Ditadura sabia quem treinou em Cuba

Relatório do Exército revela nomes dos integrantes da ALN entre 1960 e 70 

JOSÉ DIRCEU acredita que militares podem ter infiltrado alguém no grupo

SÃO PAULO (AE) - Um relatório do Exército guardado no Arquivo Público do Rio mostra que a ditadura brasileira (1964-1985) conhecia os nomes da maioria dos ativistas do grupo Ação Libertadora Nacional (ALN) que fizeram curso de guerrilha em Cuba no final dos anos 60 e início dos 70, o que pode indicar a ação de um traidor entre os militantes. O documento confidencial Terroristas da ALN com cursos em Cuba (situação em 21jun72), do Centro de Informações do Exército (CIE), aponta como aluno o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu, codinome Daniel, e reconhece a morte de dois desaparecidos políticos. Um deles é Virgílio Gomes, o Jonas, comandante do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, em 1969, realizado pela ALN em conjunto com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).


O segundo desaparecido, cuja morte acaba reconhecida pelo CIE na lista, é Ruy Carlos Vieira Berbert, colega de turma em Cuba de Dirceu no chamado Terceiro Exército da ALN. Berbert desapareceu em 1972 e teve a morte posteriormente reconhecida na Justiça, nos anos 90. Seu corpo, porém, até hoje não foi localizado.

“Existe um certo consenso entre os sobreviventes daquela época de que havia uma infiltração: alguém que treinou lá era agente duplo, trabalhava para serviços de inteligência”, afirma Dirceu. “Uma outra hipótese: trata-se de um relatório feito a partir de informações arrancadas por tortura e redigido para encobrir a sua origem. A repressão fazia isso”, acrescentou.

O documento do CIE tem detalhes sobre os militantes de quatro “Exércitos” da ALN e cita 81 pessoas, algumas de outras organizações, mas não as identifica. Divide-se em duas partes.

A primeira, por ordem alfabética de codinomes, é organizada em quatro colunas - apelido na ilha, nome, turma e situação (morto, foragido, preso ou banido). Jonas, conhecido em Cuba como Carlos, foi do “I Ex”, o Primeiro Exército, e consta como morto. Nos casos em que o militante tinha vários codinomes, é citado mais de uma vez.

Em sua segunda parte, o texto apresenta a lista por turma dos guerrilheiros treinados na ilha. A primeira, do “I Ex”, de setembro de 1967 a julho de 1968, tinha nove integrantes - de dois deles só são transcritos os seus codinomes. A segunda, do “II Ex” ou Grupo dos 25, de julho de 1968 a meados de 1969, chegou a 30 alunos, quatro apenas com nomes de guerra. A terceira, de maio a dezembro de 1970, possuía 28 membros, apenas um com nome postiço; e a quarta, de fins de 1970 a julho de 1971, com sete ativistas, todos identificados por nome e codinome.
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