Trata-se de uma busca que até agora não conduziu a uma estratégia financeira capaz de tornar menos arriscada e incerta a transição do modelo convencional de publicação de informações para o formato digital, na internet.
O pior de tudo é que
crescem os indícios de que a procura da fórmula salvadora ainda vai demorar
muito, ou de que provavelmente ela nunca será encontrada.
O grande
problema das empresas é que a notícia, a sua principal mercadoria de troca com o
leitor, perdeu quase todo o seu valor pelo fato de poder ser encontrada grátis
em milhares de paginas da Web, no fenômeno que se convencionou chamar da
avalancha informativa.
As versões online dos jornais continuam sendo a
principal referência informativa dos internautas, mas a receita publicitária é
ínfima (menos de 10% da receita da versão impressa) e insuficiente para manter a
operação na Web. O ideal seria a versão impressa financiar provisoriamente a
online, só que os jornais estão perdendo fontes tradicionais de receita como os
anúncios classificados, bem como a publicidade de automóveis e construção civil,
com exceção do Brasil.
Aqui, a nossa imprensa vive em plena bolha
financeira provocada pelo boom imobiliário e pelo crédito fácil para a compra de
automóveis. Os donos de jornais estão eufóricos e com isto a transição para o
modelo digital foi desacelerada e a busca da fórmula mágica deixou de ser uma
obsessão como nos Estados Unidos e Europa.
O processo em marcha na
imprensa mundial mostra uma irreversível diminuição da rentabilidade da mídia
convencional, especialmente a impressa, num fenômeno que torna compulsória a
mudança de modelo de negócios.
Por outro lado, cresce a convicção de
especialistas na mídia contemporânea de que a imprensa digital jamais alcançará
a mesma rentabilidade da versão convencional, por conta de uma — também
irreversível — segmentação do mercado, com a formação de nichos
informativos.
O conglomerado europeu de mídia Mecon resolveu apostar na
diversificação. Está criando em média uma página web por semana, tanto no
segmento de redes sociais para públicos específicos como nos cassinos
online.
David Montgomery, o executivo chefe da Mecon, anunciou que a
estratégia agora é aumentar o número de compradores de jornais oferecendo também
desde livros e DVDs grátis até entradas de cinema e sorteios quase
diários.
Ainda na Europa, o tablóide sensacionalista Sun, do império
Murdoch, vai rifar entre seus leitores 2.200 ingressos para a abertura da
temporada lírica em Londres a preços quase 10 vezes menores do que o normal. É
uma manobra para atrair leitores classe A para um jornal famoso por suas
manchetes escabrosas e pelas fotos de mulheres nuas.
Jeff Jarvis,
blogueiro e professor da Escola de Jornalismo da Universidade de Nova York,
defende a tese de que a imprensa está passando de uma "economia do conteúdo para
uma economia do link", ou seja: o valor da notícia não está mais no seu
conteúdo, mas sim na quantidade de vezes que ela é linkada por outras
páginas.
Também a equação econômica na imprensa sofreu uma inversão de
componentes, pois agora a regra é crescer primeiro e depois buscar a
rentabilidade. Antes, o crescimento só acontecia depois de investimentos
iniciais. Na Web atual, a aposta inicial é na criatividade para conquistar
usuários e só depois de tornar-se um sucesso de público é que o empreendimento
obtém recursos financeiros.
Outro grande dilema dos executivos da mídia
convencional é que todos eles foram criados na cultura do "planeje, junte
recursos e faça". Agora, além de esta regra ter sido quebrada, os
empreendimentos que deram certo na Web não foram planejados e só foram buscar
recursos depois de terem crescido. Exemplo disto é o mecanismo de buscas Google.
O site You Tube até hoje não tem um modelo de negócios.
Na busca da
fórmula mágica, uma coisa parece estar ganhando corpo: na mídia tradicional, os
empreendedores desenvolvem um produto e depois o oferecem ao público. Na Web, a
norma parece ser outra: o empreendedor chama o público e o usa para desenvolver
o produto. Com isto ele baixa os custos de desenvolvimento, mas em compensação
corre o risco de perder o controle total do projeto porque os usuários começam a
criar novas utilidades.
Os críticos da fórmula mágica, entre os quais
está Steve Outing, do Poynter Institute, de Saint Petersburg, Florida,
justificam sua posição afirmando que cada jornal terá que procurar no seu
público leitor a receita para a sobrevivência. Isto significa que haverá uma
solução diferente para cada caso, pois nenhum leitor é igual ao
outro.
(Envolverde/Observatório da Imprensa)