A cerimônia realizada na madrugada de terça (16/02), que cala por instantes a folia carnavalesca, é regida por um canto triste e solitário, em dialeto africano, que ganhou aplauso da multidão aglomerada no Parque do Terço, no centro da capital pernambucana. Nas ruas estreitas, a custa de muito empurra-empurra, o povo assistiu às danças e aos batuques da Corte, representada pelos personagens do maracatu. Apesar do calor da noite pernambucana, foliões se vestiam com roupas típicas da realeza europeia. As mulheres rodavam as saias com todas as camadas de anáguas e armações de bambolê. Mais do que uma festa de carnaval, a apresentação tem um tom religioso. A manifestação popular celebra, há mais de 300 anos, a coroação do rei e da rainha do Congo - pai e mãe de santo -, acompanhados da filha, Catirina, que vem representada de vestido igual ao da boneca negra que carrega. A dona de casa Ladjane da Silva ressaltou a presença da religião em praticamente todas as manifestações culturais de Pernambuco. Para ela, os negros merecem a homenagem dos tambores silenciosos. “É uma festa muito importante para nós, muito tradicional. Uma mistura de religião, espiritismo e carnaval”, disse à Agência Brasil. Também foi representado na celebração o escravo, com uma suntuosa sombrinha. Além da Corte, que prestigia a cerimônia, os grupos de maracatu vêm acompanhados de filas de tocadores de instrumentos da cultura africana, uma variação de tambores que são tocados pelos representantes de ogãs – figura masculina do candomblé – dos terreiros de Xangô do Recife.
(Envolverde/Agência Brasil)