Rio de Janeiro - O Brasil detém o recorde de desperdício de água por habitante no mundo. Ele foi detectado no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, onde o gasto médio diário por pessoa é de mil litros. Enquanto isso, em países da África, como a Namíbia, por exemplo, as pessoas têm menos de um litro de água por dia. As informações são do engenheiro Paulo Costa, especialista em programas de racionalização do uso de água.
Ainda de acordo com Costa, da consultoria paulista H2C, que já desenvolveu mais mil projetos em empresas, hospitais e condomínios comerciais e residenciais, o consumo diário médio de água por pessoa nos grandes centros urbanos brasileiros oscila entre 250 a 400 litros do recurso natural. O volume é mais que o dobro do considerado ideal pela Organização das Nações Unidas (ONU) fixado em 110 litros/dia.
Segundo
ele, só cinco países no mundo apresentam um nível de consumo de água per capita
previsto pela ONU: Alemanha, Bélgica, República Tcheca, Hungria e
Portugal.
Em entrevista à Agência Brasil, o especialista explicou que os
resultados alcançados por esses países são fruto da conjugação de tecnologia com
informação, educação ambiental e reeducação da população adulta. Esse caminho,
assinalou, também deve ser seguido pelo Brasil para reverter o alto nível de
desperdício de água.
Em primeiro lugar, ele destacou a necessidade de os
brasileiros adotarem uma nova postura diante do consumo de água. “Isso diz
respeito à reeducação ambiental, que deve ser difundida entre os
adultos”.
Costa defende ainda a introdução da disciplina de educação
ambiental nos currículos das escolas de ensino fundamental para fazer com que as
crianças recebam noções sobre o consumo racional de água. “Isso possibilita uma
vantagem em termos de atitude em relação ao consumo”.
Para reduzir o
desperdício, o especialista lembrou uma série de dicas, como os banhos mais
curtos, uma vez que o chuveiro responde por 46% do consumo de água dentro de uma
casa. Ele recomendou também que, ao fazer a limpeza de utensílios de cozinha,
deve-se usar pouca água e muito sabão e bucha, lembrando que as torneiras e
misturadores respondem por 14% do consumo domiciliar. Outra dica é escovar os
dentes com a torneira fechada.“São cuidados básicos em relação ao que nós já
temos quanto ao consumo.”.
Costa criticou a preocupação geral da
sociedade e dos governos com a ampliação da produção de água, em vez de buscar
reduzir o consumo. “O que tínhamos de água disponível em 1950 é o mesmo que
temos hoje, mas temos alguns bilhões a mais de seres humanos. Então, se não
pensarmos em controlar a demanda, estamos completamente errados, porque o
trabalho que as concessionárias de água e a população vêm fazendo é de apressar
o término dos estoques. A água é a mesma, precisamos é controlar a forma como
usá-la”, defendeu.
Dados da ONU apontam que mais de 4 bilhões de pessoas
vão ter problemas com escassez de água em 2050.
Segundo o engenheiro,
existe tecnologia de sobra no Brasil para gerir a demanda da água, que é um bem
finito, não renovável e tem um custo elevado de tratamento. “É a atitude que nos
falta”, afirmou.
De acordo com Costa, a conjugação de tecnologia e
educação ambiental pode levar condomínios residenciais a terem 30% a 40% de
economia por mês em seus gastos com água. Já nos condomínios comerciais,
empresas e indústrias, a redução do gasto mensal com água pode chegar a 60%. “Ou
seja, o que vemos como despesa no balanço de uma empresa pode se transformar em
receita, por meio da adoção de programas de racionalização de consumo de água”,
disse o engenheiro.
Crédito de imagem: Roosewelt
Pinheiro/ABr
(Envolverde/Agência Brasil)