Organizada pela Federação Internacional de Processamento da Informação (IFIP), a conferência teve apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), da Rede de Informação Tecnológica Latino-americana, dos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação, da Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul, e de várias universidades e empresas do País. A reunião buscou “unir a computação com as pessoas que se dedicam à educação, o que gera uma faísca” de criatividade, disse Franco Simini, professor de engenharia biomédica na Universidade de la República, do Uruguai.
Sendo bem, utilizada, a tecnologia pode
potencializar uma nova tendência de aprendizagem colaborativa. No futuro, toda
educação será uma combinação de aprendizado à distancia e ensino presencial”,
afirmou Simini. O objetivo é que haja “educação terciária para todos”, assim
como no último século se apontou para uma educação primaria para todos,
acrescentou. As experiências e os resultados da conferência serão divulgados
através da publicação de um manual com pautas sobre o uso das TIC na educação,
bem como de artigos em revistas profissionais e de pesquisa. As sessões também
foram transmitidas ao vivo pela Internet, permitindo a participação de pessoas
de todo o mundo.
“Algumas pessoas atuam, outras observam”, disse Maximira
André, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. “As pessoas ativas vieram à conferência para aprender,
compartilhar, fazer novos contatos e descobertas”, acrescentou. Sobre o tema do
encontro, perguntou: “Um mundo melhor sim. Mas, para quem?”. Segundo o professor
Simini, na declaração final “fala-se muito sobre solidariedade digital, mas isto
simplesmente não pode significar caridade. Com nossa historia de egoísmo e
competição, agora a humanidade tem a possibilidade de usar as TIC para a
inclusão e para um mundo mais igual”.
A professora Gleice Moreira, do
Núcleo de Tecnologia Educativa do Estado do Acre, afirmou que a conferência é
“uma maravilhosa oportunidade de descobrir experiências positivas em outras
universidades e em diferentes países. Também é uma ocasião para organizar
intercâmbios e esforços no sentido de uma colaboração”. Ela ficou surpresa “pela
apresentação da agência espacial dos Estados Unidos (Nasa)”, detalhando as
opções de ações cooperativas. “Não sabia que é possível participar de atividades
com eles. Quero fazer algo no Acre e já fiz o primeiro contato para isso”, disse
entusiasmada.
O software livre (programas de computador que podem ser
usados, copiados, distribuídos e modificados livremente) é uma tendência valiosa
para a educação, pois amplia o acesso às aplicações das TIC, disse a Moreira. “O
software livre realmente chega às pessoas” excluídas, ressaltou. Contou que em
junho, o governo brasileiro distribuiu computadores em escolas rurais. Seus
alunos veem e utilizam computadores pela primeira vez. “Quando um pai foi até à
escola buscar sua filha e ela lhe mostrou o que estava fazendo, sua primeira
reação foi dizer que não podia pagar por um computador. A professora explicou
que era grátis e, então, ele ficou surpreso”, disse a professora.
Uma das
inovações apresentadas na conferência foi a tecnologia “háptica”, o estudo da
interação humana com o ambiente exterior através do tato. Um projeto do King’s
College de Londres, dirigido por Margaret Cox, desenvolve luvas especiais que
produzem informação sensorial a partir de ambientes virtuais tridimensionais
para treinar estudantes de odontologia, enfermagem, medicina e veterinária nas
delicadas habilidades motoras que exigem certas técnicas específicas.
A
IFIP, criada pela Unesco em 1960, organiza estas conferências a cada quatro anos
desde 1972. Os participantes costumam ser ativistas apaixonados pelo uso
educativo das TIC. Este ano, como sua edição anterior, o encontro foi um âmbito
para redigir a Declaração de Bento Gonçalves, que será colocada na Internet para
somar comentários, debates e modificações por parte de todos os atores
envolvidos nesta temática. “Queremos que seja um documento vivo”, disse o
presidente da conferência, Sindre Roesvik, diretor de educação do município
norueguês de Giske.
“Mais de 200 delegados, assistentes e coordenadores
contribuíram com este texto, dedicado a explicar como conseguir que as coisas
sejam feitas, em lugar de dizer o que é preciso fazer”, explicou Roesvik. No uso
da tecnologia na educação para melhorar o mundo “esta declaração talvez seja a
mais completa. Sua prioridade é seu uso político. Todos podem utilizá-la gestões
junto às autoridades”, acrescentou. O documento estará disponível online no
endereço www.ifip-tc3.net “em algumas semanas”,
ressaltou Roesvik.
O rascunho distribuído no encontro cobre oito grandes
questões, focadas em ações concretas no ambiente do aprendizado, pesquisa,
conteúdos curriculares e iniciativas, a fim de servir a estudantes, professores
e comunidades cooperativas. De uma perspectiva global, apresentou-se uma
atualização da iniciativa “Um laptop por criança”, exibindo o Plano CEibal do
Uruguai, que entregou gratuitamente 200 mil computadores portáteis a meninos e
meninas, e um plano do governo australiano para distribuir computadores em
escolas indígenas do Território do Norte. Esta revolução silenciosa que coloca
as TIC a serviço da democracia digital pode chegar mais longe do que a Revolução
dos Farrapos. IPS/Envolverde
(Envolverde/IPS)