Com a inauguração da fábrica de vacinas do Instituto do Butantã país deixará de importar produto
Amanhã, quinta-feira, 26 de abril, o Brasil dá mais um passo em saúde pública. A Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo entrega a fábrica de vacina contra a gripe do Instituto do Butantan, a primeira do gênero em todo hemisfério sul do planeta. A unidade suprirá toda demanda nacional por vacinas contra gripe, oferecidas na Campanha de Vacinação Contra Gripe para o Idoso.
A inauguração contará com a presença do governador José Serra, do secretário de Estado da Saúde de São Paulo, Luiz Roberto Barradas Barata, e do ministro da saúde, José Gomes Temporão, que anunciarão o projeto para produção de dez novas vacinas e cinco imunobiológicos até 2010. Além disso, o órgão também terá outra fábrica de vacina contra gripe aviária, projeto inédito no país.
Com cerca de 10 mil m², a fábrica de vacina contra gripe comum terá capacidade para produzir até 40 milhões de doses por ano. A partir de 2008, o Instituto Butantan poderá distribuir a vacina para todos os estados. Com isso, suprirá completamente a demanda nacional, gerando uma economia de R$ 100 milhões aos cofres públicos.
Atualmente, as 20 milhões de doses utilizadas na imunização gratuita de maiores de 60 anos e outros grupos de risco, são produzidas na França, importadas pelo Ministério da Saúde e envasadas pelo governo paulista.
A produção da Butantan irá permitir, por exemplo, que o Ministério da Saúde amplie a faixa etária de pessoas que participam da campanha de vacinação. “A inauguração dessa fábrica é um marco na história da saúde pública brasileira. Esse é um investimento que irá contribuir para salvar milhares de vidas”, afirma Barradas.
O investimento do governo do Estado na nova fábrica foi de R$ 34 milhões para as obras. O Ministério da Saúde investiu outros R$ 34 milhões para a aquisição de equipamentos de última geração.
Projetada para ser de Biosegurança Nível 3, certificada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a fábrica possui uma das duas ultra-centrífugas em operação na América Latina. A outra também está no Butantan, na unidade de produção de vacina contra a Hepatite B.
A nova fábrica também representa um passo inédito para a indústria nacional, já que grande parte dos equipamentos utilizados, como tanques, reatores e outros produtos específicos em diferentes etapas de produção, foi desenvolvida com mão-de-obra local, gerando conhecimento, inovação e desenvolvimento tecnológico.
Todos os anos a gripe ataca entre 10% e 20% da população mundial, algo em torno de 600 milhões de pessoas. Causada pelo vírus Influenza, a gripe e suas complicações são responsáveis por 250 mil a 500 mil mortes por ano e milhões de internações.
Para monitorar a circulação do vírus da gripe no Estado a Secretaria de Estado da Saúde mantém o Sistema Sentinela da Vigilância da Influenza, que coleta amostras de pacientes com sintomas de gripe em duas unidades na capital: o Hospital Menino Jesus e o hospital da Vila Maria José Estoropolli, além de centros de vigilância nas cidades de Santos, Guarulhos, Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto. O Instituto Adolfo Lutz é o responsável pela tipagem das cepas do vírus circulante no país.
Vacinas
Responsável por 82% da produção nacional de vacinas e 67% dos soros hiper-imunes, São Paulo, através do Instituto Butantan, prepara-se para produzir dez novas vacinas e cinco novos imunobiológicos e hemoderivados (veja relação abaixo) até 2010.
Entre 2003 e 2006 a produção do Butantan foi de 600 milhões de doses de vacinas, ultrapassando em volume as 500 milhões de doses que foram importadas para ser envasadas no país. No mesmo período, o Instituto implantou na sua sede em São Paulo, seis novas plantas de produção, criando tecnologia e empregos. A mudança de perfil é resultado de investimento do governo paulista. Em três anos São Paulo ampliou em 54% os repasses à instituição, sempre de olho no mercado de vacinas e soros, passando de R$ 24,3 milhões em 2003 para R$ 37,4 milhões no ano passado.
O governo do Estado sugeriu, inclusive, que o governo federal montasse a Hemobras (produtora de derivados do sangue) em São Paulo, com a estrutura do Butantan e investimento estadual, mas o Ministério da Saúde preferiu que a fábrica fosse construída em Pernambuco.
No último dia 26 de fevereiro, a diretoria do instituto apresentou a nova cepa do vírus H5N1, desenvolvido pelo CDC (Center of Deseases Control), em Atlanta, nos Estados Unidos. Ela será estudada para possível vacina contra gripe aviária. O Butantan é um dos cinco laboratórios credenciados no mundo para produzir o imunizante. O objetivo é desenvolver uma vacina segura, eficaz e de baixo custo, que possa proteger o Brasil contra uma eventual pandemia (epidemia de proporções globais).
A fabricação de vacina contra gripe aviária em larga escala será possível porque o governo do Estado irá entregar a primeira fábrica de vacinas contra gripe (comum). Uma parte desta fábrica é que será utilizada para o produto contra gripe aviária.
Outro importante avanço será a produção pelo Butantan, a partir de 2009, da nova vacina DTP (difteria-tétano-coqueluche), que será mais segura e com menor número de reações indesejáveis que a vacina tradicional utilizada atualmente no Brasil.
A vacina contra a dengue, com início de produção previsto para o começo de 2010, será outro importante passo do Butantan, que firmou acordo com Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos. O órgão norte-americano conseguiu retirar da seqüência de RNA dos quatro tipos de vírus de dengue 30 nucleotídeos para atenuá-los. Testes em macacos e voluntários já foram realizados. A idéia do Butantan é, em vez de comprar o produto pronto, importar o material genético para produzir uma versão nacional.
Também deverão ser totalmente produzidas pelo Butantan as vacinas BCG-Hepatite B, rotavírus pentavalente, DTP-HepatiteB-HemophilusB, Amarelão, Raiva-Leishmaniose canina e Hepatite B especial (para profissionais de risco maiores de 50 anos e pacientes em diálise, por exemplo).
Entre os imunobiológicos, já está em fase de registro na Anvisa a produção em larga escala do surfactante pulmonar, produzido pelo Butantan em parceria com e o Instituto Sadia de Sustentabilidade. A substância é usada em crianças recém-nascidas que apresentam Síndrome do Desconforto Pulmonar. A capacidade será de 200 mil doses por ano.
A produção do surfactante pulmonar acontece a partir de uma tecnologia de extração do surfactante, desenvolvida pelo Butantan. Em vez de enviar os pulmões de suínos ao Instituto, como vinha fazendo até agora, a Sadia fará a separação da substância. O processo de produção do biofarma está dividido em três etapas: extração do surfactante, purificação e liofilização.
Base avançada na Amazônia
O Instituto Butantan está instalando uma base avançada em plena região amazônica. O terreno onde será instalado o projeto tem 640 mil metros quadrados e fica localizado em Belterra, a cerca de 40 km de Santarém, no Pará.
Com investimento estimado de R$ 9 milhões, a base do Butantan terá como objetivo pesquisar a biodiversidade local, realizar estudos de bioprospecção, formar recursos humanos na região e desenvolver atividades culturais, com amplo envolvimento da comunidade local. A iniciativa também irá contribuir para a pesquisa de novas vacinas e soros no país.
Para a implantação do projeto o governo do Estado do Pará está cedendo terreno ao Instituto Butantan, que oferecerá, como contrapartida, sua infra-estrutura de laboratórios de pesquisa em São Paulo, cursos de pós-graduação em biotecnologia e biodiversidade aos estudantes paraenses e remuneração aos pesquisadores envolvidos.
Para São Paulo a base em plena Amazônia trará vantagens como a captação de animais da região de maior biodiversidade do mundo, especialmente para estudo e produção de soros e vacinas. A base terá local para alojamento dos profissionais do Butantan, biotério (para coleta e manutenção dos animais) e laboratório de pesquisa. O Pará tem objetivo de capacitar seus técnicos e profissionais médicos, que serão treinados por técnicos do Butantan e do Hospital Vital Brasil, ambos referências nacionais no tratamento de pacientes vítimas de animais peçonhentos. A região do Pará é a que tem mais acidentes com animais peçonhentos do Brasil e os quatro principais grupos de cobras peçonhentas: surucucu, coral verdadeira, jararaca e cascavel.