A oportunidade diante da crise

Sem querer ser piegas, pregar ideais hippies ou “viajar na maionese”, pergunto: qual é a verdadeira riqueza de uma nação?

Uns logo apontariam que são os elementos que formam o PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, a soma de todos os bens e serviços de uma região. Nesse quesito, o Brasil emplaca um belo oitavo lugar entre os países mais ricos, estando acima de nações como Rússia, Espanha, Canadá, Índia e México.

Mas vem daí a resposta certa?

Quando vejo esses dados, sinto um cheiro de esquizofrenia no ar. Se o Brasil é um dos mais ricos do mundo, como a sua população não é?

A desigualdade social tupiniquim é famosa mundo afora. Os contrastes são evidentes. Só para ilustrar, basta olhar para a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, que fica entre os chiquérrimos bairros da Gávea e São Conrado, ou a favela Paraisópolis, cravada no nobre bairro do Morumbi, em São Paulo. Na lista dos países mais desenvolvidos, o dono do oitavo maior PIB amarga uma vergonhosa 70a posição, ganhando apenas da Índia e da China dentre os países citados anteriormente.

Então, apesar de se considerar riqueza apenas o que abrange aspectos econômicos e materiais, o valor de uma nação vai além disso. Está em tudo aquilo que engloba as características de um povo, como cultura, educação, saúde e liberdade. A meu ver, ser rico é ter e ser (principalmente ser) aquilo que os outros gostariam de ter e ser. Claro que aspectos financeiros entram nessa conta, afinal, o bem estar começa com o atendimento das necessidades físicas da população. Mas não se pode esquecer das necessidades intelectuais e culturais – não foi Jesus Cristo que disse que “nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai de sua boca”? -, além da garantia de que essas necessidades serão atendidas no continuar dos dias.

Portanto, se de um lado Anacondas e Tigres surpreendem com uma economia em ascensão, não se pode dizer o mesmo em relação aos seus aspectos socioambientais. Quem é que quer imitar um modelo de desenvolvimento que causa desigualdade, gera violência, enriquece com a destruição e esgotamento dos recursos naturais e impõe uma “quase-escravidão” a uma boa parte de seu povo? Aviso: não vale citar países miseráveis da África ou de onde for, que ainda não atingiram níveis mínimos de desenvolvimento!

Digo tudo isso, porque, na segunda-feira (12/4) assisti ao seminário “O Brasil e a transição para uma economia de baixo carbono”, evento organizado pela Carta Capital e pela Envolverde. O grande destaque entre os presentes foi a senadora Marina Silva, pré-candidata do PV à presidência da República. Se na conjuntura atual, ela tem menos chances de ser eleita do que os candidatos do PSDB, José Serra, e do PT, Dilma Rousseff, vale ressaltar que sua simples presença entre os presidenciáveis já elevou o nível do debate eleitoral no Brasil. Gostem disso ou não, agora não se defende mais um crescimento econômico somente pela graça de crescer. Os candidatos passaram a focar em crescimento sim, mas com qualidade.

No evento, ficou claro para mim que a crise climática pode ser a alavanca para levar o Brasil ao posto de potência mundial. Para isso, como explica Marina, é preciso empregar uma visão de futuro, de longo prazo, caso contrário, o país pode sofrer com o aumento das secas, a diminuição da vazão de água no Nordeste e ter comprometidas suas atividades agropecuárias, com destaque à agricultura de subsistência.

Porém, em um ambiente de mitigação das emissões dos gases causadores do efeito estufa, o país poderia facilmente brilhar entre as grandes potências mundiais: o Brasil conta com 11% de toda a água doce do mundo, matéria essa usada em qualquer tipo de indústria; tem as maiores áreas agriculturáveis do planeta; e também possui um grande potencial de desenvolvimento em setores de energia limpa e renovável, como eólica, solar e biomassa, além de biocombustíveis de segunda geração. Tudo isso, sem contar as florestas e seus serviços naturais.

Como diz a candidata, diante da crise, oportunidades não faltam. Mas ela ressalta que a transição do Brasil para uma economia de baixo carbono passa primeiramente pela educação. Por meio dessa ferramenta pode-se criar uma nova forma de ver o mundo, dando valor a elementos até então ignorados, como a floresta em pé, e, também, servir de alavanca para o crescimento econômico, pois juntamente com a geração de conhecimento cria-se novas formas de gerar riqueza.

Enfim, um povo educado é mais civilizado, tem condições de gerar mais conhecimento e tecnologia, sabe o valor de preservar suas culturas, costumes e o meio em que vive. Em última instância, um povo educado é um povo rico, com mais chances de ser feliz.

*Henrique Andrade Camargo é editor do Mercado Ético.

(Envolverde/Mercado Ético)
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