O centro da maior metrópole do país abriga um gigante chamado Edifício Copan. De formato sinuoso, as linhas curvas do edifício quebram os ângulos retos da capital paulista. Mais impressionante que seu delicioso atrevimento arquitetônico, obra de Oscar Niemeyer, são seus números.
São 1.160
apartamentos e 221 garagens nos subsolos. Vinte elevadores transportam seus
cinco mil residentes por seis blocos. É tanta gente que o edifício tem CEP
exclusivo.
Com 115 mil metros quadrados de área construída, o Copan conta
ainda com uma área comercial ocupada por 70 lojas e uma igreja. Não por menos o
prédio ganhou o título de maior conjunto de apartamentos residenciais do Brasil,
pelo Guiness Book. Com 32 andares e 140 metros de altura, há quem diga que ele é
o edifício residencial mais populoso do mundo.
Números tão grandiosos
tornam o Copan praticamente uma cidade, que como tal, vive às voltas com temas
da sustentabilidade urbana, como água, energia e lixo. Como a administração lida
com isso? Mercado Ético chamou o síndico para saber.
Affonso Celso
Prazeres de Oliveira mora no Copan há 40 anos. Desde 1992 ele é o síndico. Sua
paixão pela cidade é explícita. Entre um gole do café expresso e um cumprimento
a alguém conhecido, ele relembra a modernidade paulistana nos anos 1960 e
1970.
“O centro da cidade era a convergência de tudo. Aqui estavam os
melhores cinemas, teatros e restaurantes, como o Gigetto, onde se encontrava
todo mundo, os artistas”, lembra Prazeres, citando “celebridades” como Roberto
Carlos, Cauby Peixoto, Caetano Veloso.
O Copan sempre aparece no cenário
de suas lembranças. “O prédio era referência na cidade. Os estudantes e
descasados vinham morar aqui. Eu mesmo morei no bloco B. Fiz festa e toquei
violão.”
Os tempos dourados acabaram nas décadas de 80 e 90. O
crescimento desenfreado acarretou em sérios problemas urbanos para São Paulo.
“Com a deterioração do centro da cidade, o prédio também entrou em declínio,
passou a ser chamado de treme-treme”, afirma Oliveira, citando problemas como
falta de energia e água, tráfico e prostituição pelos corredores dos
apartamentos.
Convocado em 1991 para ajudar um grupo de moradores
insatisfeitos com os rumos do edifício, Oliveira acabou eleito. Em 1992
começaram as atividades de “moralização”. As melhorias em segurança foram as
primeiras a serem implantadas. Na seqüência, Oliveira focou na questão da água e
resíduos sólidos. O Copan entrava, junto com o centro de São Paulo, em um
processo de revitalização. Claro que a sustentabilidade não podia faltar nesse
capítulo da história.
Limpeza e reciclagem
Por
dia, o Copan produz aproximadamente três toneladas de lixo. Mais de 100
funcionários - todos registrados e com seguro, como Oliveira faz questão de
frisar - cuidam do processo de limpeza a reciclagem, que acontece desde
1994.
Como a Prefeitura de São Paulo não tem um sistema de coleta
seletiva compatível com a oferta de material reciclável, todo o processo
acontece em parceria com ONGs e cooperativas. Oliveira estima que tenha algo em
torno de 100 mil reais em material reciclável estocado, só aguardando o melhor
momento para a venda.
“É como se fosse uma caderneta de poupança. Quando
for a hora, a gente saca o dinheiro”, explica. O dinheiro é usado para melhorias
coletivas, como a construção de um refeitório para os funcionários. O material
estocado no Copan vai de barras de ferro, madeiras, portas, grades, tijolos além
dos já tradicionais garrafas de plástico e pilhas. Estas somam meia tonelada por
ano, geralmente vendida para um grupo de Santo André.
Com uma população
de moradores tão grande o que não falta é oportunidade para melhorar a gestão
sustentável do edifício. Oliveira estuda a reciclagem do óleo de cozinha. “Tenho
muito problema de entupimento na tubulação por conta disso”, comenta. Ele
explica que já houve uma tentativa de coleta seletiva desse material. A pouca
participação dos moradores e problemas com a coleta e estoque do material
inviabilizaram a tentativa. Mas Oliveira não desiste. “Estou estudando como
fazer a coisa acontecer novamente. É preciso.”
Água e
energia
Entre as preocupações do síndico está o uso racional da
água. Se antes o Copan gastava um milhão de litros de água por dia, hoje o
consumo foi reduzido para 400 mil litros. Manutenção, vedantes e reparos
realizados pelos funcionários na parte hidráulica dos apartamentos
possibilitaram a economia - que chega a 40% na conta de água, comemora o
síndico.
Projetos são estabelecidos para o curto, médio e longo prazos.
Um dos deles é trocar os sanitários, que, em vez de 12 litros, passarão a
consumir 6 litros por descarga. “Água é muito importante para ser desperdiçada”,
reforça Oliveira.
Com relação à energia elétrica, todas as lâmpadas
comuns foram trocadas por outras mais econômicas. Além de durarem mais - de
acordo com Oliveira, há lâmpadas que já funcionam há cinco anos - também gastam
menos energia.
Outra medida ligada a eficiência energética é a troca dos
elevadores. Doze serão substituídos por tecnologias mais modernas e
inteligentes, economizando energia entre tantos sobre e desce. “Os elevadores já
foram encomendados. Estamos aguardando para efetuar a troca, mas sem dúvida,
essa mudança melhorará nossa eficiência energética”, conta ainda sem arriscar um
palpite para a economia.
Preocupação de família
A
preocupação ambiental de Oliveira é congênita. Ele aprendeu com o pai, que era
fazendeiro no interior de São Paulo, a olhar a vida como um processo sistêmico.
Da Faculdade de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, ficaram
boas lembranças da juventude e as metodologias de gestão usadas hoje para cuidar
minuciosamente do gigante Copan.
Todo o pedido de compra da
administração, desde papel higiênico até produtos de limpeza, passa pelo crivo
do síndico. Ele testa tudo. O papel de enxugar a mão, por exemplo, tem que ser
bom o suficiente para evitar desperdício. “Se você tem uma folha com boa
absorção, vai precisar de duas folhas para secar a mão, em vez de 10 de um papel
de má qualidade”, explica. Mas reclama que ainda não encontrou nenhum saco de
lixo biodegradável de boa qualidade.
E lidar com mais de cinco mil
pessoas. Será que ele gosta de tantas demandas? “O ser humano é complexo”,
reflete. “Para ser síndico é preciso ser eclético, saber um pouco de psicologia,
diplomacia, engenharia, administração, direito”, conclui.
Se ele gosta de
ser síndico? “Em tudo o que fiz, sempre acabei me apaixonando pelo
trabalho”.
(Envolverde/Mercado Ético)