"O espaço universitário não deve ser visto como um local de passagem, mas sim como um centro de cultura e conhecimento. A faculdade não deve ser um lugar onde são lecionadas apenas aulas específicas do currículo, mas onde aconteçam exposições, atividades culturais e acadêmicas que enriqueçam a bagagem cultural da comunidade".
A constatação é do professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Luiz Eduardo Wanderley, que critica o modelo universitário adotado no Brasil. "As universidades estão formando de forma cada vez mais técnica e para profissões cada vez mais fragmentadas", diz.
O pesquisador defende a inserção de elementos da
cultura popular na universidade, integrando esses elementos à ciência, uma
proposta próxima às teorias de Paulo Freire. "Dessa forma, a universidade
poderia ser um espaço não só para os membros da comunidade acadêmica, mas para
toda a comunidade", diz, defendendo que a universidade também pode ser um campo
para formação pessoal e profissional de outros tipos de
trabalhadores.
Além disso, o palestrante defende a criação de cursos de
educação a distância, que possam alcançar populações cujos cursos presencias não
chegam. "Mas devem ser cursos sérios, com proposta pedagógica adequada, cujo
objetivo seja incluir a população de regiões mais afastadas e não dar formação
de má qualidade", explica.
Entretanto, Wanderley afirma que esse modelo
de universidade aberta à comunidade não condiz com o atual modelo de ensino
superior, que sugere a proliferação das universidades particulares, com cursos
rápidos, nas quais apenas o fornecimento de diplomas é visto como
objetivo.
"Esse modelo, entretanto, é o que vem pautando os interesses
privados e governamentais", diz. "Para se ter idéia, participei de um conselho
de aprovação da abertura de universidades na década de 1990, e entre 60
instituições, esse comitê aprovou apenas quatro. Trocaram o comitê e as outras
instituições foram aprovadas", conta. "Agora, o governo paga para que alunos de
baixa renda estudem nesse tipo de universidade", lembra do Programa Universidade
para Todos (ProUni) do governo federal.
Segundo ele, mesmo a universidade
pública atualmente não é pública de verdade, pois para uma instituição ser
pública ela deve ser transparente, ter visibilidade e controle social – e as
universidades públicas do país não funcionam assim.
"Se a instituição não
possuir uma gestão minimamente democrática, ela não é pública", finaliza.
(Envolverde/Aprendiz)