entanto, dependerão da aprovação da emissora de TV que produzirá a série. No páreo, segundo o biógrafo, estão a Record e a Globo. Mas ele garante que as negociações com a emissora da Barra Funda (zona oeste de São Paulo) são as que estão mais avançadas. Na Globo, o interesse teria partido do diretor Guel Arraes, filho do político Miguel Arraes, que, em 1961, após a renúncia de Jânio, defendeu a posse do vice-presidente João Goulart, não desejada pelos militares.
O próprio Nelson é o mais cotado para interpretar Jânio. Por trabalhar muito próximo ao presidente, ele incorporou os tiques e o modo de falar do político. Ele, inclusive, gravou, na mensagem da secretária eletrônica do seu celular, um recado imitando a voz de Jânio Quadros. Mas Nelson, que também é ator, diz que sua maior preocupação é de escolher alguém que não faça um presidente caricato. "Ele (Jânio) trabalhava a sua imagem no fio da navalha, entre o inusitado e o bonachão."
Paulo concorda e, por isso, tem pressa para definir o Jânio da ficção. "A escolha do elenco e do diretor praticamente ficam engessadas na escolha da emissora." Para o papel principal, são cogitados também Paulo Betti, que, em JK, interpretou José Maria Alkmin; além de Marcelo Anthony e Rodrigo Santoro.
Já para interpretar Che Guevara, condecorado pelo presidente na Guerra Fria, está cotado Thiago Lacerda, e para fazer o Senador Afonso Arinos, o ator Carlos Vereza. Saulo Ramos, que foi oficial de gabinete de Jânio e ministro da Justiça no governo de José Sarney, será o consultor do filme e da minissérie. Na direção, o nome mais falado é Alexandre Avancini. "Existem várias versões para a renúncia, a que eu mais gosto é a de que Jânio desistiu da presidência porque não gostava da comida do Palácio", brinca Nelson.
O escritor, no entanto, adiantou para a reportagem o que será mostrado na série. "A carta foi escrita cinco dias antes da entrega e datada com o dia 25 de agosto, Dia do Soldado. Ele não queria renunciar. Queria apenas chantagear o Congresso. A carta foi entregue ao ministro da Justiça Oscar Pedroso Horta, na casa do empresário José Ermírio de Moraes. Auro Soares de Moura Andrade recebeu uma fotocópia do documento, que foi lido no Congresso pelo deputado Gustavo Capanema", explica Nelson.
"Mostraremos que as 'forças terríveis" eram a igreja católica, os americanos e o Congresso Nacional." Passagens curiosas serão mostradas e mitos folclóricos, desfeitos, como as antológicas frases: "Fi-lo porque qui-lo", atribuída a ele para justificar a renuncia(na realidade, a frase correta foi 'Fi-lo porque quis', segundo Nelson); e "Bebo porque é líquido, se fosse sólido, comê-lo-ia", sobre o porque tomou bebida alcoólica durante a candidatura ao governo do Estado. O autor reforça que Jânio tinha obsessão por renunciar e, por várias vezes, nos cargos de prefeito e governador de São Paulo, escreveu cartas de renúncia. Nelson também não faz suspense sobre a última frase da minissérie. Será Jânio amaldiçoando a capital federal. "Brasília, cidade maldita. Nunca mais porei os pés aqui. Este Congresso não representa o povo brasileiro", teria dito .