Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP aponta que o sistema de tratamento de águas em teste no Rio Pinheiros melhora parcialmente a qualidade da água da represa Billings, permitindo que elas voltem a ser usadas na geração de eletricidade. Entretanto, o trabalho da engenheira Paula Andréia Vilela revela também que a quantidade de poluentes ainda existentes na represa impede a prática de reuso recreacional da água até o momento. “Por esse motivo, a Billings não pode ser utilizada em atividades recreacionais, como natação, pesca e mergulho”, alerta.
Segundo a pesquisadora, o curso natural do rio
Pinheiros é alterado por um sistema de bombeamento, de modo que suas águas são
encaminhadas para a represa Billings para gerar energia elétrica na usina Henry
Borden, em Cubatão (litoral de São Paulo). “Porém, este bombeamento foi proibido
em 1992, devido ao alto índice de poluição das águas do Pinheiros, sendo
permitido apenas em situação específicas, como controle de enchentes”, conta.
Para testar o processo de tratamento por flotação, as águas voltaram a ser
bombeadas, em caráter experimental, com uma vazão de 10 metros cúbicos por
segundo (m3/s).
A coleta das amostras de água, para a elaboração da
pesquisa, ocorreu entre setembro de 2007 (início dos testes) e junho de 2008, em
seis pontos do Rio Pinheiros, antes e depois de duas estações de tratamento, e
em seis pontos de monitoramento da Billings. “As análises envolveram mais de 200
parâmetros operacionais e ambientais”, explica Paula. “Entre os aspectos
analisados, temos, cor, pH, oxigênio dissolvido, turbidez, nitrogênio, fósforo e
ferro, além da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e a Demanda Química de
Oxigênio (DBO)”.
Os testes mostraram que as águas da represa Billings
estão contra-indicadas para o reuso recreacional, pois não atendem os padrões de
qualidade exigidos pela legislação CONAMA 357/05, que classifica os corpos
hídricos. “A pesquisa apontou também concentrações relativamente altas de
nitrogênio e fósforo, que indica a presença de esgoto doméstico”, ressalta a
engenheira.
Esgoto
A análise de DBO indica que a
renovação do oxigênio na água foi insuficiente, devido a alta carga orgânica. “A
presença de um alto teor de matéria orgânica pode induzir à completa extinção do
oxigênio na água”, afirma a pesquisadora. “Parâmetros como cor da água e
concentração de ferro também estavam inadequados”.
De acordo com as
análises, as águas da Billings podem ser utilizadas para a geração de energia na
Usina Henry Borden. “O processo de tratamento por flotação é eficiente na
remoção de sólidos”, explica Paula. “Na geração de energia, a presença destes
contaminantes pode se mostrar prejudicial, acarretando danos às turbinas da
usina”
O reuso recreacional da água envolve atividades como natação,
pesca, mergulho, esqui aquático e jet-ski, entre outras. “Ainda não há no Brasil
uma legislação específica para a prática do reuso”, ressalta. “Na pesquisa,
foram utilizados como referência, os padrões de qualidade da água estabelecidos
pela Resolução do Conama 357/05 que classifica a Billings como corpo hídrico
Classe II”. A pesquisa foi orientada pelo professor Pedro Mancuso, da Faculdade
de Saúde Pública da USP.
Para permitir atividades futuras de recreação na
represa, Paula recomenda ajustes operacionais no sistema em teste, visando
melhoria na eficiência do tratamento das águas do Rio Pinheiros. “Ao mesmo
tempo, torna-se imperiosa a adoção de uma política de uso e ocupação do solo no
entorno da represa Billings, de modo a controlar as ocupações irregulares”,
sugere. “É fundamental também a identificação e mapeamento de lançamentos
clandestinos de esgotos na represa.”
(Envolverde/Agência USP de Notícias)