No texto do habeas-corpus, é dito que não há motivos que justifiquem a prisão do segurança durante o julgamento do processo. Também é relatado que não há indícios de que Souza possa tentar coagir as testemunhas que serão ouvidas, pois o fato de que o vigilante permaneceu no local do crime após o disparo, esperando a polícia chegar, conta a seu favor.
O acusado preenche ainda os requisitos para obter a liberdade provisória, como residência fixa e ser réu primário.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), Sousa já deixou a carceragem do 13º Distrito Policial (DP), da Casa Verde, na zona norte, onde estava preso.
Indignação dos Zezinhos
A notícia foi recebida com supressa e revolta na ONG Casa do Zezinho, entidade onde Alberto Milfont cresceu e foi educado durante dez anos. "Como a gente pode receber isso? Foi um crime flagrante, mas o rapaz não tem passagem pela polícia, é como tudo no Brasil. Como é que eu explico essa impunidade para os meus jovens?", lamenta Dagmar Garrox, a Tia Dag, presidente e fundadora da instituição.
Genilson Silva Souza, 29 anos, foi preso no dia 11 de novembro após atirar contra o rosto de Alberto Milfont, 24, dentro de uma loja das Casas Bahia, na região de Itapecerica da Serra. Sete dias após o crime a juíza Giovana Furtado de Oliveira negou o pedido de relaxamento de prisão em flagrante feito pela defesa do suspeito.
Tia Dag, como Dagmar é conhecida, já era esperado que o vigilante não ficasse muito tempo na prisão. Entretanto, a educadora se diz surpresa com a postura do Tribunal de Justiça. "Não acreditava que isso [habeas-corpus] fosse acontecer tão cedo".
Segundo ela, os adolescentes que frequentam a Casa do Zezinho manifestaram tristeza e indignação. "A questão é dinheiro para financiar bons advogados. Se um dos 'zezinhos' fosse suspeito da morte de alguém, ficaria preso por muito tempo", assevera Dag.
Apesar da indignação, a entidade está planejando novas manifestações. Além de incentivar os jovens recorrer a políticos e a usar a internet como ferramenta de denúncia, a Casa do Zezinho pretende atrair a comunidade do Capão Redondo para uma ação batizada de "Milfont".
A idéia, segundo Dag, é enfeitar e colorir o cemitério de São Luiz com faixas e cartazes e chamar a atenção da população para números catastróficos de mortes: o local possui o maior número de jovens - de 15 a 25 anos – enterrados por metro quadrado do mundo. "Vencemos índices de mortes em guerras e em áreas de conflitos, como a Colômbia", destaca. O projeto deve começar em Janeiro de 2009.
Entenda o caso
Alberto Milfont foi à loja Casas Bahia para comprar um colchão. O segurança desconfiou do jovem e os dois discutiram, em condições ainda obscuras. No bate-boca, segurando a nota fiscal, Alberto tentava explicar que não era bandido, estava apenas comprando um colchão. O segurança apontou um calibre 38 e Alberto duvidou que o profissional atirasse. Levou um tiro no rosto e morreu algumas horas depois no Hospital do Campo Limpo.