Cobradores e motoristas do Espírito Santo:
“Somos ameaçados dentro dos coletivos!”
Rodoviários solidários com seus companheiros demitidos e indignados com a opressão e a violência patronal realizaram manifestação e greve na manhã da quarta-feira (dia 19) em Cariacica, no Espírito Santo. O movimento grevista paralisou o transporte coletivo no município por quase toda a manhã. Um funcionário da Viação Satélite se acorrentou ao portão da garagem da empresa para protestar contra a própria demissão e a de mais três companheiros de trabalho.
Na Viação Satélite já ocorreram dezenas de demissões, muitas das quais devido à retaliação patronal pelo simples fato dos rodoviários integrarem ou apoiarem a chapa de oposição na última eleição, em agosto/2008. Estão aproveitando qualquer desculpa para demitir os companheiros. Já foram demitidos, nesta empresa (Satélite), vários apoiadores, e três integrantes da chapa de oposição, sem qualquer motivo. A empresa está cometendo crime contra a organização sindical dos trabalhadores.
Foram mais de seis horas de paralisação. O protesto do motorista que se acorrentou foi apoiado pela categoria. Ao menos 180 ônibus deixaram de circular no período no município, de acordo com a Ceturb.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários, Edson Bastos, só soube da manifestação depois da deflagração da greve. Os rodoviários passaram por cima da omissa direção da entidade e só então que Edson Bastos foi a garagem da Satélite. Ele conversou com representantes da empresa e com o funcionário demitido, Antonio José da Silva, 42 anos. A reivindicação era para que a demissão dele e de outros três funcionários, por justa causa, fosse revista. Após conversas, garantiu, segundo Antônio, que um acordo foi firmado para solucionar a questão.
Só então que o motorista Antonio José da Silva e o filho dele, Adriano Onofre da Silva, 19 anos, que também trabalha na empresa, soltaram-se dos portões da garagem. Os outros funcionários voltaram ao trabalho em seguida.
Os trabalhadores rodoviários repudiam a pressão patronal que para impor a contenção da evasão do pagamento de passagens põem em risco a vida cobradores e motoristas. Eles relataram, durante a manifestação, que não conseguem evitar que algumas pessoas desçam pela porta dianteira do ônibus, pois, são ameaçados quando tentam evitar a ação. Esse teria sido o motivo das quatro demissões ocorridas nos últimos dias na Viação Satélite, alvo do protesto.
A cobradora de ônibus, Euzilene Bruno, de 39 anos, foi a porta-voz do grupo e reivindicou mais segurança para a categoria. Ela relatou que já foi agredida por bandidos e que teme pela vida. Afirmou que só tem a certeza de que vai sair de casa, mas voltar é sempre uma incógnita.
"Quem nos guarda é Deus. A única segurança nossa é a de Deus. Eles querem que a gente coloque a cara da gente na frente, mas entra bandido armado, como muitas vezes aconteceu comigo. Já pulou gente da minha roleta que o revólver caiu no chão. Se eu falo para o camarada não pular ele vai é me dar um tiro na cara. Eu vou virar o quê? Estatística? Quantos trocadores já morreram em roleta? A gente pede por mais segurança porque a Satélite está sendo covarde.", afirmou.
O motorista Wesley Marques Cassini, de 20 anos, foi o primeiro cobrador a ser demitido dentre os três que se juntaram ao motorista acorrentado. Ele contou que já presenciou situações de pessoas armadas que poderiam atirar caso ele não permitisse a passagem pela porta da frente dos ônibus. "Só quem sabe o que a gente passa dentro dos ônibus somos nós - trocadores e motoristas. A gente tem que ser surdo e mudo para agüentar os passageiros que entram dentro do ônibus fazendo grosserias ou que entram armados e que pulam a roleta. Se a gente for impedir, é provável que eles nos matem", relatou.
A população apoiou a greve dos rodoviários. A passageira Fernanda afirmou que já viu “muitos passageiros saltando pela frente, entretanto concordo com a classe que muitos passageiros são abusados e se o cobrador ou motorista questionar sabe lá o que pode acontecer; já presenciei o motorista não abrir a porta ou reclamar com um passageiro e tacarem pedras no ônibus além de ameaças. Com certeza em uma situação de risco eles são obrigados a aderir à vontade do "passageiro".
"Armação patronal"
O questionamento dos funcionários da Viação Satélite é quanto à orientação da empresa de que pessoas que tentam circular nos ônibus sem pagar passagem devem ser impedidas por cobradores e motoristas. Os trabalhadores denunciaram que a empresa coloca funcionários à paisana dentro dos coletivos para observar a movimentação de passageiros e que eles fazem simulações para justificar as demissões sem justa causa executadas pela Satélite. O ex-funcionário Antônio José da Silva relatou para a imprensa como é feita a "armação": um dos funcionários à paisana simula descer pela porta da frente - sem pagar pela passagem - e outro filma a ação. Se motorista e cobrador não impedirem que o suposto passageiro passe pela porta, a denúncia é feita à empresa. A cobradora Euzilene Bruno, 39, diz que a insegurança impede que os empregados tomem a atitude esperada pela empresa.
"Trabalhamos em linhas periféricas, em que as pessoas não têm costume de pagar passagens. Um dia um rapaz pulou a roleta e a arma dele caiu no chão. E a empresa quer que a gente proíba as pessoas de pular a roleta, mas como?", questiona.
O assessor jurídico da Satélite confirmou a presença de funcionários à paisana nos ônibus, mas teve o descaramento de dizer que isso já era de conhecimento de todos.
A REVOLTA DOS RODOVIÁRIOS É JUSTA!
EXIGIMOS A READMISSÃO DOS TRABALHADORES DEMITIDOS E O FIM DAS PERSEGUIÇÕES!
Núcleo da Liga Operária do Espírito Santo