Os chamados países subdesenvolvidos devem se preocupar com os problemas do meio? À primeira vista, esses problemas são muito mais graves e complexos nos países desenvolvidos, onde a industrialização e a gigantesca concentração urbana provocam diretamente um desequilíbrio inevitável e uma acentuada degradação do contorno natural, isto é, do meio. Desta forma, os problemas de poluição parecem se circunscrever e interessar quase exclusivamente aos países de alto nível de industrialização e, em muito escassa medida, aos países pobres, meros fornecedores de matérias-primas.
Esta é uma análise errônea, originada da imprecisão de alguns conceitos básicos, como as acepções habituais de "meio" e "desenvolvimento". O meio não é apenas o conjunto de elementos materiais que, interferindo continuamente uns nos outros, configuram os mosaicos das paisagens geográficas. O meio é algo mais do que isso. As formas das estruturas econômicas e das estruturas mentais dos grupos humanos que habitam os diferentes espaços geográficos também são partes integrantes dele.
Considerado globalmente,
o meio tanto compreende fatores de ordem física ou material quanto fatores de
ordem econômica e cultural. Uma análise correta do meio deve abarcar o impacto
total do homem e de sua cultura sobre os elementos restantes do contorno, e o
impacto dos fatores ambientais sobre a vida do grupo humano considerado como uma
totalidade. Desse ponto de vista o meio abrange aspectos biológicos,
fisiológicos, econômicos e culturais, todos combinados na mesma trama de uma
dinâmica ecológica em transformação permanente.Esse conceito é mais amplo e mais
objetivo que o resultante de uma concepção do meio como sistema de relações
mútuas entre os seres vivos e o contorno natural, considerados ambos como
fenômenos isolados.
Igualmente falso é o conceito de desenvolvimento
avaliado unicamente à base da expansão da riqueza material, do crescimento
econômico. O desenvolvimento implica mudanças sociais sucessivas e profundas,
que acompanham inevitavelmente as transformações tecnológicas do contorno
natural. O conceito de desenvolvimento não é meramente quantitativo; mas
compreende os aspectos qualitativos dos grupos humanos a que concerne. Crescer é
uma coisa; desenvolver, outra. Crescer é, em linhas gerais, fácil. Desenvolver
equilibradamente, difícil. Tão difícil que nenhum país do mundo conseguiu ainda.
Desta perspectiva, o mundo todo continua mais ou menos
subdesenvolvido.
Atualmente está na moda falar dos efeitos nocivos que o
crescimento econômico produz sobre o meio, sobre os componentes do contorno
natural; entretanto, costuma-se referir apenas e precisamente aos efeitos que
não são os mais ameaçadores para o futuro da humanidade.
Ouvem-se gritos
de alarme condenando o crescimento da população, a poluição do ar, dos rios e
dos mares e a degradação do patrimônio animal e vegetal das regiões mais
desenvolvidas do mundo; mas tudo isso revela uma visão limitada do problema, já
que o clamor se refere aos efeitos diretos da expansão econômica, enquanto deixa
na sombra e reduz ao silêncio a insidiosa ação indireta do desenvolvimento sobre
a totalidade dos grupos humanos. E é evidente que esta ação indireta é mais
determinante que a ação direta.
O primeiro erro grave, a primeira
conclusão falsa que deriva desta visão parcial do problema é a afirmativa muito
generalizada de que nas regiões ricas é que apareceram, por causa do crescimento
econômico, os primeiros efeitos da poluição e da degradação do meio ambiente. A
realidade é diferente: os primeiros e mais graves efeitos do desenvolvimento
manifestaram-se precisamente naquelas regiões que estão hoje economicamente
subdesenvolvidas e que ontem eram politicamente colônias.
O
subdesenvolvimento que existe nessas regiões é o primeiro produto do
desenvolvimento desequilibrado do mundo. O subdesenvolvimento representa um tipo
de poluição humana localizado em alguns setores abusivamente explorados pelas
grandes potências industriais do mundo.
O subdesenvolvimento não é, como
muitos pensam equivocadamente, insuficiência ou ausência de desenvolvimento. O
subdesenvolvimento é um produto ou um subproduto do desenvolvimento, uma
derivação inevitável da exploração econômica colonial ou neocolonial, que
continua se exercendo sobre diversas regiões do planeta.
Há os que
afirmam, convictos, que a problemática do meio nos países subdesenvolvidos é
diferente da dos países ricos e industrializados. Assim, diz-se que nas regiões
subdesenvolvidas não existe preocupação com os aspectos qualitativos da vida,
mas apenas com a possibilidade de sobreviver, isto é, com a luta contra a fome,
contra as epidemias e contra a ignorância generalizada. Esta posição esquece que
estes são apenas sintomas de uma grave doença social: o subdesenvolvimento como
produto do desenvolvimento. Os países subdesenvolvidos que lutam pela
sobrevivência devem se preocupar com os problemas do meio e do desenvolvimento
em escala mundial, para se defenderem das agressões que seu próprio meio sofre
há séculos por parte das metrópoles colonialistas, destruidoras da condição
humana nas áreas subdesenvolvidas.
Se só ultimamente é que se vem falando
com insistência da poluição e degradação provocadas pelo crescimento econômico,
isso se deve a que a civilização ocidental, com seu repertório científico
etnocêntrico, sempre se negou a aceitar esta evidência: que a fome e a miséria
de algumas regiões distantes fazem parte do custo social do seu próprio
progresso, um progresso que a humanidade inteira paga para que o desenvolvimento
econômico avance no pequeno número de regiões dominantes política e
economicamente no mundo.
A escamoteação desta verdade provocou a
implantação em escala planetária de uma estratégia de luta contra o
subdesenvolvimento que estava irremediavelmente fadada ao fracasso: a do Decênio
para o Desenvolvimento, de 1960 a 1970. Fracasso que se tomará a produzir
enquanto as estruturas econômicas do mundo continuarem sustentadas pelos falsos
suportes do seu edifício social: a economia de guerra, a economia do lucro
máximo e a política de esmagamento econômico do Terceiro Mundo.
Na sua
luta por emancipação e sobrevivência, os países subdesenvolvidos terão de obter
a qualquer preço uma sensível diminuição do impacto econômico negativo que a
economia de mercado provoca no seu sistema de economia de dependência. Esses
países vão combater a ação indireta e distante dos grandes pólos de concentração
de capital, que alimentam por todos os meios, inclusive pela negativa à
estabilidade do custo das matérias primas, o subdesenvolvimento da periferia
econômica do mundo.
Para que não reste a menor dúvida de que o
subdesenvolvimento é, na civilização de consumo, um produto do desenvolvimento,
basta verificar que antes da explosão capitalista e industrial do nosso século
não existia esta divisão entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos,
separados uns dos outros por um largo fosso econômico. Foi depois da segunda
revolução industrial que se exteriorizaram as disparidades extremas dos ritmos
de crescimento dos níveis econômicos de ambos os grupos de
países.
Tomemos um exemplo concreto: a renda média por habitante, em dois
países representativos dos dois grupos, Estados Unidos da América e Índia. Antes
da I Guerra Mundial, a renda média por habitante era na Índia oito vezes
inferior à dos Estados Unidos; antes da II Guerra Mundial, era 15 vezes
inferior; atualmente a renda de um hindu é 50 vezes menor que a de um
norte-americano.
É preciso considerar a degradação da economia dos países
subdesenvolvidos como uma poluição do seu meio humano, causada pelos abusos
econômicos das zonas de domínio da economia mundial; a fome, a miséria, os altos
índices de freqüência de enfermidades evitáveis com um mínimo de higiene, a
curta duração média da vida, tudo isto é produto da ação destruidora da
exploração do mundo segundo o modelo da economia de domínio. A fome na Índia, no
Peru, em São Domingos, no Nordeste do Brasil, embora apareça como manifestação
local de zonas subdesenvolvidas, exprime na verdade formas paradoxais de doenças
da civilização, na medida em que são o produto indireto do crescimento econômico
desequilibrado, da mesma forma que são também indiretamente produzidas por ele
as doenças cardiovasculares e degenerativas. No fundo ambos os grupos de
doenças, as da civilização e as da penúria, são causadas por um só despotismo, o
da frenética civilização do lucro. Umas surgem ali, diretamente sobre o próprio
terreno desse despotismo; outras, indiretamente, longe dele.
A estratégia
que considerava a realidade social do Terceiro Mundo separada do mundo como
totalidade foi fatal para a melhoria das condições do meio. Toda a biosfera é um
só ecossistema composto de múltiplos subsistemas. O ecossistema da biosfera
possui enorme plasticidade estrutural, devido ao jogo dos mecanismos de
compensação utilizados para equilibrar os impactos negativos da ação
humana.
Mas essa plasticidade, que é um importante triunfo do homem, na
medida em que permite transformar a biosfera e utilizar seus elementos para
satisfazer as necessidades, não pode ultrapassar certos limites fixados pelas
leis dos equilíbrios naturais, sob pena de provocar graves e, às vezes, fatais
rupturas nos ecossistemas.
Os desequilíbrios extremos a que foi arrastado
o Terceiro Mundo constituem, por causa do jogo das inter-relações ecológicas,
uma ameaça para toda a biosfera e assim, ipso facto, para toda a espécie
humana.
A fome do Terceiro Mundo pode um dia chegar a provocar uma peste
generalizada, e a sublevação dos famintos pode levar o mundo inteiro à guerra,
se considerarmos estes dois problemas: fome e guerra, como formas de um
desequilíbrio dinâmico do meio sócio-econômico.
Não devemos considerar
apenas a ação indireta do desenvolvimento sobre o Terceiro Mundo, ação que é
mais econômica e cultural do que puramente física ou natural; devemos nos
inquietar também com a ação direta: o esbanjamento inconsiderado dos recursos
naturais não renováveis e as rupturas biológicas dos subsistemas
ecológicos.
O Terceiro Mundo está sob a ameaça permanente de ver
introduzidos tipos de desenvolvimento tecnológicos que, desdenhando a dimensão
ecológica, podem provocar uma desagregação total de sua estrutura. Se levarmos
em conta a relativa fragilidade de alguns ecossistemas equatoriais e tropicais,
onde se agrupa a maior parte dos países do Terceiro Mundo, este perigo adquire
maior gravidade ainda.
Ninguém ignora a grande fragilidade do solo nestas
regiões devido, sobretudo, à erosão provocada pela exploração abusiva do manto
vegetal. Ninguém ignora que os transbordamentos dos rios tropicais são
controlados por diques vegetais de diversos tipos que orientam o curso. Por
conseguinte, a destruição dessa vegetação provoca inundações e estancamentos de
águas, que acarretam graves conseqüências: a perda dos cultivos agrícolas
inundados até a disseminação endêmica de algumas doenças transmitidas por
insetos que proliferam nas águas estancadas.
Será que basta a constatação
de que o progresso tecnológico e o crescimento econômico atualmente destroem o
meio ambiente do Terceiro Mundo para justificar o que alguns preconizam: a
saber, a interrupção do crescimento nestas regiões? Não acredito. É absurdo
preconizar a interrupção do desenvolvimento econômico nos países do Terceiro
Mundo, quando os povos destas regiões vêem nele a sua última esperança de sair
do estado de miséria que os oprime. Não creio que os chamados "oponentes do
desenvolvimento" tenham razão ao propugnar uma interrupção, pois o que se impõe
é uma mudança, ou melhor dito, uma reconversão do tipo de
desenvolvimento.
A tecnologia não é boa nem má. É a sua utilização que
lhe dá sentido ético. Se nos países do Terceiro Mundo a tecnologia age contra os
povos subdesenvolvidos é porque foi utilizada unicamente para produzir o máximo
de vantagens e lucros para os grupos da economia dominante. É a exploração
neocolonialista que leva estes países ao estado de desespero em que hoje se
encontram, agravado pela nova ameaça desta ordem de interromper o escasso
progresso que conseguiram nos últimos decênios.
Fala-se muito do
relatório que o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) preparou, por
inspiração do Clube de Roma, à base de trabalhos de computadores. Este relatório
determina limites de crescimento, avaliados levando-se em conta os efeitos
nocivos da civilização tecnológica e industrial, ou seja, propõe a fixação de um
ponto de estabilização da população e da economia mundiais.
Ora, embora
aparentemente o relatório tenha razão - pois a todos nós inquieta a poluição e a
degradação do meio - a realidade é que, considerado, globalmente, toma-se
inaceitável porque suas conclusões estão falseadas por uma metodologia pouco
científica. O relatório considera que o modelo de desenvolvimento que apresenta,
com sua imagem do mundo dentro de um século, é o único válido, o único possível
de ser armado com os dados hoje disponíveis sobre a realidade mundial. Este
exclusivismo, muito característico da cultura etnocentrista dos países
desenvolvidos, demonstra por si só o caráter pouco científico do
relatório.
Todos sabemos que não se pode prever um só tipo de modelo do
futuro. Os que estudam a ciência do porvir, a prospectiva, sabem que não é
possível ater-se a um futuro único, determinado pelas diferentes condições que
reinam no momento de realizar o estudo. O que cabe fazer é imaginar uma série de
futuros prováveis em função do princípio da probabilidade que substituiu já há
tempos o antigo princípio do determinismo, que foi a norma antes da formulação
da teoria da relatividade.
Pode-se pois conceber vários modelos do mundo
de amanhã e, com grande risco de erro, prever quais as probabilidades de cada um
se transformar em realidade. De forma alguma deve-se limitar as previsões a um
só modelo. Quando se fazem projeções lineares, como as do relatório sobre os
limites do crescimento, cai-se inevitavelmente em ingênuas tentativas que não
levam em conta a ruptura de estruturas, normal no processo histórico de nossa
época.
Vivemos uma época de descontinuidade e não de continuidade. O erro
mais grave do relatório do MIT é omitir, entre os fatores que determinam o
crescimento, o problema das estruturas econômicas, sociais e políticas. Na
introdução do relatório, os autores levam em conta apenas cinco fatores de
desenvolvimento: a população, a produção agrícola, os recursos naturais, a
produção industrial e a poluição. Nem uma palavra sobre as estruturas
sócio-econômicas. No entanto, ninguém ignora que o nível de produção e o nível
de poluição, isto é, o desenvolvimento e o meio, dependem essencialmente do tipo
de estruturas em jogo.
Omitindo o homem e sua cultura, o projeto torna-se
alienado porque não leva em conta as realidades do mundo atual e, por
conseguinte, o modelo do mundo de amanhã. Se o Terceiro Mundo, na sua maior
parte, recusa as conclusões deste relatório, é porque desconfia da prescrição
sobre a interrupção do crescimento, interrupção apenas para as regiões pobres,
pois é bem sabido que os países ricos não obedecerão a tal ordem. E o fosso que
separa ambos os mundos se alargará ainda mais. Se isto é verdade, todo o
paternalismo caritativo do Clube de Roma para com o Terceiro Mundo transforma-se
num engodo. Este tipo de medida não ajuda em nada os países do Terceiro Mundo,
mas, pelo contrário, prende-os definitivamente ao subdesenvolvimento e à
miséria.
Conseqüentemente, estes países devem reagir e tentar encontrar
um tipo de desenvolvimento independente do desenvolvimento neocolonial. Para
isso precisarão procurar fórmulas que lhes permitam a aplicação de técnicas
oriundas da prática e que serão as únicas válidas para desenvolvê-los de maneira
racional. E indiscutível que o tipo de desenvolvimento atual é um fracasso, mas
é indiscutível também que se pode chegar a desenvolver o mundo com estruturas
sócio-econômicas e instrumentos de produção diferentes dos que se usam
agora.
E imprescindível retransformar a economia de guerra em que vivemos
numa economia de paz, e utilizar a enorme poupança que resultar do desarmamento
parcial na obtenção de um tipo de desenvolvimento pacífico mais igualitário e
não poluidor.
* Josué de Castro: Médico, escritor, geógrafo. Foi
Presidente do Conselho Executivo da FAO de 1952 a 1956. Este trabalho foi
apresentado no "Colóquio sobre o Meio" durante a Conferência da ONU sobre o
Ambiente Humano, em Estocolmo, em Junho de 1972.
Do ciclo do
Caranguejo
No "mangue" o terreno não é de ninguém. E da maré.
Quando ela enche, se avoluma e se estira, alaga a terra toda, mas quando ela
baixa e se esconde deixa descobertos os calombos mais altos. Num deles, o
caboclo Zé Luis levantou o seu mocambo. As paredes feitas de varas de "mangue" e
de lama amassada. A cobertura de palha, de capim seco e de outros materiais que
o monturo fornece. Tudo de graça, encontrado ali mesmo numa bruta camaradagem
com a Natureza. O "mangue" é um camaradão: dá tudo. Casa e comida: mocambo e
caranguejo.
Agora, quando Zé Luis sai de manhã para o trabalho, já o
resto da família caiu no mundo. Os meninos vão pulando do jirau, abrindo a porta
e caindo no "mangue". Lavam as ramelas dos olhos com a água barrenta, fazem
porcaria e pipi, ali mesmo, depois enterram os braços de lama a dentro para
pegar caranguejos. Com as pernas e os braços atolados na lama, a família Silva
está com a vida garantida. Zé Luis vai para o trabalho conformado, porque deixa
a família dentro da própria comida: atolada na lama fervilhando de caranguejos e
siris.
Os "mangues" do Capibaribe são o paraíso dos caranguejos. Se a
terra foi feita p'ro Homem, com tudo para bem servi-lo, o "mangue" foi feito
especialmente p'ro caranguejo. Tudo aí é, foi, ou está para ser caranguejo,
inclusive a lama e o homem que vive nela. A lama misturada com urina, excremento
e outros resíduos que a maré traz, quando ainda não é caranguejo, vai ser. O
caranguejo nasce nela, vive dela. Cresce comendo lama, engordando com as
porcarias dela, fazendo com a lama a caminha branca de suas patas e a geléia
esverdeada de suas vísceras pegajosas. Por outro lado, o povo daí vive de pegar
caranguejo, chupar-lhe as patas, comer e lamber os seus cascos até que fiquem
limpos como um copo. E com a sua carne feita de lama fazem a carne do seu corpo
e a carne do corpo de seus filhos. São cem mil indivíduos, cem mil cidadãos
feitos de carne de caranguejo. O que o organismo rejeita, volta como detrito,
para a lama do "mangue" para virar caranguejo outra vez. Nesta placidez de
charco, identificada, unificada no Ciclo do Caranguejo, a família Silva vai
vivendo, com a sua "solucionada", como uma das etapas do ciclo maravilhoso. Cada
elemento da família marcha dentro desse ciclo da miséria até o fim, até o dia de
sua morte. Nesse dia os vizinhos piedosos levarão aquela lama que deixou de
viver, dentro dum caixão p'ro cemitério de Santo Amaro, onde ela seguirá as
etapas do verme e da flor. Etapas demasiado poéticas, cheias de uma poesia que o
"mangue" não comportaria. Parte-se aparentemente, nesse dia, o Ciclo do
Caranguejo, mas os parentes e os descendentes do morto derramam caridosos as
suas lágrimas no "mangue", para alimentar a lama que alimenta o Ciclo do
Caranguejo.
(Envolverde/ECO 21)