Inspirados pela Revolta da Armada
Imperial Russa, no Encouraçado Potemkin, um grupo de marinheiros se organizou,
sob a liderança de João Cândido Felisberto, o “Almirante
Negro”.
O estopim da rebelião foi a punição imposta ao marinheiro
Marcelino Rodrigues Menezes: 250 chibatadas, dez vezes mais do que o máximo
permitido no regulamento. O fato ocorreu uma semana após da posse do presidente
Hermes da Fonseca, que declarou que aceitaria as revindicações
dos amotinados. No entanto, dias após a entrega das armas e das embarcações,
a Marinha expulsou parte dos marinheiros. A anistia para João Cândido
só veio em 2008.
Participam desta edição, o historiador Marco Morel, o cineasta
Marcos Manhães que, em 2006 dirigiu o curta Memórias da Chibata;
e o compositor João Bosco que, ao lado de Aldir Blanc, imortalizou a história
de João Cândido Felisberto no samba-enredo Mestre-sala dos Mares.
Também estarão no programa, o Almirante Bittencourt, oficial reformado
pela Marinha Brasileira, e o jornalista Fernando Granato, autor do livro Negro
da Chibata.
Revolta da Chibata - Depoimento de João Cândido ao jornalista Edmar
Morel, primeiro livro a abordar este tema.
Trecho:
"Pensamos no dia 15 de novembro. Acontece que caiu forte temporal sobre
a parada militar e o desfile naval. A marujada ficou cansada e muitos rapazes
tiveram permissão para ir à terra. Ficou combinado, então,
que a revolta seria entre 24 e 25. Mas o castigo de 250 chibatadas no Marcelino
Rodrigues precipitou tudo. O Comitê Geral resolveu, por unanimidade, deflagrar
o movimento no dia 22. O sinal seria a chamada da corneta das 22 horas. O "Minas
Gerais", por ser muito grande, tinha todos os toques de comando repetidos
na proa e popa. Naquela noite o clarim não pediria silêncio e sim
combate. Cada um assumiu o seu posto e os oficiais de há muito já estavam
presos em seus camarotes. Não houve afobação. Cada canhão
ficou guarnecido por cinco marujos, com ordem de atirar para matar contra todo
aquele que tentasse impedir o levante. Às 22h 50m, quando cessou a luta
no convés, mandei disparar um tiro de canhão, sinal combinado para
chamar à fala os navios comprometidos. Quem primeiro respondeu foi o "São
Paulo", seguido do "Bahia". O "Deodoro", a princípio,
ficou mudo. Ordenei que todos os holofotes iluminassem o Arsenal da Marinha,
as praias e as fortalezas. Expedi um rádio para o Catete, informando que
a Esquadra estava levantada para acabar com os castigos corporais".
A REVOLTA DA CHIBATA, do grande jornalista e pesquisador Edmar Morel (1912 — 1989),
publicado em 1959. O Marco Morel aí envolvido [no programa da TV Brasil]
deve ser filho ou neto do Edmar. Esse livro é execrado pelos MILICANALHAS
da Marinha e foi colocado no "index" dos golpistas de 64. (Castor Filho,
amigo do Edmar Morel nos áureos tempos do restaurante Lamas)
O De Lá pra Cá está em novo horário: domingo, às
18h. Reprise às segundas, 23h.
http://www.tvbrasil.org.br/delapraca/
http://www.youtube.com/watch?v=vqSiCuRhVCg
Elis Regina
Composição: João Bosco/Aldir Blanc
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então
Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias
Glória à farofa
à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas salve
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo
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