Nesta
entrevista, Clarice fala sobre a importância dos Indicadores como instrumento
para aperfeiçoar a gestão das empresas de comunicação e dos motivos que levaram
a ANJ a acreditar que tais indicadores podem ajudar as empresas do Setor a
refletir e aperfeiçoarem suas práticas.
Instituto Ethos:
Por que a ANJ decidiu desenvolver os indicadores para o setor Jornais com o
Instituto Ethos? Qual foi a percepção que levou o Comitê de Responsabilidade
Social a esse trabalho?
Clarice López de Alda: A
primeira percepção foi a de que responsabilidade social não pode se resumir a
investimento social privado. E nós precisávamos discutir responsabilidade social
na dimensão exata do que seja responsabilidade social empresarial. Ou seja, sob
a perspectiva da sustentabilidade. E esse é um exercício que passa,
necessariamente, pela reflexão interna que possa verificar como o setor atua em
termos de gestão, de relacionamento com seus stakeholders, de responsabilidade
quanto aos conteúdos que entrega para a sociedade. A segunda percepção, alinhada
à visão modernizadora da presidência da entidade, era a de que este era o
momento certo para construir e entregar ao setor de jornais uma ferramenta que
ajude seus gestores a na construção de mudanças essenciais a sustentabilidade
não apenas do negócio, mas também, e principalmente, sob a perspectiva de
mercado, sociedade e planeta.
IE: Como você avalia o
processo da construção dos Indicadores, que teve uma certa resistência por parte
as empresas jornalísticas? Quais foram as dificuldades e as resistências
enfrentadas?
CLA: As principais resistências refletiam
um não-entendimento sobre o caráter da parceria Ethos-ANJ. Foi preciso mostrar
que o fato de a ANJ construir os indicadores setoriais em parceria com o
Instituto Ethos não representava interferência do Ethos nos jornais. Muito menos
uma ingerência nos pilares de independência e de liberdade. Mostramos que não
haveria tal interferência e, mais, que o preenchimento dos indicadores é decisão
interna, com caráter de aprendizado, e as respostas sequer precisariam ser
entregues para o Ethos. Creio que vencemos as dificuldades iniciais e os jornais
associados já demonstraram entender que os indicadores têm o objetivo de ajudar
os jornais a pensar melhor sobre si mesmos.
IE: A
apresentação desses Indicadores, durante o 7º Congresso Brasileiro de Jornais,
teve pouco público. Isso revela o pouco interesse de donos de jornais ou de
editores pelo tema? Como a ANJ pretende ampliar o interesse do setor pelos
Indicadores? Este caminho será longo?
CLA: Não posso
afirmar que há desinteresse, mas também não tenho dúvidas de que vai ser um
longo caminho. Isso porque indicadores setoriais para as empresas de
comunicação, de forma geral, representam uma quebra de paradigmas. No Brasil, em
geral as empresas de comunicação, com exceções é claro, têm limitado seu
envolvimento com o tema responsabilidade social aos conteúdos editoriais que
divulgam. Ou seja, elas se vêem responsáveis por retratar práticas boas ou ruins
identificadas nos demais segmentos da sociedade, mas não exercitam os mesmos
questionamentos para o seu próprio funcionamento enquanto empresas. Então, ser
chamado a participar de um processo e adotar ferramentas onde o principal apelo
é "veja-se por dentro" é uma coisa extremamente nova, que precisará ser muito
bem digerido pelo setor. E é exatamente por isso que, acredito, temos um longo
caminho pela frente. Criamos e lançamos a primeira versão dos indicadores
setoriais para a indústria de jornal. Daqui para frente, tudo será aprendizado e
aperfeiçoamento.
IE: Você acha que as empresas de
comunicação, incluindo os jornais, estão muito defasadas em relação a outros
setores no que diz respeito à capacidade de reflexão e incorporação de
princípios da responsabilidade social e de sustentabilidade na sua própria
gestão?
CLA: Não. As empresas de comunicação já estão
fazendo ações e incorporando conceitos de responsabilidade social em sua gestão.
Estão se modernizando, refletindo sobre novos conceitos e mudando suas práticas.
O que elas ainda não têm muito presente é que, a tudo isso, damos o nome de
responsabilidade social. Esse é o paradoxo de todo esse conflito - não entender
a necessidade de analisar e refletir sobre um tema quando, na prática, já estão
fazendo isso, e há muito tempo. Até porque, entender processos, mudar práticas e
modernizar gestão são itens do manual de sobrevivência de qualquer negócio,
inclusive o de jornal. Todos os segmentos produtivos que buscam longevidade
estão hoje reconhecendo e trabalhando na melhoria dos seus impactos, dos seus
relacionamentos. Enfim, o tamanho e relevância da sua presença no mundo de hoje
e sua presença no mundo futuro.
(Envolverde/Instituto Ethos)