Trabalhadores preparam a greve geral

As greves e paralisações de trabalhadores seguem se estendendo por todo o país. Movimentos que haviam sofrido um relativo resfriamento por promessas, principalmente da gerência federal, retomaram vigor com a impossibilidade de realização de acordo. Merece destaque a greve da Companhia Siderúrgica Paulista — Cosipa, onde confronto entre operários, policiais e grupo paramilitar da empresa deixou cinco presos e 21 feridos. Operários denunciam clima de terror na empresa.

 

Momentos da greve na Cosipa , onde 6 mil operários cruzaram os braços em agosto

Empenhado em assegurar que a rapina imperialista se aprofunde sobre a nação, a gerência FMI-PT apresentou no início do ano o projeto de lei complementar 01/2007, que altera a Lei de Responsabilidade Fiscal, estabelecendo que durante dez anos, a partir de 2007, o volume de despesas da União com pessoal poderá crescer, no máximo, 1,5% ao ano além da inflação medida pelo IPCA. Isto inclui tanto reajustes salariais como eventuais contratações por concurso público, o que significa que os reajustes salariais do funcionalismo federal ficarão praticamente inviabilizados por força de lei.

Servidores de vários setores da administração federal incluíram em suas pautas de reivindicações a retirada do projeto de lei do Congresso, onde tramita junto com outra série de medidas relativas ao mal parado Plano de Aceleração do Crescimento. A idéia é retirar dinheiro do orçamento para pagamento de pessoal e desviá-lo para a realização das obras de infra-estrutura prometidas pelo plano.

Batalha na Cosipa

Em 3 de agosto, cerca de seis mil operários da Cosipa — Companhia Siderúrgica Paulista, desnacionalizada em 1993— , fizeram uma grande paralisação em protesto contra duas mortes "acidentais" ocorridas em julho na área da empresa. Desde a venda da empresa, 39 operários já foram assassinados. As longas jornadas em precárias condições de segurança são apontadas como causas desses "acidentes". Enquanto os operários morrem na siderúrgica, a empresa anunciou um lucro líquido de 1 bilhão e 400 milhões de reais apenas no primeiro trimestre, o que demonstra que a única segurança em jogo é a do lucro máximo, não a dos operários.

Antes, em junho, durante uma assembléia dos operários, a Cosipa infiltrou vários provocadores para delatar e intimidar os trabalhadores. Após breve tumulto, foi decidido que o voto seria secreto e o estado de greve foi aprovado.

A empresa ainda tentou evitar a paralisação entrando com ações na justiça, indeferidas pelos juizes. Não conseguindo evitar a greve por meio do judiciário, a diretoria da Cosipa recorreu aos métodos terroristas, o que guardou grande semelhança com a repressão na Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, em 1989, quando trabalhadores foram assassinados.

Na manhã do dia três de agosto os operários bloquearam a rodovia Cônego Domenico Rangoni, acesso à cidade de Cubatão, São Paulo, e tiveram que enfrentar, além da Tropa de Choque da Polícia Militar, um grupo paramilitar que diz fazer a segurança da empresa. Cinco operários e dirigentes do sindicato dos metalúrgicos de Santos foram agredidos e presos, outros 21 ficaram feridos pelas bombas e balas de borracha. A mesma repressão ocorreu nas trocas de turno.

No sábado, dia 4, os policiais impediram os operários de descer dos ônibus para participar da assembléia que decidia os rumos do movimento, realizada na entrada da empresa. Na segunda-feira, dia 6, a Cosipa, junto com a polícia, armou uma emboscada para os operários em greve, apagando as luzes da estrada que leva à empresa. Quando os operários começaram a descer dos veículos foram novamente atacados com bombas e "balas de borracha". Há relatos de que uma grande campanha de delação e intimidação foi desencadeada na Cosipa.

Aços Villares em setembro

Cerca de 2 mil operários da metalúrgica Aços Villares entraram em greve na manhã de 3 de setembro. Caminhões foram impedidos de entrar na empresa para transportar as mercadorias. O que seria uma manifestação em todas as metalúrgicas do Vale do Paraíba, acabou se transformando em greve na Villares porque a negociação do reajuste salarial estava emperrada. Enquanto os operários reivindicavam 10% de reajuste, a empresa oferecia 5%. Depois de três dias de paralisação, as pressões elevaram o reajuste para 7%.

Universidades federais

Os funcionários técnico-administrativos das universidades federais voltaram ao trabalho depois de mais de três meses de uma greve considerada vitoriosa. Embora não tenham conseguido que o governo aceitasse todas as reivindicações, as tensas negociações conduziram a um acordo com reajuste previsto que varia de 17% a 30%, dependendo da classe, em 2008.

Os reajustes estão previstos também para 2009 e 2010, e chegam a 89%.

Governo reincidente

Os servidores do Ministério da Cultura retomaram em 22 de agosto a greve suspensa em 30 de julho. Na ocasião, os servidores suspenderam a paralisação para aguardar a prometida proposta que seria feita pelo Ministério do Planejamento. Seguindo a tendência de oferecer reajustes parcelados e a perder de vista, o ministro Paulo Bernardo propôs um plano de reajustes até 2010, quando seriam atendidas as reivindicações salariais ainda do movimento de 2005, o que foi considerado um acinte pelos servidores.

Incra parado novamente

Os servidores do Incra retomaram em 10 de setembro a greve iniciada em maio e suspensa em 2 de agosto. Reunidos em assembléias nas unidades do Incra espalhadas pelo País, os servidores decidiram retomar a paralisação. Além de reajuste, eles reivindicam a reestruturação do plano de cargos e salários, a contratação de funcionários e a retirada do projeto de lei que limita por dez anos os reajustes dos servidores. A proposta feita pelo Ministério do Planejamento durante a suspensão da greve não foi aceita pelos servidores.

Professores enfrentam Cabral

Após os mega investimentos que as esferas federal, estadual e municipal fizeram para bancar os Jogos Panamericanos, o gerente estadual para empreiteiras, Sérgio Cabral, entrou para a história ao fazer uma proposta, no mínimo, ridícula aos trabalhadores da educação, saúde e "segurança pública" do estado do Rio de Janeiro.

A proposta era um aumento de 25% divididos em 24 parcelas mensais, o que integralizaria o reajuste apenas em agosto de 2009. Some-se a isso o fato de os servidores estaduais não saberem o que é reajuste há dez anos — algumas categorias há doze anos.

Outro prejuízo, também um objetivo de Cabral, é engessar as demandas salariais do funcionalismo por dois anos, caso houvesse a aceitação da proposta. Mas não houve. As categorias declararam greve logo no dia seguinte à divulgação da proposta, em 14 de agosto. A resposta de Cabral veio a galope: ao invés de aceitar negociar com os sindicatos, ordenou o corte de ponto dos grevistas a partir do segundo dia de paralisação.

Os profissionais da educação, no entanto, foram os que demonstraram maior disposição na greve, conseguindo uma paralisação de 60% das escolas, angariando grande simpatia por parte dos alunos e pais. O piso salarial de um professor no Rio de Janeiro é de R$ 430,00, um dos mais baixos do Brasil. O pessoal de apoio das escolas recebe nominalmente menos que um salário mínimo, tendo o estado feito uma complementação para que alcance R$ 500,00. Há ainda uma gratificação apelidada de Nova Escola que não é recebida por mais de oito mil profissionais.

Grandes manifestações foram realizadas quase diariamente em frente ao Palácio Guanabara e diante da Assembléia Legislativa. Nessas ocasiões, Cabral se recusou a receber comissões dos grevistas.

Uma das principais reivindicações da categoria é a incorporação do Nova Escola ao salário prometida por Sérgio Cabral quando se esforçava para fazer cara de bom moço na campanha.

A mobilização conseguiu impedir que a Assembléia Legislativa do estado aprovasse o aumento proposto. Em compensação, uma nova mensagem do governador, concedendo apenas 4% de aumento foi aprovada pelos deputados para ser aplicado ainda em setembro. A proposta também não foi aceita e os profissionais continuam em estado de greve, embora tenham suspendido a paralisação.

Espírito Santo

Em greve desde o dia três de setembro, os professores do Espírito Santo voltaram ao trabalho em 12 de setembro, conforme decisão da assembléia realizada no dia anterior.

No mesmo dia da deflagração do movimento, numa demonstração que a "justiça" sabe ser rápida quando quer, o juiz Rodrigo Cardoso Freitas, da 2ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública Estadual de Vitória, declarou a greve ilegal, atendendo à ação ajuizada pela Procuradoria Geral do Estado. A punição ao sindicato caso não obedecesse a ordem judicial seria uma multa de R$ 100 mil diários. Mesmo assim, o movimento — que envolveu 45% dos profissionais, segundo o sindicato — se estendeu até o dia 11, quando se realizou a assembléia.

Entre as reivindicações dos professores está a eleição de diretores de forma mais direta (hoje são indicados pelo governo), reajuste de 32% relativo à perdas salariais e realização de concurso público.

Alagoas

Há mais de 40 dias em greve, a Polícia civil de Alagoas reivindica a equiparação salarial com os peritos criminais. O governo estadual não aceita a reivindicação com o argumento de não haver recursos para o reajuste. A proposta do estado é de reajuste de 5%.

No dia 7 de setembro, durante o desfile na capital, Maceió, uma manifestação ocupou a avenida e provocou tumulto com os militares. O governador Teotônio Vilela Filho ordenou a interrupção do desfile e se retirou do local com seus seguranças.

Por sua vez, os peritos criminais também realizaram paralisação no dia 3 de setembro reivindicando do estado melhores condições de trabalho, uma vez que, segundo eles, chegam a comprar materiais com recursos próprios para exercer a função.

Médicos do Piauí

Os médicos do Piauí iniciaram o que chamam de "operação tartaruga" nos hospitais e clínicas do estado. Ainda segundo a decisão da assembléia da categoria, a partir do dia 8 de outubro os profissionais deixarão de atender pacientes encaminhados pelo Instituto de Assistência e Previdência do Piauí — Iapep, que não repassa aos médicos os valores das consultas há mais de 120 dias.

Os funcionários da Saúde de Alagoas também se encontram em greve desde o dia 19 de agosto. A reivindicação é de um reajuste salarial de 80% para recomposição de perdas e revisão do plano de cargos e carreiras.

A greve dos médicos e pessoal da saúde nos estados do Nordeste se espalhou muito rapidamente, em agosto, a partir de Alagoas. Os movimentos reivindicavam apenas reajuste salarial (recebem R$ 700 em Alagoas) e melhores condições de trabalho, uma vez que são obrigados a trabalhar em unidades sem a mínima condição de atendimento ao público.

O monopólio dos meios de comunicação não tardou a jogar sobre as costas dos médicos em greve a responsabilidade por algumas mortes de pacientes ocorridas no período, usando esses fatos para atacar o direito de greve e manifestação dos trabalhadores e reforçando a ofensiva da gerência federal contra os direitos do povo. Como se os trabalhadores em serviços essenciais só tivessem deveres e não direitos...

E por último...

Os funcionários da Empresa de Correios e Telégrafos paralisaram o processamento e entrega de cartas em quase todo território nacional. A estimativa da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares é de que a greve atingiu 23 estados e paralisou 90% das atividades dos correios.

Os trabalhadores reivindicam 47,7% de reajuste como reposição de perdas, mais R$ 200 de aumento linear para todos os funcionários. Mas a empresa oferece míseros 3,74%, e R$ 50 de aumento linear.

Represálias no metrô de São Paulo

Após a heróica greve de dois dias feita pelos metroviários da cidade de São Paulo, a diretoria do Metrô anunciou a demissão de 61 servidores (alguns com mais de 20 anos de trabalho) que participaram da greve, num flagrante ato de perseguição política. Segundo o metrô, os funcionários tinham apresentado desempenho abaixo da média e que a demissão logo após a greve foi uma "coincidência".

O precedente já havia sido verificado na paralisação anterior da categoria, quando o governo do estado ordenou a demissão de outros cinco funcionários.

A paralisação foi decidida numa assembléia em que o sindicato tentava adiar a greve. Tanto a direção do sindicato (Pecedobe e PT) e a "oposição" (Conlutas, PSTU) traíram os metroviários, chamando os trabalhadores a voltarem ao trabalho, temendo a explosividade do movimento e as ameaças de José Serra.

O fato é que enquanto a gerência Luiz Inácio tenta restringir o direito de greve através do Congresso, a gerência estadual de José Serra já faz isso via decretos e outras pressões, com a cumplicidade do sindicato e da "oposição" oportunistas.

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